Teve uma visão, e não tinha nada a ver com mediunidade, e vê o em que ainda haverá de ser aceito. E não está pronto.
Tem o corpo fechado, não teme invasores. Sua mãe relutava em convencê-la a dormir coberta, impor medo condicionando à proteção material de um lençol a segurança da mente. Ignorando recomendações, a menina brincava de desafiar as almas mortas, dormia nua ou a saber que no indivíduo vivo há força incalculável, só os torturados sabem, maior um vivo forte que a morte, ou os mortos...devaneios da coragem desmedida de uma garotinha.
Mas a visão era coisa para contar num outro texto, neste era imperioso fabricar a festa com todos os complementos, festa para uma pessoa só. Não duas, uma mesmo. Co-particular, nada estranho. Bebida alcóolica (drogas, como estão designadas), azeitonas e queijos, que o salgado na corrente sanguínea não a deixa esmorecer, tem a pressão baixa...música, dança, uma sessão de alongamentos e uma de provas de roupas, além de caneta, papel...não tudo em todas as vezes, nem nessa sequência escrita, as palavras coisinhas limitadas, o sentir faz o lixo de ser só e único e incompleto ser o luxo da existência. Sentir-se ao avêsso. Estar consigo. Quando se escreve não se está consigo, mas em pensamentos voltados a outros. A solidão é luxo, e nada triste. Luxo também é ter um banco em casa para sentar e pensar, quantos param para pensar sem que esteja numa fila, sem conhecidos por perto? Talvez tenha a palavra "bancos" em algum poema escrito bem antes dessas madrugadas se tornarem tão solitárias, sente um leve mal-estar. Tem a ver com a visão que teve hoje. O corredor. As paredes. Não tocará nesse assunto, fica o ruminar do boi numa metáfora. E amanhã acordar com o corpo cheio de incômodos certamente a levará a perguntar-se se valeu a pena uma noite assim. Apressa-se em ler mais e escrever menos durante os próximos dias, armazenar energia, guardar pensares em gavetas virtuais. Enclausura-se, acha mais seguro não ver gente de frente nem de lado. Em letras. As pessoas pelas letras. E ninguém conhecido.
Oportuna festinha, que está para o espírito assim como um lenço de papel para quem está precisando assoar o nariz, tempo de explorar a criatividade sem livros, sem parâmetros, sem mestres. A poesia por ser uma linguagem concisa ajusta-se aos seus propósitos, não que seja uma poeta, gosta de minimalismos. Como opção ao dizer, sendo o dizer maior que o enquadramento num estilo. Não quer conhecer poetas antigos nem novos, na força das produções do passado nem do presente para o surgimento do novo. O novo sairia do absoluto distanciamento da realidade, tanto menor a influência do conheciemnto adquirido, na mente humana um acúmulo de futuro guardado inexplorado e quantos se dignam a encarar a necessidade de ultrapassar esse tempo atual sem gozar esse pobre período histórico de inutilidade maquiada de distração e lazer tão sedutores. Foge, balançando os cabelos. Nem pensa, atrai pensamento da doce liberdade de olhar uma nuvem, uma ave voando, ouvir os barulhos da madrugada, tocar numa semente, sentir a textura, respirar odores, captar sinais nas frases ouvidas, ler as pessoas mal escritas e bem descritas, e as bem escritas e mal descritas, um paradoxo, flertar a política, decifrar economia, tantas manias, tantas manias...
tss...tsss...
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