quinta-feira, 5 de agosto de 2010

Ronaldo Brito na Feira Literária de Paraty




Não é a primeira vez de Ronaldo Correia de Brito (1950, Saboeiro, Brasil) na Flip. O autor, que esteve na Festa em 2006, constrói sua obra a partir do cruzamento do imaginário sertanejo e da cultura popular nordestina com a modernidade. Foi nesse contexto que desenvolveu seu último romance, Galileia, título vencedor do Prêmio São Paulo de Literatura em 2009. Médico de formação, o cearense já publicou : As noites e os dias (1996), Faca (2003), Pavão misterioso (2004) e Livro dos homens (2005). Por Pavão misterioso, escrito com Assis Lima, ganhou o Prêmio Zilka Salaberry 2007 de teatro infantil.
Ronaldo Correia de Brito vem de uma família de contadores de histórias. E uma das histórias mais contadas era a história da morte de seu avô. “Eu cresci ouvindo essa história; tinha dia que eu ouvia minha avó contar três vezes a história da morte do meu avô! Até a hora que eu mesmo resolvi escrever e contar a história da morte de meu avô – virou o conto ‘Da morte de Francisco Vieira’ no Livro dos Homens – Cosac Naify - Os familiares ficaram todos revoltados. Disseram que eu havia mudado a história do meu avô!”.
Foi com essa delíciosa história que Ronaldo Correia de Brito abriu a primeira mesa do Festival da Mantiqueira junto com outro vencedor do Prêmio SP de literatura 2009, Altair Martins e o compositor e escritor Arnaldo Antunes, convocado para mediar o diálogo. Para ele, todos os narradores são grandes mentirosos! “Eu sempre escutei como eu desejava ouvir. Escrever é trabalhar com a memória inventada, jamais com a história.” O escritor tem de ser capaz de transformar, explica Ronaldo que assim começa respondendo à pergunta sobre processo de criação, para acrescentar que leu muito na infância e adolescência. Fala especificamente de duas obras: Ilíada e Odisseia, de Homero, para arrebatar de vez a platéia com outra história. ” Os livros que eu lia eram cheios de buracos de traças, mas eu não me importava, lia-os assim mesmo, eles tinham cada vez mais buracos e eu ficava imaginando o pedaço da história que faltava “. O leitor completa a narrativa, e certamente o escritor Ronaldo Correia de Brito agradece às traças que ajudaram a alimentar sua imaginação. Ano passado, esse médico, cearense de nascimento, pernambucano de coração que já havia publicado anteriormente, recebeu o Prêmio Sâo Paulo de Literatura, com seu romance Galiléia. Ele abriu o III Festival da Mantiqueira lendo um trecho para a plateia, bem ao estilo da Flip.
De fato, é o melhor jeito de conquistar leitores: ouvir o autor ler seu texto, com seu sotaque, suas paradas para respirar, seus pontos de exclamação.


A região é bem servida de pousadas e todas as cidadezinhas próximas são encantadoras: Santo Antonio do Pinhal, Monteiro Lobato, mas talvez a mais charmosa da Mantiqueira seja São Francisco Xavier, a 91 km da capital paulista, perto de São José dos Campos. Há três anos ela sedia um encontro literário que traz os grandes autores nacionais para o interior do estado. Na praça central, uma tenda abriga as mesas do Festival, abertas ao público, em geral. Numa outra, os escritores conversam com os estudantes da região, após a leitura do livro deles. Esse ano vieram Walcyr Carrasco, Marina Colasanti, Spacca, entre outros. Carpinejar deu oficinas de prosa poética. Chacal declamou seus poema, Ferreira Gullar contou que prepara um livro de poemas, o primeiro em anos. ” Se você não se inventa, você não existe! ” bradou o escritor diante de Cadão Volpato, editor de Cultura do IG, que atuava como mediador. A mesa seguinte, não menos interessante, falava sobre o tema Desejo… Coube ao português Agualusa e ao diplomata e escritor João Almino debate-lo com a jovem Carola Saavedra. Os autores estão lá para falar de suas obras, dialogar com o público, autografar livros e tudo mais. O Festival é o ponta pé inícial de uma Viagem Literária que os leva para outras cidades para bate-papos em bibliotecas. E como é bom chegar perto dos autores, poder prosear com eles!
Ronaldo Correia de Brito estará na
FLIP 2010, em Paraty, na mesa Fábulas contemporâneas com Beatriz Bracher e Reinaldo Moraes com mediação de Cristiane Costa.

Um comentário:

  1. O Ronaldo também incursou pelas artes cinematográficas e fez, em super-8, o Lua Cambará (anos 70),um longa ficcional muito atrevido para aqueles tempos idos. Conversar com Ronaldo é bom pelo tempero humorístico que dá às resenhas.

    ResponderExcluir