João Bolinha era um personagem travesso da revista Sesinho (dedicada ao público infantil pelo SESI). Não era muito diferente do que é Zé Bolinha, igualmente travesso. O que tinha de diferença soma-se pelos acréscimos do Zé. Este com tendência à cara azeda, um tanto macambúzio e com a síndrome do mérito – só ele merece.
As semelhanças são muitas. O João e o Zé são uma juntada de bolinhas ligadas umas às outras por fios. As bolinhas são independentes, apenas se movem por ação do fio que as liga. Por isso mesmo o único movimento coerente dos dois é quando alguém puxa os cordões. Isso não impede que manifestem suas almas de pivete (menino esperto).
A Sesinho era muito querida da geração que hoje passeia entre os 60 e 70 anos. E era uma revista que adotava os quadrinhos. Que eram vistos pelos olhares severos dos adultos letrados como um caminho para a preguiça intelectual. Mas aí Conceição Romão tinha uma livraria, precisava devolver as não vendidas e as editoras queriam apenas as capas, economia de transporte. As horas noturnas de então viram minhas pupilas de olhar sobre elas.
O Sesinho era, também, o nome do personagem principal da revista. Era um menino que respeitava os outros, assim como esses criados por avó. Arrumadinho, limpinho e com a postura de uma soprano no mais extenso de uma ária. Por isso mesmo que existiam os meninos em contraponto a Sesinho na sua turma: Bocão, Nina, Ruivo, João Bolinha e outros.
O Zé Bolinha, um personagem do vasto do Brasil, é notívago e por isso não gosta muito de turma. Também é duro agüentar o Zé. Se joga futebol quer ser o dono da bola. Gosta de provocar os outros, mas quando leva uma espanada, sai correndo para casa chorando, querendo que a mãe olhe dentro dele para examinar o quanto seu orgulho foi ferido.
As revistas em quadrinho são uma invenção, um modo de se movimentar, de inventar personagens e enredos inseparáveis da cultura americana. Falar em nacionalismo neste ramo é quase uma globalização. Os americanos chamavam os quadrinhos de “comics” e sua era de ouro aconteceu entre 1938 e os anos 50. Neste auge nasceram os super-heróis. Até hoje rendem filmes em série a Hollywood.
Zé Bolinha, diferente de João Bolinha que frequentava apenas a turma de Sesinho, deu para se acompanhar de uns personagens “sinistros”. De cara amarrada, com um palavrório de chumbo, idéias de deixar a idade média vermelha de vergonha e tão radical que nem as bulas papais podem tanto.
Pois personagens idênticos aos amigos de Zé Bolinha que acabaram o ouro da era dos quadrinhos. Os acadêmicos ligados à Psicologia e área de comportamento, nos anos 50, abriram as baterias contra o ouro da era e foi criado o Código de Ética dos Quadrinhos, levando à queda no número de leitores.
A turma do Zé Bolinha, com uma longa ficha corrida de censura, pauladas em quem pensa diferente e age do modo não convencional pela convenção deles mesmo, fazem uma cruzada pela liberdade de expressão. Na verdade com uma flor na mão e um porrete na outra. Precisam “limpar” a área para criarem o código de censura do pós-moderno, aquele mesmo do “fim-da-história”.
Se o ouro era americano, não menos importante foi para a nossa inseminação a fabulosa história em quadrinho francesa e, agora, os japoneses nadam de braçada no pedaço. O Brasil abriu alas no ramo através do Tico-Tico no inicio do século XX, imitando uma revista francesa. Lançada numa quarta feira, dia 11 de outubro de 1905, a revista seguia o modelo da revista francesa “La Semaine de Suzette”.
O Zé Bolinha deve ter lido O Tico Tico. Ele é cisne do canto derradeiro, daqueles idos que já queimou muitos anos. A revista passou mais de vinte anos com o mesmo preço. Não existia a moda da inflação. Mas esta tal de inflação é o bicho que rói o sólido das instituições. Assim como as bolinhas provocam uma inflação de ética.
Um dos gênios do desenho da revista foi o cearense, de Fortaleza, Luis Sá que desenhava figuras arredondadas e que se tornaram o “must” dela. São dele: “Réco-Réco”, “Azeitona” e “Bolão’. Ela não teve rival à altura até a década de 30 quando os quadrinhos americanos invadiram a América Latina.
Zé Bolinha deve ter sido aficionado dos Gibis. Que virou um genérico dos quadrinhos, que o Zé, como meizinha, quis patentear como dele, na maior, apagando o nome do verdadeiro pai dos genéricos. Na verdade era uma revista com este nome e do particular virou o geral. Desta época tem a história da Editora Ebal, de Adolfo Aizen. Esta deu muitas alegrias à molecada do tempo de então.
Mas assim como o samba fez a antropofagia da invasão jazzística dos anos 40, o quadrinho brasileiro também tem sua bossa nova. As nossas tiras nos jornais, no estilo charge, são desenvolturas aqui deste povo. E isso não começa no século XX, já vem do XIX com o trabalho pioneiro de Angelo Agostini.
Igualmente é preciso fazer com Zé Bolinha e sua turma. Fazer a antropofagia desta variedade e torná-la mais viva na nossa alma como elemento que cria uma outra linguagem. Nem a de apenas uns ou somente outros.
As semelhanças são muitas. O João e o Zé são uma juntada de bolinhas ligadas umas às outras por fios. As bolinhas são independentes, apenas se movem por ação do fio que as liga. Por isso mesmo o único movimento coerente dos dois é quando alguém puxa os cordões. Isso não impede que manifestem suas almas de pivete (menino esperto).
A Sesinho era muito querida da geração que hoje passeia entre os 60 e 70 anos. E era uma revista que adotava os quadrinhos. Que eram vistos pelos olhares severos dos adultos letrados como um caminho para a preguiça intelectual. Mas aí Conceição Romão tinha uma livraria, precisava devolver as não vendidas e as editoras queriam apenas as capas, economia de transporte. As horas noturnas de então viram minhas pupilas de olhar sobre elas.
O Sesinho era, também, o nome do personagem principal da revista. Era um menino que respeitava os outros, assim como esses criados por avó. Arrumadinho, limpinho e com a postura de uma soprano no mais extenso de uma ária. Por isso mesmo que existiam os meninos em contraponto a Sesinho na sua turma: Bocão, Nina, Ruivo, João Bolinha e outros.
O Zé Bolinha, um personagem do vasto do Brasil, é notívago e por isso não gosta muito de turma. Também é duro agüentar o Zé. Se joga futebol quer ser o dono da bola. Gosta de provocar os outros, mas quando leva uma espanada, sai correndo para casa chorando, querendo que a mãe olhe dentro dele para examinar o quanto seu orgulho foi ferido.
As revistas em quadrinho são uma invenção, um modo de se movimentar, de inventar personagens e enredos inseparáveis da cultura americana. Falar em nacionalismo neste ramo é quase uma globalização. Os americanos chamavam os quadrinhos de “comics” e sua era de ouro aconteceu entre 1938 e os anos 50. Neste auge nasceram os super-heróis. Até hoje rendem filmes em série a Hollywood.
Zé Bolinha, diferente de João Bolinha que frequentava apenas a turma de Sesinho, deu para se acompanhar de uns personagens “sinistros”. De cara amarrada, com um palavrório de chumbo, idéias de deixar a idade média vermelha de vergonha e tão radical que nem as bulas papais podem tanto.
Pois personagens idênticos aos amigos de Zé Bolinha que acabaram o ouro da era dos quadrinhos. Os acadêmicos ligados à Psicologia e área de comportamento, nos anos 50, abriram as baterias contra o ouro da era e foi criado o Código de Ética dos Quadrinhos, levando à queda no número de leitores.
A turma do Zé Bolinha, com uma longa ficha corrida de censura, pauladas em quem pensa diferente e age do modo não convencional pela convenção deles mesmo, fazem uma cruzada pela liberdade de expressão. Na verdade com uma flor na mão e um porrete na outra. Precisam “limpar” a área para criarem o código de censura do pós-moderno, aquele mesmo do “fim-da-história”.
Se o ouro era americano, não menos importante foi para a nossa inseminação a fabulosa história em quadrinho francesa e, agora, os japoneses nadam de braçada no pedaço. O Brasil abriu alas no ramo através do Tico-Tico no inicio do século XX, imitando uma revista francesa. Lançada numa quarta feira, dia 11 de outubro de 1905, a revista seguia o modelo da revista francesa “La Semaine de Suzette”.
O Zé Bolinha deve ter lido O Tico Tico. Ele é cisne do canto derradeiro, daqueles idos que já queimou muitos anos. A revista passou mais de vinte anos com o mesmo preço. Não existia a moda da inflação. Mas esta tal de inflação é o bicho que rói o sólido das instituições. Assim como as bolinhas provocam uma inflação de ética.
Um dos gênios do desenho da revista foi o cearense, de Fortaleza, Luis Sá que desenhava figuras arredondadas e que se tornaram o “must” dela. São dele: “Réco-Réco”, “Azeitona” e “Bolão’. Ela não teve rival à altura até a década de 30 quando os quadrinhos americanos invadiram a América Latina.
Zé Bolinha deve ter sido aficionado dos Gibis. Que virou um genérico dos quadrinhos, que o Zé, como meizinha, quis patentear como dele, na maior, apagando o nome do verdadeiro pai dos genéricos. Na verdade era uma revista com este nome e do particular virou o geral. Desta época tem a história da Editora Ebal, de Adolfo Aizen. Esta deu muitas alegrias à molecada do tempo de então.
Mas assim como o samba fez a antropofagia da invasão jazzística dos anos 40, o quadrinho brasileiro também tem sua bossa nova. As nossas tiras nos jornais, no estilo charge, são desenvolturas aqui deste povo. E isso não começa no século XX, já vem do XIX com o trabalho pioneiro de Angelo Agostini.
Igualmente é preciso fazer com Zé Bolinha e sua turma. Fazer a antropofagia desta variedade e torná-la mais viva na nossa alma como elemento que cria uma outra linguagem. Nem a de apenas uns ou somente outros.
zé do vale, parabéns pelo belo texto.
ResponderExcluirnão sou contemporâneo do sesinho, menos ainda do tico-tico.
conheço esse material através de sebos e de textos sobre a matéria.
comecei (e coleciono até hoje)a ler e me interessar por hqs a partir do começo da década de '70.
nessa época já havia um domínio quase que total dos gibis da editora abril: mickey e sua turma).
II:
ResponderExcluirda mesma ed.abril surgia as hqs do maurício de souza.
eu lia tudo.
por influência dos irmãos mais velhos (sou a segunda geração de aficcionado por hqs da família), comecei a descobrir o quadrinho adulto: revista grilo, as tiras do peanuts, o pasquim e a maravilha das maravilhas (minha companheira até hoje) a revista MAD.
aí fundi a cuca de vez. paixão à primeira vista.
não posso esquecer de outra grande e decisiva influência na minha vida de cartunista:o henfil e seus fradinhos.
também em meados da década de '70, começaram a aparecer as revistas underground brasileiras:
III:
ResponderExcluirchamadas pelo henfil (que neguinho teimava em chamar "rênfil") de udigrudi:
balão,papagaio, o bicho, rango
e outras tantas.
a MAD sempre atravessando incólume todas as últimas quatro décadas.
nos eua é uma indústria ,como playboy, hustler...
por essa época já tinha contato com o quadrinho europeu (francês, belga, italiano, espanhol, português...
IV:
ResponderExcluirabro aqui um parêntese:
é pra citar o maior de todos, o venerável, o DEUS do traço, que atende pelo nome mágico de ROBERT CRUMB.
muitos se aproximam dele: moebius, kurtzman, bill elder, liberatore, caza, corben...
...and last but not least.
não poderia deixar de citar a maravilha do nosso continente que é a MAFALDA do genial quino.
tem mais história (em quadrinhos).
um dia escrevo um belo texto pra contar uma parte dela.
sinto um prazer descomunal quandofalo de QUADRINHOS.
por hoje é hoje.
um dia eu volto...
ps. " por hoje é só".
ResponderExcluiré como devia estar o texto aí de cima.
ps2. os comentários ficaram, às vezes, com cara de truncado.
é que caberia tanta informação no meio, que deixe assim mesmo.
deu para entender.