sexta-feira, 22 de abril de 2011

O apelo feroz dos ditadores - Emerson Monteiro

Nas recentes manifestações da África, quiseram revisar o passado e sonhar com a democracia, indo nas ruas derrubar ditadores ali postos ao peso dos esquemas diplomáticos das potências ocidentais. Nesse instante, um sintoma veio à tona que é saber do quanto os ditadores adoram comandar como nenhum outro que nunca usufruiu do poder. Almas envolvidas nas tramas da ganância, eles enfiam as unhas no lombo dos conterrâneos e agarram quais gaviões raivosos. Sugam a lama do que restou dos direitos humanos e impõem regimes de força a troco da fraqueza dos que confiaram neles e lhes permitiram chegar ao topo da pirâmide social. Nisso, exploram o produto nacional bruto em proveito próprio. Descem o malho no povo e sacodem os chãos, feitos cavaleiros do Apocalipse. Recebem armas, adquirem parceiros à custa dos aliciamentos, cedem bens vitais dos países e deflagram trágicas guerras que enchem os cemitérios e os noticiários. Escondidos nas camarinhas de palácios enormes através dos vícios e das maldades, durante passeios elaboram o discurso com que alienam as suas vítimas. Monstros apegados à força bruta, logo constroem prisões inexpugnáveis e alimentam a máquina da propaganda para manusear perversas maquinações. Ah, os ditadores, esses chicotes dos imprevidentes que lhes deixaram subir ao trono, ou facilitaram meios disto acontecer. Há quantos séculos se repetirá a cena... Peças de reposição dos impérios, negociam a safra das vidas e populações nos mercados da perdição, a troco do fanatismo imposto pelas facilidades recebidas. Quem abrir um livro de história observará essas anomalias da espécie humana, esses aleijões dos crimes hediondos. Por trás de toda guerra existirá um ditador, coringa da ignorância dos valores e dos bons princípios da paz, espécie de assombração à ordem natural das coisas, espantalho da regularidade no papel violento dos que desmancham prazeres. Enquanto isso, na velha participação e nos vários continentes, de uma hora para outra, o desaviso das pessoas, e lá estão eles de malas prontas para entrar no jogo de empurra da política. Abrir os olhos e guardar as lições será dever da cidadania, que nunca relaxe e se sujeite sem observar que, nas encostas das sombras, esses carrascos fedorentos analisam um jeito astuto de abocanhar o festim. Longe, em países afastados, maus exemplos de tiranos em queda apareceram nos acontecimentos recentes. Agora reduzidos a cinzas, mas que serviram de espinho de garganta na intenção de vender o que saqueavam das gentes que exploraram décadas a fio.
Consciência pública requer atitude, o que nem todo dia se dispõe o comodismo das massas. Contudo, depois retornam aos seus afazeres e devolvem aos terceiros seus destinos, e passam a morar em cima dos barris de pólvora. Manter a estabilidade social é bem comum, toda hora, todo tempo. Os turnos eleitorais servem de base para deter essas ambições de tais mentalidades doentias. Cuidado dobrado, pois, nas eras de calma; e trabalhem as lideranças no sentido de reger o futuro, numa construção favorável aos bons costumes.

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