terça-feira, 16 de novembro de 2010

Agulha no palheiro - José Nilton Mariano Saraiva

Logo após o seu lançamento no Brasil, em 2001, o adquirimos, por entender tratar-se de uma grande (literalmente), necessária e imprencindível obra. E não era pra menos: na sua elaboração, nada menos que 200 lexicógrafos e especialistas no mister participaram da empreitada, e em suas 2.924 páginas o Dicionário Houaiss nos traz cerca de 228.500 verbetes, 376.500 acepções, 415.500 sinônimos, 26.400 antônimos e 57.000 palavras arcaicas, além de um sem número de consistentes informações técnicas,
evidentemente que versando sobre a Lingua Portuguesa, daí também ter sido lançado em Portugal (sem qualquer demérito ao “Aurélio”, o Houaiss lhe dá de goleada) Temo-lo, pois, como um companheiro dileto, sempre que – como agora – queremos colocar o preto no branco, tentar passar alguma coisa pra você, aí do outro lado da telinha.
Pois foi exatamente numa dessas íntimas trocas de confidências durante a madrugada (vocês também conversam com o Dicionário, no silêncio da noite ???) que a porca torceu o rabo: a palavra que procurávamos, que não nos recordamos no momento, começava com a letra “P”, cujo vastíssimo banco de dados se encontra relacionado entre as páginas 2.099 a 2.340 do Houaiss, para onde nos dirigimos. Uma primeira pesquisa e a surpresa desagradável: nadica de nada da dita-cuja. Pacientemente, creditamos o seu “não encontro” à zonzeira típica da chegada do sono àquela hora, razão porque nos dirigimos à cozinha para bebericar um gole d’agua e “lavar a fuça”, objetivando acordar de vez. Numa nova tentativa, nada da palavra. Ficamos um tanto quanto equivocados e murmuramos cá com os nossos botões: como é que pode,
um “bichão” desse tamanho (dicionário) nao ter uma simplória palavra igual àquela. E assim fomos nos deitar com a pulga atrás da orelha.
Pela manhã, já descansado e alimentado, partimos pra encarar a fera de frente, na perspectiva de que dessa vez ela não nos escaparia. Ledo engano. A tal palavra, definitivamente, não constava do estupendo Houaiss. Inconformados, tomamos então uma decisão radical: tal qual e como que a procurar uma agulha no palheiro, sofregamente conferimos, uma a uma, da página número 01 à página número 2.924, à procura da falta de alguma página. E, realmente, para nossa surpresa, encontramos, não só na letra
“P”, mas, também, em mais duas outras letras, quatro ou cinco páginas faltando (em cada uma) e, em seu lugar, páginas repetidas, num imperdoável erro de impressão (ou organização, ajuntamento e por aí vai) para uma obra de tamanho vulto.
Imediatamente acionamos o site donde o havíamos solicitado via Internet (Livraria Saraiva) e fomos orientados a devolver o Dicionário, via sedex (evidentemente que sem custos); dias depois, recebemos um outro exemplar de volta (e aí já completo), com o agradecimento da editora responsável (Objetiva), que alegou que no “lote” em que se encontrava o que adquirimos teria havido o tal problema (repetição e falta de páginas). Se, por conta disso, houve um “recall” posteriormente (solicitação de devolução de um lote ou de uma linha inteira de produtos, feita pelo fabricante do mesmo), não sabemos e nem nos foi dado conhecimento (mas, aqui pra nós, se você chegou a adquirir um Dicionário Houaiss, confira pelo menos a letra “P”, ok ??? ).
Como o caso guarda similitude com o ocorrido com as recentes provas do Enem, achamos que seria interessante narrá-lo aqui. Sem tirar nem por. Preto no branco. Transparentemente. Pra mostrar que essas coisas acontecem, independentemente da boa intenção de alguém. E para que os apressadinhos de plantão não cometam a heresia (ou seria idiotice ???) de culpar um Ministro de Estado ou o Presidente da República por problemas menores (gráficos), como querem fazer crer, em relação ao Enem.
No mais, tirante esse detalhe (atípico), vale a pena investir no Houaiss.

Nenhum comentário:

Postar um comentário