quarta-feira, 23 de março de 2011

"Sua Excelência" - José Nilton Mariano Saraiva

De antemão, e é absolutamente imprescindível que isso fique cristalinamente explicitado, uma constatação simplória: ninguém, em sã consciência (até prova em contrário), tem ou guarda qualquer resquício de dúvida sobre a sua honestidade pessoal; ninguém, mesmo divergindo politicamente, vislumbra qualquer ato que venha em desabono ou comprometimento da sua condição moral (pelo menos até aqui); “Sua Excelência” é, pois, se visto sob tais enfoques, merecedor de todo o respeito dos munícipes.
Mas, por mais que os áulicos e bajuladores de plantão teimem em não admitir, a situação de penúria, abandono e indigência a que chegou o município do Crato é reflexo e conseqüência da falta de vocação ou inaptidão para o gerenciamento da coisa pública do atual mandatário do município; da sua siderúrgica incompetência administrativa, via escolha equivocada de certos (e sofríveis) auxiliares; da hesitação em punir de pronto, com rigor e exemplarmente, determinados auxiliares que teimam em meter os pés pelas mãos, ao ultrapassarem os limites da civilidade, comprometendo sua administração (vide o descaso, a falta de atitude, o “passar a mão na cabeça”, a forma equivocada como foi tratado o grave imbróglio envolvendo o presidente da SAAEC e uma octogenária usuária daquela estatal municipal); além do que, há que se atentar para a sua flagrante falta de prestígio junto aos escalões superiores, obstando a fluidez das possíveis demandas apresentadas; e, enfim, não há como esquecer do seu incompreensível e hermético isolamento político, cujo retrato mais emblemático foi a visita, dias atrás, do Governador do Estado à cidade do Crato, sem que fizesse nenhuma questão de sequer anunciar-se antecipadamente (como é praxe, em ocasiões da espécie), culminando por circular pela cidade sem encontrar-se com o chefe da municipalidade. È mole ou quer mais ???
O certo é que, guindado ao pódio da municipalidade cratense unicamente em atendimento à manutenção de uma tradição familiar (o pai foi prefeito da cidade na década de 50), “Sua Excelência” lamentavelmente revelou-se, desde logo e até aqui, uma lástima, verdadeiro caos, em termos administrativos, de par com o pouco caso ou desprezo com que é visto e tratado por aqueles com quem deveria entender-se (vide o narrado acima). Pior para o município, conforme atestou o ponderado senhor Hélder Macário de Brito (em carta aberta ao Pedro Esmeraldo), ao admitir que o Crato se encontra entregue ao “deus dará” (opinião corroborada por muitos e autênticos “cratenses da gema”).
Fato é que, instalado em sua inexpugnável e confortável redoma às margens do rio Grangeiro, cercado e paparicado por “amigos” (???) que vivem a lhe pavonear a imagem e inflar o ego diuturnamente, “Sua Excelência” parece experimentar um processo anestésico duradouro e agônico, já que literalmente alheio ao que se passa à sua volta. E é essa acomodação, esse marasmo, essa letargia, essa moleza, essa falta de atitude, que verdadeiramente preocupa, já que a decrepitude da cidade é uma dantesca e triste realidade (e pensar que ainda faltam quase dois anos para o término do seu mandato).
Por conta disso (e os fatos estão aí pra atestar), já perdemos o SESI, o Sebrae, o Campus da UFC, a Televisão Verdes Mares, o Hospital Regional, o Carrefour e outros empreendimentos de porte e já se fala, até (não se surpreendam, se acontecer), na possibilidade de que o comando/reitoria da URCA, a Faculdade de Agronomia (definitivamente) e a sede do SESC tomem a rota da cidade vizinha (onde, aliás, já são emitidos os BO’s policiais das ocorrências noturnas cratenses). Não se sabe se a Diocese também seguirá o mesmo caminho, mas é bom observar, com atenção, a movimentação do enigmático e esperto Dom Panico.
Alfim, não custa lembrar (para reavivar a memória dos frouxos e convenientes) a reunião patrocinada pela Associação dos Filhos e Amigos do Crato (AFAC), realizada na Câmara de Diretores Lojistas (aqui em Fortaleza) há cerca de dois anos, quando “Sua Excelência” afirmou, peremptório, convicto e a plenos pulmões (com todas as letras, reticências, pontos e vírgulas) que “...o Crato é final de linha, só vai ao Crato quem tem negócios lá”. Seria interessante, pois, que alguém o lembrasse que o Crato precisa, sim, a fim que sua economia seja revitalizada, é de atrair investimentos, criar empregos e gerar renda para as centenas de desempregados que zanzam por suas ruas, feito zumbis.
E isso, nos dias atuais, só se consegue através do “componente político”, via construção de pontes, do chegar junto, do valer-se de parcerias, do doar-se em favor de uma causa, do ofertar vantagens, do renunciar agora para angariar depois, do movimentar-se à procura de.
Isto posto, por qual razão não se refletir sobre as “razões” ou os “porquês” de não conseguimos atrair investimentos (governamentais ou particulares), se até cidades de menor porte e sem maior expressão conseguem ??? Que “praga” maldita é essa que se abateu sobre a cidade do Crato, transmutando-a de “Princesa do Cariri”, “Capital da Cultura” e por aí vai, numa “cidade- dormitório”, “cidade-fantasma”, “cidade-sem-presente-e-sem-futuro” ??? Onde vamos parar ???

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