Qualquer órgão da mídia que pretenda sobreviver à velocidade dos trens velozes desta fase contemporânea há que divulgar, com ênfase, os desmandos e práticas perversas dos grupos terroristas espalhados pelo mundo, noutras praças, noutras regiões. Sensacionalismo corre solto e alimenta faixa extensa de telespectadores e leitores. Alguém que observe notará, todo dia, nos cantos perdidos de jornais presos nas bancas, as notícias iguais, agora pequenas, de onze, quinze, vinte, vinte e dois civis assassinados sem julgamento, com explosão de bombas em países de que nem ouvira falar até então. Além de toda previsão, talvez nas mesmas proporções em que a raça cresce, tristes grupos exercitam a tara de eliminar vidas, qual disseminando o terror para reduzir a fome, na visão doentia dos autores, falsos moralistas e dementes vingativos de todo gênero.
Disso conclusão pode tirar, na mania de racionalizar a que pessoas se acostumaram em frente das telas acesas. Quer participar dos destemperos e das indigestões cotidianas. Participar de qualquer modo. Participar, nem que pronunciando palavras de efeito retardado, tipo: - Horrível isto; ah, meu Deus, quanta barbárie; monstro à solta; vamos rezar; fazer um minuto de silêncio às vítimas; etc.
Espécie de passividade crônica invade a consciência e prende as atenções, num bloco frágil de dores e traumas, distância e impotência. Detrás disso, lá estão os velhos códigos da continuidade. Tanger adiante o rebanho, produzir para viver, ouvir e esquecer.
Os efeitos do comportamento nos quadrantes da grande humanidade geraram, pois, espécie de monstro coletivo nunca previsto nos manuais políticos. O poderoso mercado econômico, contudo, sobreviverá e retrabalha, grosso modo, seus materiais recolhidos nas fezes da besta sagrada que domina os esquadrões da morte e funcionam às escondidas, nas horas caladas dos aparelhos administrativos. O menor existiria em função do maior, o que virou a lei de prosseguimento da história, sem mais questionamentos. O indivíduo anônimo e o grande Estado que busquem conciliar seus interesses nos poucos lugares ao sol de prolongar a vida na face do Planeta através das conferências ecológicas.
Nessas trágicas e dolorosas explosões do inesperado, nos endereços lotéricos das ocasiões, seguem os elementos da discórdia e da concórdia, agarrados entre si, no romance do sadomasoquismo, vistas motivações das forças maiores. Por isso, nada de a quem reclamar pela sorte desses tempos cinzentos. Baixar a cabeça e supor que o vexame das notícias amargas diz respeito aos outros somente, noutros filmes afastados, montados em painéis estranhos, à margem das rodovias marcianas, longe das tintas fortes dos monitores a invadir as casas de porta com o sangue limpo do cordeiro pascal.
emerson, penso tal qual você neste belo texto.
ResponderExcluirLupin,
ResponderExcluirGrato pela observação. Busco dizer nas palavras um pouco do que se passa neste mundo ainda imperfeito e de que as impressões tocam o coração.
Abraço de Paz.