terça-feira, 31 de maio de 2011

A divina conformação - Emerson Monteiro

Na Palestina, depois que Jesus fora executado e as coisas pareciam retornar à antiga normalidade, um dos seus apóstolos, o de nome João, não se aquietava, a procurar canto, qual dizem dos que lutam e nada conseguem para aceitar as situações difíceis.

Durante semanas, sua vida era só amargura, sofrimento por cima de sofrimento. A ferida aberta com a perda do Mestre parecia crescer cada dia um pouco mais. Aonde seguisse, levava consigo a saudade imensa da presença divina, fugindo-lhe do ânimo o gosto de pelejar, e ninguém conseguia consolá-lo. Tornara-se, por isso, a maior preocupação dos amigos e familiares.

Alguém lembrou, então, de Maria de Nazaré, a quem devesse procurar, na busca de palavras de conforto, pois se revelara exemplo perfeito de resignação face à inominável tragédia que também lhe vitimara.

Destarte, João viajou ao lugar em que morava a mãe de Jesus.

Numa demorada conversação dos dois, a santa mulher indicou a João que chegasse ao Mar da Galiléia, porquanto, nas suas margens, acharia motivo suficiente de recobrar forças e firmeza de tocar adiante a vida.

João aceitou o conselho e buscou as praias daquele mar, em que permaneceu algum tempo. Relembrava os passeios felizes de vezes anteriores, absorto nos transes da dor. Certa tarde, preso à beleza das águas azuis, se deixava inundar de gratas recordações, quando avistou, deslizando em sua direção, no fino espelho das ondas, o vulto magnânimo de Jesus.

Um perfume de incenso raro, nessa hora emanava pelo ar, idêntico ao que experimentara junto da cova em que depositaram o santo corpo do Mestre, nas proximidades de Jerusalém.

Perante o inesperado fragor, quis esmorecer sob o peso das emoções ali vividas. Fechou os olhos, na mais fervorosa contrição, e ouviu nos refolhos da alma lacerada, translúcido, o falar do Verbo de Deus:

– Estimado João, jamais queira imaginar que habito longínquas paragens afastadas de quem amo. Saiba, no entanto e sempre, que quando alguém chamar com sinceridade ao seu lado estarei, na eternidade dos verdadeiros sentimentos, contra qualquer obstáculo; pois não há distância entre os que se amam.

Dali em diante, tocado pelos eflúvios da revelação inesquecível, o apóstolo se rendeu ao abençoado reencontro e entregou-se ao poder da conformação, para realizar o trabalho evangélico que viera cumprir na Terra.

"Eles" tão chegando - José Nilton Mariano Saraiva

Comprovada e irremediavelmente falidos em termos econômicos, enfrentando um avassalador, descomunal e corrosivo processo de decadência, inclusive moral e ética, mesmo assim a nação americana (EE.UU.) se nos apresenta (ainda) como uma das maiores potências do mundo em termos técnico, científico e poderio bélico.
Como, no entanto, a “fonte” que sustentava tudo isso - suas reservas petrolíferas - rapidamente se exauriram em função da “farra” e mau uso durante décadas (seu consumo interno sempre se manteve nas alturas, resultando infrutíferas todas as tentativas de diminuí-lo) bem como ainda não se consolidaram quaisquer outras fontes alternativo-substitutas, no médio prazo, há, sim, a possibilidade iminente de um “stop” da atividade produtiva do próprio país, dentro de certa brevidade.
Portanto, pra que se mantenha a máquina em funcionamento há o imperioso desafio de “encontrar”, "extrair" ou “tomar de conta” de reservas petrolíferas, onde houver petróleo abundante e em excesso (além mares e preferencialmente no Oriente Médio), senão este que ainda é um dos países mais poderoso do mundo inexoravelmente irá à lona, restará nocauteado.
Para a consecução de tal desiderato, uma das mais eficientes armas utilizadas até aqui tem sido a distorção de informações, propagadas por uma mídia amestrada e dócil, espalhada pelo mundo, que tem papel preponderante na fixação do uso de certos métodos heterodoxos de “convencimento”, objetivando sejam atropelados ou aniquilados aqueles que se lhes postarem à frente, ou, até mesmo, os que ousem contestá-los ou confrontá-los (desde quando, por exemplo, os americanos respeitam esses tais fóruns coletivos internacionais tipo a OTAN, ONU, G-8 e tal, quando resolvem que têm de intervir mundo afora ???).
Assim, nada mais conveniente e apropriado (pra eles, americanos) que tentarem difundir e manter o galardão de “xerifes” do mundo, defensores da raça humana, protetores dos desvalidos, última reserva moral do planeta, solução para todos os males dos terráqueos, mesmo que a sua inescrupulosa e belicista prática diária se contraponha a tal teoria; necessário, para tanto, a provocação e manutenção indefinida de um “conflitozinho” básico com um país periférico qualquer (contanto que abarrotado de petróleo) a fim de que, quando a coisa apertar mais e se tornar necessário (como agora, com o Irã e outros países do Golfo Pérsico), possam desestabilizá-los, descredenciá-los, jogá-los às feras, pô-los contra o resto do mundo e, alfim, invadi-los e tomar de conta das suas portentosas reservas minerais.
Afinal, quem não lembra do recentemente ocorrido no Iraque (lá mesmo, vizinho ao Irã), quando os "gringos", sob o fajuto e inconsistente argumento da existência de letais armas químicas com potencial de destruir a própria humanidade (que, desde o começo desconfiava-se, e posteriormente comprovou-se tratar-se de uma deslavada mentira) acionaram sua mortífera e poderosa força bélica, ao custo de bilhões de dólares e milhares de vida humana) com o objetivo único e exclusivo de apoderar-se das portentosas reservas petrolíferas iraquianas, como realmente aconteceu ??? Para tanto, não tiveram nenhum escrúpulo de antecipadamente “anunciar”, para posteriormente executar a “caça”, “julgamento” e “assassinato” em tempo recorde (na forca e com transmissão ao vivo e a cores para todo o planeta), do presidente Saddam Hussein (ou alguém tem dúvida que aquilo ali foi um verdadeiro assassinato, mesmo se sabendo tratar-se de um ditadozinho de quinta categoria) ??? Aquilo foi ou não uma “interferência indevida” em assuntos internos de uma nação independente ???
E a próxima vítima da “imperial” determinação americana deverá ser a nossa vizinha e sofrida Venezuela (dona de uma das maiores jazidas petrolíferas do mundo), daí a midiática e avassaladora satanização do Chávez (sem dúvida um outro ditador perigoso), de par com a suspeita e providencial instalação de bases militares na Colômbia, sob o falso argumento de combate aos narcotraficantes das Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc).
É imprescindível, pois, que os “sul-americanos” nos cuidemos (o Brasil, em particular), que tomemos nossas precauções, nos mantenhamos de olhos abertos, preparemo-nos pra botar a boca no trombone, porque, quando o nosso pré-sal estiver em sua capacidade plena, quando nos tornarmos exportadores do “ouro negro”, eles já estarão por aqui, na vizinhança, à espreita, esperando pra dá o bote mortal (a propósito, lembram da Base Espacial de Alcântara, no Maranhão, que quase lhes foi entregue de mão beijada por FHC, e onde os brasileiros seriam proibidos até de entrar ???).
Ou alguém tem alguma dúvida de que o deslocamento da 4ª frota naval americana para “exercícios” no “Atlântico-Sul” não guarda um objetivo muito bem definido, tal qual acontece com os navios “yankes” ancorados nas cercanias do Irã ??? Por qual razão não se metem com a Rússia, que se acha assentada e também “nada de braçadas” num mar de petróleo ??? Será que o arsenal nuclear russo os assusta tanto ???
Fica, pois, o alerta: cuidado, muito cuidado, eles tão chegando (e não se trata de nenhuma invasão alienígena).

PROGRAMA INFLUÊNCIA DO JAZZ - Hoje, Terça-feira 14:00 - Rádio Educadora do Cariri

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No programa "Influência do Jazz" de hoje, abordamos o chamado Jazz Fusion, que é a fusão da harmonia jazzística e improvisação, com outros estilos musicais, como o Rock, Funk, Samba e até o Hip-Hop. O estilo começou com músicos de jazz que misturaram as formas e técnicas de jazz aos instrumentos elétricos do rock aliados à estrutura rítmica da música popular afro-americana, tais como o soul music e o rhythm and blues.

Os anos 70 foram o período mais produtivo para o estilo, embora o fusion tenha prosseguido com uma produção expressiva, sobretudo no final do século XX e início do século XXI, com reedições de álbuns clássicos de fusion e a gravação do estilo por artistas do jazz tradicional.

Os maiores nomes do Fusion estarão representados no programa de hoje, que está simplesmente imperdível. Personalidades como Miles Davis, Herbie Hancock, os Irmãos Michael e Randy Brecker, os grupos Tower of Power, Incognito, Lee Ritenour, Chick Corea Elektric band, o baterista Dave Weckl e muitos outros estarão no programa desta terça-feira.

Não perca! - Hoje, Terça-feira
14hs - Pela Rádio Educadora do Cariri, com transmissão simultanea pela Rádio Chapada do Araripe Internet.

www.radioeducadoradocariri.com
www.radiochapadadoararipe.com

segunda-feira, 30 de maio de 2011

Três preocupações e uma esperança - José do Vale Pinheiro Feitosa

Alguns apanhados dos eventos da semana: governo federal quer proteção para as populações pobres da zona rural excluídas das políticas atuais; a cada dia aumenta mais a possibilidade de um calote, igual ao grego, na economia americana; a ação criminosa com bombas e grandes armamentos anunciam alguma coisa e a primeira árabe já começa a descambar para grandes conflitos.

Começando pelo último evento. O G8 se reuniu como se o problema das revoluções do norte da África e no mundo Árabe fosse assunto de loas ao processo. O mais grave de tudo é o que ocorrerá nos grandes atores árabes nestas mudanças todas. Aí podem contar com a Turquia, Arábia Saudita e o próprio Irã. A tensão neste mundo por pressões de todo tipo, inclusive por grandes migrações será o rastilho de guerras convencionais e intolerantes.

O uso de dinamites, de ações rápidas e evasivas, táticas agressivas e armamentos possantes, estão a demonstrar o quanto setores da sociedade estão treinando para ações militares. Se alguma consciência revolucionária irá nascer disso ou se apenas se restringirá ao fogo de palha do individualismo marginal é uma questão a ser refletida. Por enquanto é um meio de conquista material pela força. Depois poderá querer modificar o modo como tais conquistas são feitas de modo geral pela sociedade?

As conseqüências da ultimação de que a economia americana dará um calote ainda maior que a bolha do sistema financeiro, não é difícil de medir. Os principais canais de formação de preços e valorização dos bens, de troca de mercadorias, de salguardas patrimoniais e sustentação de certa lógica nas trocas estarão desfeitos. Além dos prejuízos conseqüentes para quem lhe emprestou (ou adquiriu papéis do tesouro americano), haverá uma corrida desigual dos mercados e estaremos próximo do que foram os anos trinta do século passado.

O governo da Presidenta Dilma pretende fazer um programa de proteção social mais focado num segmento da sociedade que vive na miséria, mas não é achado pelos meio convencionais. Este é o maior exemplo da evolução de tais programas. Agora já se especifica as vulnerabilidades no território e é na zona rural que tais populações mais se encontram. Esta ação é uma das mais estimulantes políticas públicas no Brasil, pois abrirá a oportunidade imensa para o mesmo em saúde, educação e segurança pública.



sábado

poesia de qualquer jeito
é assim que deve ser
dê no que der
poesia nas ruas do centro
mendigos nas calçadas
a vida por dentro
de vidas reviradas
samba na são joão
no anhangabaú
pandeiro e cachaça
depois só o chão
como última graça
poesia nua e crua:
paredes monstruosas
da cidade nua
mas é preciso olho
tarimbado em caos
mãos de metal
lábios de gelo
sempre mais perto
sempre mais perto
assim meu nego

domingo, 29 de maio de 2011

Slavoj Zizek esteve no Rio e deu entrevista - José do Vale Pinheiro Feitosa

Idéias pinçadas de uma entrevista de Slavoj Zizek Globo, que esteve por aqui numa palestra, ao jornal O Globo:

Abordando aquele grande relativismo do Multiculturalismo e do pensamento pós-moderno:
“Há uma certa moda na filosofia pós-moderna de se tomar a verdade como algo opressivo, que deve ser subvertido. Questiona-se: “quem tem o direito de dizer que algo é verdade?” Em vez da verdade, existiriam apenas opiniões. Até as ciências naturais são tomadas como um fenômeno discursivo, que não teria nenhuma diferença de princípio em relação a superstições e formas de conhecimento baseadas na tradição. Discordo disso. Penso que existe a verdade, que existe a verdade universal, e que ela pode mesmo ser vista politicamente. Por exemplo, o que aconteceu recentemente no Egito foi a universalidade em sua forma mais pura. Não precisamos de nenhuma teoria multiculturalista para entender o que se passava nas ruas do Egito.”

Aqui rebatendo a crítica filosófica que se faz à Dialética Hegeliana como se tratasse todos os fenômenos como pertencente a uma totalidade.
Quanto à totalidade, esse é um grande mal entendido. A noção hegeliana de totalidade não significa que todos fenômenos particulares sejam no fundo parte de um mesmo todo orgânico. Não! Se você lê Hegel, vê que totalidade é quase o oposto disso. A totalidade é uma categoria crítica, que implica perceber as maneiras pelas quais um certo fenômeno dá errado como sendo parte da essência desse fenômeno. Detesto os marxistas que dizem: “Stalin traiu o verdadeiro espírito do marxismo”. Não, não se pode permitir que isso seja dito. Se as coisas deram tão terrivelmente errado com Stalin, isso significa que havia uma falha estrutural no próprio edifício de Marx. Não acredito nessa baboseira do tipo “a idéia era boa mas infelizmente foi mal realizada”. Aqui eu sou freudiano. O resultado da idéia é como um sintoma, que aponta para algo errado na idéia.

O adjetivo “violento” no dicionário quer dizer o que ocorre com força extrema ou com extrema necessidade. Aqui Zizek explica corretamente a razão pela qual a violência é substantiva para as revoluções:
Escrevi num outro livro algo que me deu muitos problemas: eu disse, “o problema de Hitler é que ele não foi violento o bastante”. E as pessoas ficaram “aaai, você queria que ele tivesse matado todos os judeus?!” Não! Ele não foi violento o bastante nesse sentido autêntico, revolucionário, em que a violência significa transformação das relações sociais, e não tortura ou assassinato. Hitler matou milhões de judeus em nome da manutenção do sistema. O que estou dizendo é que não quero dar a Hitler sequer esse crédito, na linha “ele foi um criminoso, mas era um líder corajoso”. Não, ele não era. Nesse sentido, Mahatma Gandhi foi mais violento do que Hitler. Gandhi é sem dúvida um modelo de paz, mas nesse sentido básico ele foi violento, organizou protestos de massa com o objetivo de impedir o funcionamento do Estado colonial inglês na Índia. Isso é algo que Hitler nunca ousou fazer.

A questão da violência das idéias. Isso é importante por que muita gente deixa de se expor ou critica as revoluções por que se baseiam em idéias violentas.
Há revoluções, afinal, que são bem sucedidas. Veja o milagre da democracia. Sou um crítico das democracias atuais, mas a ideia de democracia é um exemplo maravilhoso de como algo que era percebido na sociedade pré-moderna como o maior momento de perigo e instabilidade pode se tornar parte da estabilidade do novo sistema. Na época das monarquias, ou mesmo nos regimes totalitários, o momento de maior perigo se dá quando o líder morre e o trono fica vazio. Na União Soviética, quando Stalin morreu, mantiveram a morte em segredo por três dias. A ideia da democracia, no entanto, é muito engenhosa. Ela diz: “e se, em vez de tratar o fato de que o trono está vazio como um problema, nós o considerarmos uma solução? O trono está originariamente vazio, e apenas algumas pessoas eleitas democraticamente podem ocupá-lo por certo período de tempo, de forma limitada. Ninguém tem um direito natural a ocupar o espaço do poder”. Esse é para mim um ótimo exemplo de algo que parecia violento e se torna o próprio fundamento da estabilidade. Então concordo que há um perigo das idéias, mas acho que o dia seguinte é a parte mais importante das revoluções.

Sobre o que é mais revolucionário se a pressa dos eventos ou a lentidão do mesmo.
Não ligo para o que aconteceu na Praça Tahrir. O que me importa é o que vai permanecer daquilo daqui a cinco anos. Nesse sentido, o evento é apenas um ponto de início mítico que abre um certo horizonte de atividade política, e esse é o verdadeiro trabalho, lento e duro. Badiou faz uma referência maravilhosa na qual ele lê esse processo revolucionário segundo as qualidades cristãs definidas por São Paulo: fé, esperança e amor, das quais o amor é a mais importante. Badiou diz: fé é a fé no evento, no sentido de que algo novo é possível; esperança é a esperança de que chegaremos ao objetivo; e amor é para Badiou, como disse São Paulo, o trabalho do amor. O que significa trabalho paciente. É disso que precisamos hoje. Essa reabilitação do trabalho cinzento diário, talvez a esquerda precise de um pouco disso, não?

Aqui Zizek explica o que quis dizer no Jornal The Guardian ao anunciar que o comunismo venceria.
A razão por que me considero ainda um comunista é que vejo uma série de problemas para os quais não há solução possível dentro do modelo do capitalismo liberal global. Entre eles, a questão ambiental, a biogenética, a propriedade intelectual. Para enfrentá-los vamos precisar de um esforço coordenado de larga escala, algo de que nem o mercado nem o Estado tradicional são capazes. Quando as pessoas me dizem “você é um utópico”, eu digo: “a única utopia de fato é acreditar que as coisas podem seguir indefinidamente seu curso atual”. É claro, por exemplo, que se a China continuar se desenvolvendo na escala atual haverá uma demanda materialmente impossível de se atender. Para mim, comunismo é o nome de um problema. Todos esses problemas são problemas de algo comum (“problems of commons”), de algo que deveria ser compartilhado por todos nós. É uma alegação muito modesta.

O general Inverno - Emerson Monteiro



Assisti recentemente ao filme Guerra e Paz (1957), superprodução do diretor americano King Vidor, com Henry Fonda, Audrey Hepburn e Mel Ferrer, dentre outros destaques, que aos dez anos vira pela primeira vez no Cine Moderno, em Crato, bem cuidada e rica montagem cinematográfica do célebre romance de Leon Tolstói, obra imorredoura da literatura universal.

Aprendemos que bom é reler; e, no caso dos filmes, rever. Atualizar a leitura de peças antes conhecidas, quando, então, desaparecerá a ansiedade em conhecer o final, e se mergulhará na interpretação dos detalhes com visão mais ampla e apurada no tempo.

Depois disso, a trama romanceada nos personagens russos das guerras napoleônicas impõe sua força ao decorrer dos acontecimentos, mostrando capacidade extrema daquele povo de resistir aos desafios de sua história. A beleza exótica de Audrey Hepburn domina o papel de Natasha, personagem ingênua, contraponto ideal para mundos em conflito, a inocência original que nutre de ânimo os vencidos. Enquanto que o senso crítico de Pierre (Henry Fonda) conduzirá testemunho do contexto em queda livre diante do inesperado, formulando meios de superar o imperfeito.

Mas o que toca na essência do drama significaria a destruição das tropas francesas em retirada convulsa, vítimas da eficiência do general Inverno, com o que não laborou Napoleão Bonaparte no ímpeto das conquistas, vendo-se em condição de fragorosa decepção, ao furor das baixas temperaturas, da fome e da neve, dizimando preciosos efetivos. Esta lição Hitler não aprenderia, lá na frente, quando jogou os alemães a circunstâncias parecidas, no mesmo território, amargurando a maior derrota das campanhas nazistas aos custos, inclusive, de rendição humilhante na Segunda Grande Guerra, mérito do bem sucedido general Inverno.

Recordo, na fleuma dos soviéticos perante a dor, sua busca pela transformação socialista que propôs e que redundaria no fracasso de 70 anos de vivências do recente século. Com a fibra heróica da civilização milenar, o sonho justo e igualitário ver-se-ia por terra, face às humanas limitações em realizar a perfeição nos grupamentos comunitários. Eles, os russos, chegaram longe nesse projeto de transformação social, contudo haverá longo percurso pela frente até a concretização plena da solidariedade e da paz em termos coletivos, porquanto, no íntimo, o egoísmo ainda impera e detém a consciência das massas. Sem o aprimoramento real dos indivíduos jamais se chegará à verdadeira fraternidade neste chão, pois.

sábado, 28 de maio de 2011

Audição para a Alysson Amancio Cia de Dança




Alysson Amancio Companhia de Dança seleciona rapazes para seu elenco de Interpretes.
Dia 01 de Junho ás 19 Horas.
Local: Associação Dança Cariri
Rua Conceição 1391
Bairro São Miguel
Juazeiro do Norte.Ceará
Público Alvo: Rapazes acima de 16 anos, disponibilidade para ensaio de segunda a sexta das 19 ás 21 horas
Informações: (88) 9985 6324 ou alyssonamancio@hotmail.com

SALVE O CRATO!!!

Foto de Wilson Bernardo





POR QUE CID GOMES E CAMILO SANTANA
INSISTEM EM INSTALAR ATERRO SANITÁRIO NO CRATO?


Os cidadãos cratenses têm o privilégio de fixar sua existência no sopé da Serra do Araripe – importante e inestimável relicário de biodiversidade ofertado generosamente pela natureza. De lá, enormes aqüíferos espalham-se sob nossos pés, alimentando fontes, rios e poços, garantindo a beleza da flora, a sobrevivência da fauna e atendendo às necessidades humanas. Mas uma insistência desmedida promovida pelo governo do estado ameaça a conservação desse patrimônio e a qualidade de vida dos munícipes: a instalação de um aterro sanitário no Distrito de Ponta da Serra.

Consultei membros do povo acerca do problema em questão e não ouvi deles nenhuma informação que pudesse balizar o exercício da consciência, da crítica e da opinião. Ignoravam, por exemplo, que 500 toneladas de lixo seriam lançadas todos os dias no chamado Aterro Sanitário Consorciado do Cariri, sendo 60% oriundo de Juazeiro do Norte e o restante de Crato e mais oito municípios da região. Também não sabiam que tal empreendimento provocaria irreversível impacto ambiental e atentado à vida humana por poluir os lençóis freáticos que banham nosso subsolo. Outro dado desconhecido era o de que o aterro tão festejado pelo governo teria vida útil de cerca de vinte anos, transformando-se, depois, numa obra morta e inútil. 

Pergunta-se, então, ao governador Cid Gomes e ao secretário das cidades Camilo Santana: 

- Que sentido teria a instalação do aterro sanitário em Crato mesmo sendo notória agressão ao meio ambiente e pondo em risco a saúde de milhares de vidas humanas? 

- Por que essa insana e desrespeitosa insistência, se foi tecnicamente comprovada a viabilidade do aterro no município de Caririaçu, inclusive com a aprovação pelos poderes locais?

Ao povo do Crato cabe, por conseguinte, responder à seguinte interrogação:  

- Somos de acordo que seja instalado o aterro sanitário aqui, mesmo sabendo das conseqüências devastadoras contra o meio ambiente e a saúde pública, com a poluição de nossas águas subterrâneas? 

Inicio aqui o rosário de respostas: NÃO! 




Cacá Araújo
Professor e Dramaturgo
Crato-Cariri-Ceará-Brasil     

A reunião dos sem nomes - José do Vale Pinheiro Feitosa

Eram sete e ficaram pequenos. Somaram mais um e ficou uma coisa esquisita: sete mais um. Aí disseram que eram oito e se reúnem. Para quê mesmo?

Quase cabe aquela trova de Ascenso Ferreira: Para quê? Para nada!

Não são mais as nações ricas do mundo. A Itália e o Canadá já estão atrás do Brasil. O Japão já perdeu o segundo lugar do mundo para a China. Por isso o assunto fundamental das nações, a economia, não tem mais peso algum naquele lugar. O G20 é quem realmente delibera ou administra os impasses.

Então a reunião dos sete mais um patinho feio, a Rússia, foi para advogar a hegemonia Anglo-Saxônica como anunciou o Obama, qual um terrorista fundamentalista? Ou foi para justificar a “pauleira” da OTAN sobre Kadafi? Se há uma guerra cínica é esta da OTAN contra a Líbia: nenhuma justificativa que não seja para fortalecer o tal Conselho do Golfo, comandado pela Monarquia da Arábia Saudita, uma das mais sujas lutas do mundo atual.

O que a Europa ganha mesmo com a aliança das monarquias sunitas? Isso já se viu aos montões na guerra fria e o emblema é a Somália: um dia pró-rússia e outro pró-EUA. Agora mesmo é o Afeganistão. Afinal dizem: a reunião rendeu mesmo para apoiar as revoltas populares no Norte da África. Agora perguntem o que pensam aqueles senhores que se reúnem num “grupo sem nome” sobre as revoltas populares da Espanha, Portugal e quando chegarem à Itália e à França?

Os atores menores da história, pela fraqueza ontológica, são essencialmente cínicos. Precisam da pantomima para esconder a insignificância. Nos salões de joelhos e dentes arreganhados para os banqueiros e nas televisões encenando a pose de estadistas. Não enfrentam as grandes contradições de sua era. São apenas “pau mandado” e como “pau mandado” eles apenas batem, não criam nada.

Viram que outro assunto os heróis dos sem nome trataram? A internet! Não! Coisa alguma. Lembram as aquisições milionárias recentes envolvendo Microsoft e outras como a Google? Lembram das notícias implantadas dando conta de fragilidades de um lado e outro dos gigantes da internet? Mais uma bolha se anuncia para estourar a poupança dos velhinhos da Costa Leste.

Os sem nomes têm seus interesses a preservar. O FMI vai para um Europeu com a finalidade de ditar normas para as agruras econômicas dos outros, especialmente nos BRICS. Viram como a disputa ficou acirrada? O Sarkô ficou fulo com o Brasil, ameaçou retirar o apoio a que este ocupasse um veto no conselho de segurança da ONU.

O que não faltou na reunião e o no périplo do grande líder das Américas foram grosserias com os BRICS. Agora a cara amarrada do presidente da Rússia na hora de anunciar o “fracasso” das conversas sobre o escudo Polonês, deu um prazer sádico essencial.
Um dos maiores poetas do Cariri e porque não dizer do Brasil,lançara em breve um de seus grandes livros de poemas.Eu tive a felicidade de fotografar e fazer a capa do seu livro,e afirmo é com certeza um dos melhores livros de poemas que eu já li.Grande luz espiritual para um grande poeta Cleilson Ribeiro,que é Professor de literatura e compositor.

             Do equilíbrio

O equilíbrio
a escolha
o insulto
como subterfúgio,
e distende seu bigode íngreme
dentre farpas e horizontes engaiolados.
Sua língua
sua sargaços contidos
na tensa vastidão da geometria do medo.

 No estômago,
não guarda claridão alguma,
mas auspicia o remorso de um pássaro
em repouso,
planejando derreter
os resíduos da linguagem
dos caminhos.
Cleilson Ribeiro

Fotografia e capa do livro:Wilson Bernardo 

"PT esqueceu os trabalhadores", por Mino Carta

"A posição da mídia nativa em relação ao Caso Palocci intriga os meus inquietos botões. Há quem claramente pretenda criar confusão. Outros tomam o partido do chefe da Casa Civil. Deste ponto de vista a Veja chega aos píncaros: Palocci em Brasília é o paladino da razão e se puxar seus cadarços vai levitar.
Ocorre que Antonio Palocci tornou-se um caso à parte ao ocupar um cargo determinante como a chefia da Casa Civil, mas com perfil diferente daqueles que o precederam na Presidência de Lula. José Dirceu acabou pregado na cruz. Dilma foi criticada com extrema aspereza inúmeras vezes e sofreu insinuações e acusações descabidas sem conta. A bem da sacrossanta verdade factual, ainda no Ministério da Fazenda o ex-prefeito de Ribeirão Preto deu para ser apreciado pelo chamado establishment e seu instrumento, a mídia nativa.
As ações de Palocci despencaram quando surgiu em cena o caseiro Francenildo, e talvez nada disso ocorresse em outra circunstância, porque aquele entrecho era lenha no fogo da campanha feroz contra a reeleição de Lula. Sabe-se, e não faltam provas a respeito, de que uma contenda surda desenrolava-se dentro do governo entre Palocci e José Dirceu. Consta que o atual chefe da Casa Civil e Dilma não se bicavam durante o segundo mandato de Lula, o qual seria enfim patrocinador do seu retorno à ribalta.
E com poderes largos, como grande conselheiro, negociador junto à turma graúda, interlocutor privilegiado do mercado financeiro e do empresariado, a contar com a simpatia de amplos setores da mídia nativa. Um ex-trotskista virou figura querida do establishment, vale dizer com todas as letras. Ele trafega com a devida solenidade pelas páginas impressas e nos vídeos, mas é convenientemente escondido quando é preciso, como se envergasse um uniforme mimético a disfarçá-lo na selva da política.
Murmuram os botões, em tom sinistro e ao mesmo tempo conformado: pois é, a política… Está claro que se Lula volta à cena para orquestrar a defesa de Palocci com a colaboração de figuras imponentes como José Sarney, o propósito é interferir no jogo do poder ameaçado e garantir a estabilidade do governo de Dilma Rousseff, fragilizado nesta circunstância.
A explicação basta? Os botões negam. CartaCapital sempre se postou contra a busca do poder pelo poder por entender que a política também há de ser pautada pela moral e pela ética, igual a toda atividade humana. Fatti non foste a viver come bruti, disse Dante Alighieri. Traduzo livremente: vocês não foram criados para praticar, embrutecidos, a lei do mais forte. Nós de CartaCapital poderemos ser tachados de ingênuos, ou iludidos nesta nossa crença, mas a consideramos inerente à prática do jornalismo.
No tempo de FHC, cumprimos a tarefa ao denunciar as mazelas daqueles que Palocci diz imitar, na aparente certeza de que, por causa disso, merece a indulgência plenária. Luiz Carlos Mendonça de Barros, André Lara Rezende, e outros fortemente enriquecidos ao deixarem o governo graças ao uso desabrido da inside information, foram alvo de CartaCapital, e condenados sem apelação. Somos de coerência solar ao mirar agora em Antonio Palocci.
Em outra época, os vilões foram tucanos. Chegou a hora do PT, um partido que, alcançado o poder, se portou como os demais, clubes armados para o deleite dos representantes da minoria privilegiada. Devo dizer que conheço muito bem a história do Partido dos Trabalhadores. A primeira reportagem de capa publicada por uma semanal sobre a liderança nascente de Luiz Inácio da Silva, dito o Lula, remonta a começos de fevereiro de 1978. IstoÉ foi a revista, eu a dirigia. Escrevi a reportagem e em parceria com Bernardo Lerer entrevistei o então presidente do Sindicato dos Metalúrgicos de São Bernardo e Diadema, na vanguarda de um sindicalismo oposto ao dos pelegos.
Dizia a chamada de capa, estampada sobre o rosto volitivo do jovem líder: Lula e os Trabalhadores do Brasil. Já então sabia do seu projeto, criar um partido para defender pobres e miseráveis do País. Acompanhei a trajetória petista passo a passo e ao fundar o Jornal da República, que nasceu e morreu comigo depois de menos de cinco meses de vida, fracasso esculpido por Michelangelo em dia de desbordante inspiração, passei a publicar diariamente uma página dedicada ao trabalho, onde escreviam os novos representantes do sindicalismo brasileiro. Ao longo do caminho, o partido soube retocar seu ideário conforme tempos diferentes, mas permaneceu fiel aos propósitos iniciais e como agremiação distinta das demais surgidas da reforma partidária de 1979, marcado por um senso de honestidade e responsabilidade insólito no nosso cenário.
Antonio Palocci é apenas um exemplo de uma pretensa e lamentável modernidade, transformação que nega o passado digno para mergulhar em um presente que iguala o PT a todos os demais. Parece não haver no Brasil outro exemplo aplicável de partido do poder, é a conclusão inescapável. Perguntam os botões desolados: onde sobraram os trabalhadores? Uma agremiação surgida para fazer do trabalho a sua razão de ser, passa a cuidar dos interesses do lado oposto. Não se trataria, aliás, de fomentar o conflito, pelo contrário, de achar o ponto de encontro, como o próprio Lula conseguiu como atilado negociador na presidência do sindicato.
Há muito tempo, confesso, tenho dúvidas a respeito da realidade de uma esquerda brasileira, ao longo da chamada redemocratização e esgotadas outras épocas em que certos confrontos em andamento no mundo ecoavam por aqui. Tendo a crer, no momento, que a esquerda nativa é uma criação de fantasia, como a marca da Coca-Cola, que, aliás, o mítico Che Guevara bebia ironicamente às talagadas na Conferência da OEA, em 1961, em Punta del Este. Quanto à ideologia, contento-me com a tese de Norberto Bobbio: esquerdista hoje em dia é quem, aspirante à igualdade certo da insuficiência da simples liberdade exposta ao assalto do poderoso, luta a favor dos desvalidos. Incrível: até por razões práticas, a bem de um capitalismo necessitado de consumidores.
Nem a tanto se inclina a atual esquerda verde-amarela, na qual milita, digamos, o ultracomunista Aldo Rebelo, disposto a anistiar os vândalos da desmatação. E como não anistiar o ex-camarada Palocci? Lula fez um bom governo, talvez o melhor da história da República, graças a uma política exterior pela primeira vez independente e ao empenho a favor dos pobres e dos miseráveis, fartamente demonstrado.CartaCapital não regateou louvores a estes desempenhos, embora notasse as divergências que dividem o PT em nome de hipócritas interpretações de uma ideologia primária.
Na opinião de CartaCapital, e dos meus botões, não é tarefa de Lula defender o indefensável Antonio Palocci, e sim de ajudar a presidenta Dilma a repor as coisas em ordem, pelos mesmos caminhos que em 2002 o levaram à Presidência com todos os méritos."
Editorial da Revista Carta Capital

sexta-feira, 27 de maio de 2011

Hello !


Defronte do Copacabana Palace, no Rio, no domingo dia vinte e dois de maio, uma multidão olhava para a janela da suíte presidencial, quase a quebrar o pescoço, esperando pelo aparecimento, por um mínimo instante que fosse, do seu ídolo. A turba formava-se por muitas gerações : bisavôs, avôs, filhos, netos. Uma senhora, passando pelo calçadão, arrastando seu poodle estranhou aquela atitude. “Um bando de gente desse, olhando para cima, como bestas, esperando o quê? Outro besta aparecer lá em cima?” Um rapazinho de uns vinte e poucos anos, fita-a seriamente e diz:

--- Minha , senhora! O que é isso? Respeite a religião dos outros! Se a senhora soubesse que Jesus estava hospedado aqui, não estaria ajoelhada neste calçamento? Pois ali em cima se encontra meu deus! Respeite a minha religião!

Pertinho, um outro rapazinho conversa com amigos e informa que não vai dar mais para esperar. Tem que ir para o Engenhão, render alguns amigos que estão na fila e precisam almoçar. E diz: “Estamos acampados lá desde quarta-feira, queremos ficar pertinho de Paul!”. À noite, no estádio, uma fila quilométrica aguardava a abertura dos portões. Pessoas de todas as idades estavam prontas a suportar mais de nove horas em pé, deslumbradas e anestesiadas com possibilidade de, após a maratona, estarem pertos, num show inesquecível, de São Paul McCartney de Liverpool. Avós, filhos, netos, das mais variadas regiões do país – umas quatro gerações --- ali estavam firmes e fortes. Alguns já tendo feito igual peregrinação nos shows anteriores de São Paulo, Porto Alegre e Buenos Aires. À nossa frente, uma senhora testemunha dos dourados anos sessenta, nos disse ter comprado ingressos para vir ao show daquele domingo e da segunda-feira. Passadas as longas seis horas aguardando o ídolo, uma platéia aparentemente estafada simplesmente ressuscitou quando Sir Paul apareceu no palco, com sua banda competentíssima e, sem muitas pirotecnias, sustentou um inesquecível Show de três horas. É que todos, totalmente reconfortados, assistiam à sua frente um show não de Paul mas do “The Beatles”.

Em pleno Império do Efêmero , pus-me a pensar: o que dá a uma obra tintas de eternidade? Ali estavam quatro gerações comigo, não de apreciadores da Banda, mas de Beatlomaníacos! Como aquilo era possível, se a primeira e mais primal atitude dos jovens é jogar no lixo tudo o que a geração anterior apreciou? Em plena era do Forró de Plástico, do Breganejo, do Axé Insosso, onde o sucesso dura no máximo alguns dias e as bandas nascem e morrem numa velocidade estonteante, como explicar a perenidade e a blindagem dos Beatles?

Queóps construiu sua pirâmide dois milênios e meio antes de Cristo.O faraó ergueu sua tumba gigantesca esperando ali ficar aguardando a ressurreição, ou seja moveu-o a busca da imortalidade. No fundo, toda obra de arte é uma nova pirâmide feita pelo artista, na quase sempre inglória tentativa de com ela driblar a morte e o esquecimento.A possibilidade quase que única de sobrevivermos de alguma maneira ao desaparecimento físico inexorável. A música que se faz hoje, quase sempre, na sua volatilidade, nada tem de ritualística e nem pode pretender ser arrolada como Arte. São casas de adobe, sem alicerce, para o pouso temporário e incerto de alguns. Feitas para o entretenimento daquele instante, daquele momento específico, rui como por encanto à primeira neblina. Sequer os bordões permanecem: “minha eguinha pocotó”, “minha mulher não deixa não”, “Ah, eu tô maluco!”

As tintas da eternidade são perseguidas por todos os artistas e, no fundo, é o moto-contínuo do seu fazer artístico. Mas não basta querer a permanência simplesmente. Nem mesmo a qualidade inequívoca da obra reconhecida hoje lhe dá, a certeza da permanência. Alexandre Dumas foi o mais reconhecido escritor da sua geração, assim como Anatole France e, nem por isso, a vivacidade das suas obras resistiram totalmente ao impacto do tempo. Balzac e Baudelaire, bem menos incensados enquanto viveram, criaram uma vitalidade impressionante com o passar dos anos. Além da qualidade temporal imprescindível da obra de arte, essa necessita de alguns outros atributos para as banharem de eternidade. Faz-se mister genialidade. O grande artista é sempre um visionário e consegue imprimir um profundo ar de atemporalidade naquilo que faz. Tantas e tantas vezes passa totalmente despercebido por seus contemporâneos, simplesmente porque pinta na tela do hoje utilizando as tintas do futuro.

Se a impermanência é o atributo mais palpável do reino animal, rescendeu um ar de eternidade , de divino quando Paul subiu ao palco do Engenhão no domingo. Como se todos estivessem diante da pirâmide e de lá saísse um Queóps redivivo dizendo Hello! e nunca, nunca mais, Good Bye!

J. Flávio Vieira

Vôo 447: os horripilantes minutos finais - José Nilton Mariano Saraiva

Senhores,
Por entendermos ser de interesse geral, tomamos a liberdade de transcrever, abaixo, ipsis litteris, o relatório (parcial) sobre a queda no Oceano Atlântico do avião que fazia a rota Rio de Janeiro-Paris, também conhecido por Vôo 447. Parem um pouco e imaginem o pavor experimentado pelas 228 pessoas a bordo, naqueles horripilantes minutos finais.

José Nilton Mariano Saraiva

Balanço da investigação sobre o acidente do vôo AF 447 ocorrido em 1º de junho de 2009 (www.bea.aero) - 27 maio 2011
PREFÁCIO ESPECIAL AO TEXTO PORTUGUÊS
Este texto foi traduzido e publicado pelo BEA a fim de facilitar a leitura pelos falantes brasileiros. Tão exata quanto a tradução possa ser, é o texto original em francês que deve ser considerado como o trabalho da referência.
Histórico do voo
No domingo, 31 de maio de 2009, o Airbus A330-203, matrícula F-GZCP, operado pela Air France foi programado para efetuar o voo regular AF447 entre o Rio de Janeiro Galeão e Paris Charles de Gaulle. Doze tripulantes (3 PNT, 9 PNC) e 216 passageiros estão a bordo. A partida está prevista para as 22 h 00(1). Às 22 h 10 a tripulação tem permissão para ligar os motores e deixar o pátio. A decolagem ocorreu às 22 h 29. O comandante de bordo é PNF, um dos copilotos é PF. O peso na decolagem é de 232,8 t (para um MTOW de 233 t), e inclui 70,4 toneladas de combustível. À 1 h 35 min e 15 s, a tripulação informou o controlador ATLÂNTICO que passou o ponto INTOL e anuncia a seguinte estimativa: SALPU às 1 h 48 e ORARO às 2 h 00. Ela também transmite o seu código SELCAL e um teste é realizado com sucesso. À 1 h 35 min 46 s, o controlador pediu que ele mantenha FL350 e informe sua estimativa para o ponto TASIL.
À 1 h 55, o comandante de bordo desperta o segundo copiloto e diz «[...] vá tomar o meu lugar». Entre 1 h 59 min 32 s e 2 h 01 min 46 s o comandante de bordo assiste ao briefing entre os dois copilotos, onde PF disse principalmente que «o pouco de turbulência que você acabou de ver [...] devemos encontrar outras mais à frente [...] estamos na camada, infelizmente não podemos subir muito mais agora porque a temperatura está diminuindo menos rapidamente do que o esperado» e que «o logon com Dakar falhou». O comandante de bordo deixou a cabine.
A aeronave se aproxima do ponto ORARO. Ela voa em nível de voo 350 e à velocidade Mach de 0,82; a atitude longitudinal é de cerca de 2,5 graus. O peso e o centro de gravidade do avião são de cerca de 205 toneladas e 29%. O piloto automático 2 e auto-impulsão são ativados. Às 2 h 06 min 04 s, o PF chamou os PNC e lhes disse que «em dois minutos devemos atacar uma área mais agitada do que agora e devemos tomar cuidado lá» e acrescenta «eu lhe ligo logo que sairmos de lá». (1)O tempo universal (TU) é a referência de tempo utilizado na aviação).
As 2 h 08 min 07 s o PNF propõe «você pode, possivelmente, levar um pouco para a esquerda [...]». A aeronave começou uma ligeira virada para a esquerda; o desvio em relação à rota inicialmente seguida é de cerca de 12 graus. O nível de turbulências aumenta ligeiramente e a tripulação decide reduzir o Mach para 0,8. A partir das 2 h 10 min 05 s o piloto automático e em seguida a auto-implusão são desativados e PF anuncia «eu tenho os comandos». A aeronave rolou para a direita e PF exerce uma ação à esquerda e de elevação do nariz. O alarme de perda dispara duas vezes. Os parâmetros registrados mostram uma queda brutal de cerca de 275 kt para 60 kt da velocidade mostrada do lado esquerdo e poucos momentos depois a velocidade mostrada no instrumento de resgate (ISIS). (Nota 1: apenas as velocidades mostradas no lado esquerdo e no ISIS foram registradas no registrador de parâmetros; a velocidade mostrada no lado direito não foi registrada. Nota 2: o piloto automático e a auto-impulsão permaneceram desligados até o final do voo).
As 2 h 10 min 16 s, o PNF disse «perdemos as velocidades» e em seguida «alternate law {...]». (Nota 1: a incidência é o ângulo entre o vento relativo e o eixo longitudinal da aeronave. Esta informação não foi apresentada aos pilotos. Nota 2: em regras alternative ou directe, as proteções em incidência não estão mais disponíveis, mas um alarme de perda (stall warning) é ativado quando o maior dos valores de incidência válidos excede um determinado limite).
A atitude da aeronave aumenta gradualmente para acima de 10 graus e leva a uma trajetória ascendente. PF exerce ações de pique e alternadamente da direita para a esquerda. A velocidade vertical, que tinha atingido 7.000 pés/min, diminuiu para 700 pés/min e a rolagem varia entre 12 graus à direita e 10 graus à esquerda. A velocidade mostrada à esquerda aumentou brutalmente para 215 kt (Mach de 0,68). A aeronave se encontra então a uma altitude de cerca de 37.500 pés e a incidência registrada é de cerca de 4 graus. A partir das 2 h 10 min 50 s, o PNF tentou por várias vezes chamar o comandante de bordo. Às 2 h 10 min 51 s o alarme de perda soa novamente. Os manches de controle de impulso são colocados na posição TO/GA e o PF mantém sua ordem de elevar o nariz. A incidência registrada, de cerca de 6 graus no disparo do alarme de perda, continua a aumentar. O estabilizador horizontal regulável (PHR) passa de 3 para 13 graus de levantar o nariz em 1 minuto aproximadamente; ele permanecerá nesta última posição até o fim do voo. Quinze segundos depois, a velocidade mostrada no ISIS aumenta abruptamente para 185 kt; ela é consistente com a outra velocidade registrada. PF continua a dar ordens de elevar o nariz. A altitude da aeronave atinge o seu máximo de cerca de 38.000 pés, sua atitude e sua incidência são de 16 graus (Nota: a inconsistência entre as velocidades indicadas no lado esquerdo e na ISIS durou pouco menos de um minuto).
Às 2 h 11 min 40 s o comandante de bordo retorna à cabine. Em poucos segundos, todas as velocidades registradas se tornam inválidas e o alarme de perda pará (Nota: quando as velocidades medidas são inferiores a 60 kt, os valores medidos das incidências são considerados inválidos e não são considerados pelos sistemas. Quando são inferiores a 30 kt, os valores de velocidade por si só são considerados inválidos).
A altitude está, então, em cerca de 35.000 pés, a incidência ultrapassa 40 graus e a velocidade vertical é de aproximadamente -10.000 pés/min. A atitude da aeronave não excede 15 graus e os N1 dos motores estão perto de 100%. A aeronave sofre oscilações de rolagem que atingem por vezes 40 graus. O PF exerce uma ação no manche no limite para a esquerda e de levantar o nariz, que dura cerca de 30 segundos. As 2 h 12 min 02 s, o PF disse «eu não tenho mais nenhuma indicação», e o FNP disse «não temos nenhuma indicação que seja válida». Neste ponto, os manches de comando de impulsão estão na posição IDLE, os N1 dos motores estão em 55%. Quinze segundos depois, o PF faz ações de pique. Nos instantes que se seguem, houve uma diminuição da incidência, as velocidades tornam-se novamente válidas e o alarme de perda é reativado. Às 2 h 13min 32 s, PF disse «vamos chegar ao nível cem». Cerca de quinze segundos depois, ações simultâneas dos dois pilotos nos mini-manches são registradas e PF diz «vamos lá, você tem os comandos» (A incidência, quando é válida, está sempre acima de 35 graus).
Os registros param às 2 h 14 min 28 s. Os últimos valores registrados são velocidade vertical de -10.912 pés/min, velocidade de solo de 107 kt, atitude de 16,2 graus de elevação do nariz, rolagem de 5,3 graus à esquerda e um rumo magnético de 270 graus.
Novos fatos estabelecidos:
Nesta fase do inquérito, além dos relatórios do BEA, de 2 de Julho e de 17 de Dezembro de 2009, os novos fatos a seguir foram estabelecidos: A composição da tripulação estava em conformidade com os procedimentos do operador; No momento do evento, a massa e o centro de gravidade estavam dentro dos limites operacionais; No momento do evento, os dois copilotos estavam na cabine e o comandante de bordo em repouso, este último voltou para a cabine cerca de 1 minuto 30 s após a retirada do piloto automático. Houve uma inconsistência entre a velocidade indicada no lado esquerdo e a indicada no instrumento de resgate (ISIS). Durou pouco menos de um minuto.
Após o desligamento do piloto automático:
a aeronave subiu para 38.000 pés; o alarme de perda soou e o avião entrou em perda; as ordens de PF foram principalmente de elevar o nariz; a descida durou 3 min 30 s, durante o qual a aeronave permaneceu em situação de perda. A incidência aumentou e se manteve acima de 35 graus; os motores estavam em funcionamento e sempre responderam aos comandos da tripulação. Os últimos valores registrados são atitude de 16,2 graus de elevação do nariz, rolagem de 5,3 graus na esquerda e velocidade vertical de -10.912 pés/min.

Bureau d’Enquêtes et d’Analyses pour la sécurité de l’aviation civile Zone Sud - Bâtiment 153 - 200 rue de Paris - Aéroport du Bourget - 93352 Le Bourget Cedex FRANCE
T. : +33 1 49 92 72 00 - F : +33 1 49 92 72 03 - www.bea.aero

Falar em nome das matas - Emerson Monteiro


O projeto agora anda da Câmara para o Senado, mais para espantalho do que para código florestal. Espécie de lei remendo a tudo que se perpetrou até agora nas matas brasileiras, no afã dessa febre dos industriais no campo, a agroindústria exportadora, e da produção de carne para o mercado externo, a toque de caixa. Mundo desigual de tanta fome e tanto estrago. Os vegetais não têm deputados, senadores, advogados. Têm os donos das terras que tomaram dos índios, que receberam de herança, que compraram ao preço de banana, que desmatam e fica por isso mesmo, nessa ganância de ouro fácil. Defender o que, senhor parlamentar? As furnas das onças, os buracos dos tatus, as camas das pacas? Argumentar com o quê, senhor parlamentar? Com as cantigas dos matutos abilolados na faina de puxar cobra para os pés, e apurar quase nada ao final dos invernos? Ouvir o canto dos pássaros para quê, senhores, quando as parafernálias eletrônicas ecoam de norte a sul do País, nos forrós melados desse universo troncho da ressaca nacional, frutos negros da cultura de massa? Sim, o som estridente das motosserras e dos tratores do progresso invadindo tudo que pareça verde e que, vendido a troco de muambas, virá festa, nos salões amarelados das cidades de trastes engarrafados e brilhosos. Os gritos dos capitães da grilagem, caçadores com a espingardas dos outros. Grande farra coletiva, nesses tempos de pouca solidariedade e muito lucro. Há um protesto congelado nos ares da política pragmática e mercantil. Há dores caladas nos cantos escondidos das florestas esturricadas, abandonadas à própria ganância. Ninguém pode além de nada, nos tristes trópicos acelerados para que as florestas permaneçam nacionais, invés da dominação do Império avassalador. Quem contará essa história da entrega da alma cativa aos inúteis da fragilidade, aos apáticos e indiferentes? Quantas perguntas lançadas ao vento, nas manhãs melancólicas dos finais de natureza. Apenas reservos de poucas plantas restarão emolduradas aos quintais dos ricos, enquanto na praça da apoteose crescem os pretendentes aos postos de comando e erários públicos órfãos da cidadania.
Isto porque vejo pouca chance para as leis conscientes e que contemplem a realidade verdadeira dessa humanidade insana. O Brasil, nação estratégica dos novos tempos, quando acordará a isso, sem procurar conciliar os ânimos destrutivistas do que resta de patrimônio nativo?
A propósito, minha homenagem ao casal José Cláudio Ribeiro da Silva e sua mulher Maria do Espírito Santo da Silva, mortos a tiros na madrugada desta terça-feira (24 de maio de 2011) na área rural do município de Nova Ipixuna, sul do Pará. Eles só lutaram com autenticidade em nome da conservação da natureza!

quinta-feira, 26 de maio de 2011

Veto ao kito contra a homofobia se baseou numa armação? - José do Vale Pinheiro Feitosa

Como tomamos conhecimento de uma informação diz muito como a informação é trabalhada. Em outras palavras, toda informação tem um trabalho que lhe dar um sentido. Um interesse por trás da informação e por isso mesmo, na rede de informações em que se transformou a cultura vigente, não é muito bom fundir informação com verdade de modo a priori.

Ontem estava almoçando no centro do Rio com um grupo de advogados, intelectuais e médicos quando surgiu a história do “Kit-gay” que se estaria implantando nas escolas. O “informante” narrava um vídeo em que duas crianças do sexo masculino se encontravam num banheiro e uma delas ao olhar o pênis do outro entraria num debate sobre as opções sexuais que poderia, livremente, ter na vida.

No modo como se apresentaria o vídeo, seria um estímulo à homossexualidade. Isso como instrumento de governo é grave, uma vez que a solução ocorre na cultura e não no proselitismo de um comportamento ou outro. Aliás, a solução do vídeo, se verdadeira, estaria na própria contramão da luta contra a homofobia, pois não apresentaria nenhuma fobia, mas apenas uma mera questão de opção sexual. Daí que o governo poderia fazer vídeos apenas reforçando a heterossexualidade. Faltaria equilíbrio político numa proposta como apresentada pelo “informante”.

Como não conhecia o vídeo e estava escaldado com a história do tal livro que ensinaria nas escolas a falar errado, afinal fui ler um PDF do tal livro para concluir pela falsidade da mídia, perguntei ao “informante”: você viu o vídeo? Ele me respondeu que não e lhe disse que tivesse cuidado, pois havia muita manipulação na internet e entre as pessoas.

Cheguei em casa e ao abrir a televisão a Presidenta Dilma Roussef, tendo como porta voz o Gilberto Carvalho, secretário da Presidência, mas muito ligado à Igreja Católica, havia vetado o tal kit do MEC, agora explicado como contra a homofobia. Aí eu me perguntei: o “informante” teria razões implícitas?

Qual o quê? Tudo leva a crer que a presidenta foi enrolada numa grande armação vinda de grupos evangélicos e tendo como líder o ex-governador Anthony Garotinho. Eles levaram à presidenta um kit que seria do Ministério da Saúde, voltado para programas de adultos e outros para Agentes de Saúde que têm de trabalhar com conhecimentos mais específicos. Uma armação de má fé que não conduz senão às trevas na evolução histórica da humanidade.

É bem verdade que este grupo tão logo saiu da audiência com a Presidenta aproveitou para deixá-la em saia justa. Insinuaram que fora uma troca em não abrir investigação contra Palocci. Se isso não dá nenhuma lição de ética ao grupo de Garotinho, mas demonstra que eles querem sangrar a Presidenta sujeitando-a, publicamente, a uma suposta aceitação de chantagem.

Independente de qual opinião cada um tenha sobre este assunto, no mínimo deve ter a consciência que não se evolui com práticas iguais a esta.