Sinceramente não conheço outro modo de pluralizar visões de mundo que não seja expondo-as. É pela exposição que ganhamos elementos. Ao se excluir, ao não aceitar a comparação das idéias, atua-se para o empobrecimento das mesmas e para hegemonia de outras. Principalmente atua-se para a redução da dimensão das próprias idéias que passam a correr o risco de um diálogo com o espelho. Um diálogo narcísico.
Ontem mesmo a psicanalista Maria Rita Kehl foi demitida do Jornal Estado de São Paulo, por delito de opinião: havia desqualificado aqueles que desqualificam o voto dos pobres. Ao mesmo tempo que o jornal assume em editorial o apoio ao Serra, pratica isso e deixa a própria campanha compuscada com tal ato. Isso apenas serve aos adversários, mas demonstra um vezo autoritário e censurador. Isso é o que não podemos permitir num espaço coletivo.
Não é por coincidência que no mesmo jornal um outro jornalista consegue falar em pluralidade, pois qualquer jornal sabe que não pode ir ao fundo do poço por causa de alguns diretores. Eugenio Bucci, jornalista e professor, num ótimo artigo no jornal diz: "A imprensa tem sido capaz de esclarecer os pontos que interessam no debate eleitoral? Ela investiga, escuta, apura e checa as propostas de cada candidato com independência e honestidade? Ela compara? Ela ajuda o eleitor a comparar? Ela está a serviço de que o cidadão forme livremente o seu ponto de vista ou se move apenas com o propósito de doutriná-lo a favor de um ou outro lado? Quando assumem uma posição, as publicações deixam claras as razões que as levaram a isso? Ou apenas disfarçam de informação objetiva as suas opiniões subjetivas? Lendo o noticiário, os artigos de opinião e os editoriais, o cidadão percebe que há boa-fé ou pressente agendas ocultas, não declaradas, que o deixam inseguro e desconfortável?
O diagnóstico da qualidade editorial de cada órgão de imprensa depende, entre outras, das respostas que se seguem a cada uma dessas interrogações. E aqui chegamos ao ponto. Essas respostas serão mais (ou menos) positivas quanto mais (ou menos) cada redação cultivar o valor do pluralismo."
A frase mais que famosa de Voltaire - "não concordo com uma palavra do que dizes, mas defenderei até a morte o teu direito de dizê-las" - vem agora em nosso socorro. Não que haja necessidade, aqui, de uma fala trágica, retumbante. Só precisamos de serenidade. Se me for permitida uma breve confidência, estritamente pessoal, digo que nunca fui chamado a sacrificar heroicamente a vida em prol da liberdade de alguém com quem eu não concordasse. Tive apenas de sacrificar um ou dois empregos, que nem eram grande coisa. Outros jornalistas, melhores do que eu, sacrificaram mais. É da regra do jogo. É e será.
Agora uma coisa acho ponderável: não quero discutir minha cirurgia de hérnia, até por que já cicatrizou e por mais banal que seja, não quero repetir a dose.
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