terça-feira, 19 de outubro de 2010

Um exemplo de mãe - Emerson Monteiro

Vemo-nos, em determinados momentos, sob a condição inevitável de testemunhar nos gestos das outras pessoas o que significam as virtudes sonhadas que muitos reclamam uns dos outros, para uma melhor classificação dos padrões humanos da excelência. Há como que disposição comum de exigir e nivelar por baixo os comportamentos, espécie de pessimismo crônico em face das dificuldades naturais do dia-a-dia. Seriam as justificativas da acomodação, se pode até mesmo dizer. Ainda assim, casos raros de extrema qualidade, no entanto, persistirão acontecendo, mundo afora.
Eu conhecera Mirtes Cordeiro durante visita que lhe fiz em campanha política de alguns anos atrás. Amiga de Luiziane, uma das minhas irmãs, ela me recebeu com alegria nas dependências do salão de beleza de sua propriedade, no Conjunto Novo Crato. Desde logo, com ela e seu esposo, Vilemar, mantive boa amizade. Um casal preocupado sobretudo com o destino de um filho que estudava em São Luiz, no Maranhão. Noutras ocasiões em que voltei a lhes encontrar, vi que a educação do filho sempre predominava entre os assuntos de interesse.
Sei bem que Mirtes transformara o sucesso do filho no sonho principal da família, em tudo por tudo. Esforçados nas lides cratenses, os pais acompanhavam à distância o encaminhamento do jovem, que escolhera a odontologia para graduação acadêmica. De Crato, Mirtes seguia e mantinha os tais estudos graças ao empenho de todos da família, o que mais adiante produziria resultados meritórios.
Na derradeira vez em que nos vimos, rápidos instantes no centro de Crato, Mirtes relatou seus planos de mudança para a capital maranhense, narrando o quanto custara de trabalho e preocupação a feliz educação do filho, incluindo o planejamento da mudança para mais perto dele, pois pretendia auxiliá-lo no início da profissão seguindo o caminho que abraçara.
E agora (18 de outubro de 2010) recebo a notícia de que, viajando para São Luiz, numa rodovia do Piauí, Mirtes Cordeiro sofreu acidente automobilístico fatal.
Nessa hora passou-me nas trilhas da lembrança o carinho de Mirtes para com o filho, a disposição constante querendo reunir os meios de mantê-lo estudando fora, as cartas que dirigiu às autoridades encarecendo recursos para a iniciativa, o que, sem qualquer dúvida, significou ponto de honra de uma vida inteira.
Sentimento forte de admiração e nostalgia evidenciou-se na figura daquela mãe afetuosa, recordando quando escutava a respeito dos seus cuidados e projetos que estabeleceram a nova história do filho, qual se outra meta não houvesse além disso para justificar os dias que lhe restavam antes de deixar este chão.
Com isso, aqui registro em um breve comentário o que presenciei desta personalidade simples que desaparece num piscar de olhos, anônima entre tantos que transmutam no amor aos filhos a razão maior do existir, pela magnânima vontade humana das suas realizações pessoais.

Um comentário:

  1. Ai, Emerson, nem fale...soube dessa notícia hj de manhã na universidade. Além de mãe dedicada, o que mais gostava nela era sua boa energia e alegria de viver...estou triste sim !

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