terça-feira, 15 de fevereiro de 2011

Muito cacique pra pouco índio - José Nilton Mariano Saraiva

Ungido, certamente que em razão da sua naturalidade de “piquizeiro”, à condição de “presidente” da comissão especial instituída na Assembléia Legislativa do Estado do Ceará para elaborar relatório e sugerir soluções a respeito do desastre provocado pelas enchentes na Região do Cariri (e especificamente no Crato), o apresentador televisivo-Deputado Estadual Ely Aguiar (ligado politicamente ao prefeito da cidade), aparentemente sem medir as conseqüências nem atentar para a gravidade da sua fala, disparou um autêntico “torpedo” contra o Ministro da Integração Nacional, (Fernando Bezerra) que teria sido “debochado” ao referir-se à questão. A conferir, ipsis litteris: “A gente não pode ficar omisso diante de uma situação como essa. A coisa foi tratada em tom de deboche. Há a cobrança de que ele atenda à nossa demanda de ajudar os municípios. Ele está lá para isso e está sendo pago pelo povo para isso” (Jornal O POVO, Caderno Política, página 20, de 11.02.11).
Já o médico-Deputado Federal Arnon Bezerra (também ligado ao prefeito do Crato), literalmente desmentiu o senhor Ely Aguiar, além de criticar com causticidade um outro político do Ceará, ao garantir, em entrevista à Rádio Educadora do Cariri, que (ipsis litteris): “...essa notícia que saiu ontem, impressionante, que a notícia foi divulgada pela informação de alguém que esteve presente no gabinete do ministro, e eu não sei com que intenção uma pessoa espalha uma notícia dizendo que o ministro não teve a atenção necessária para com o Crato, não se sensibilizou” (sic). Garantiu, também, Arnon Bezerra, convictamente: “...eu sei mais ou menos de onde partiu, realmente é desgastante... alguém querer de forma irresponsável, desculpe o termo forte da palavra, querer tirar proveito para desmerecer o trabalho” (convenientemente, entretanto, preferiu não declinar o nome do insurgente).
Como se pode observar, a briga (ao estilo “de foice e em quarto escuro”), até então surda, muda e adstrita ao ambiente interno, transpôs as caudalosas águas do Rio Grangeiro, rompeu barreiras e espraiou-se ao domínio público, com os “nobres” e digníssimos Deputados apoiadores do prefeito do Crato ávidos à busca da luz dos refletores, reivindicando antecipadamente a “paternidade da criança” (possível viabilização e liberação de verbas), com o agravante de que um dos tais chegou até mesmo a “jogar farofa no ventilador do ministro”, já que esteve presente à audiência e de lá saiu semeando a discórdia, pregando a intriga, falseando a verdade (em benefício próprio), segundo sugeriu Arnon Bezerra (declina o nome, Deputado, declina, por favor).
Particularmente, tais pronunciamentos só vêm reforçar, reafirmar, solidificar e cristalizar nossa posição em relação à classe política (há exceções, claro), qual seja: como é “muito cacique pra pouco índio”, o importante é marcar presença, sair bem na foto tal qual “papagaio de pirata”, arrotar alguma frase de efeito que possa adiante ser aproveitada em proveito próprio e, enfim, fazer barulho e pôr-se em evidência (nem que para tanto tenha que atropelar quem esteja à frente, mesmo em se tratando de um Ministro de Estado); legislando sub-repticiamente em causa própria, a determinação de cada um é puxar brasa para a própria sardinha, cuidar de ativar o próprio fogo, aparecer por cima de pau e pedra, quer chova ou faça sol, independentemente dos meios ou métodos utilizados em tal desiderato.
No mais, como a Excelentíssima Senhora Presidenta da República Dilma Rousseff já mostrou ser uma pessoa comprometida com os ideais e princípios democrático-federativo-republicanos (atendimento a todos, independentemente da coloração partidária), se a Prefeitura do Crato pretende mesmo viabilizar a captação de recursos para a tal “reconstrução da cidade” (pra que tanto exagero, gente ???), vai ter, sim, que elaborar e estruturar um projeto tecnicamente consistente, competente e condizente com a realidade, em termos argumentativos e, principalmente, do montante necessário para tal empreitada (esqueçam, até mesmo pra imprimir um quê de respeitabilidade à causa, do tal estapafúrdio valor “entre 50 e 100 milhões de reais”, como equivocada, maquiavélica e espertamente foi sugerido e difundido por pessoas ligadas à prefeitura, como se estivéssemos em plena “casa de mãe Joana”).

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