sexta-feira, 17 de junho de 2011

Manter a mensagem e o debate - José do Vale Pinheiro Feitosa

Tempos atrás, com a cabeça cheia de pressões, contradições, disputas, vitórias e derrotas, agora estava naquele momento de paz com o objetivo de retornar revigorado ao movimento. Encontrava-me num grande quintal nordestino. Cheio de plantas, réstias de luz, sombras e sol a pino. Os ouvidos tomados pelo barulho da folhagem movida pela constante brisa de Paracuru.

Era o paraíso da vida urbana agitada. Tudo acontecia num ritmo suave e meu espírito era pura contemplação. Naquele momento pensava: isto sim é vida, tudo o mais é a necessidade de estar no mundo. Não tinha como fugir, mas poderia ter um modelo alternativo de paz e este era aquele quintal.

Qual nada! Uma vizinha furibunda com as frutas que iam do meu quintal para o dela, abriu um conflito de jogar, de modo imprevisto, as frutas de retorno ao meu. De repente poderia ser acertado por uma graviola bichada pintada por um fungo preto. Nem ali poderia esquecer-me do mundo, das pessoas iguais a mim, houve o impulso do indignado, mas evolui para a reflexão das permanências de fronteiras. Alguém está em algum lado que nem sempre é o meu.

Isso me lembra uma música do Chico Buarque feita para fustigar o ex-presidente Geisel que disse não gostar dele, enquanto a filha do general gostaria. A verdade é que ninguém precisa saber do meu quintal, mas é importante que alguém compreenda a minha busca de compreensão do mundo. Não concorde com ela, mas saiba que assim imagino. Não tem problema que aponte meus erros, mas sem jogar graviola podre em cima de mim.

Isso vem muito a propósito do motivo pelo qual escrevo para os blogs do Crato. Aliás, os únicos para os quais escrevo. Tudo o mais que estiver publicado não foi pelos meus dígitos. E quando abordo qualquer assunto, mesmo que não seja do agrado de outras pessoas, não imagino a concordância, mas, no mínimo, o brilho do contraditório.

Quando alguém me diz que gosta do que digo sobre determinados assuntos, mas que não deveria falar do que não é a minha “especialidade” funciona comigo como uma fruta jogada do outro lado do muro. No dia em que um assunto não puder ser tratado por um cidadão, este assunto não existe. Isso é coisa de sociedade secreta, de iluminados, de mensagens cifradas.

Se estamos todos aqui discutindo política, cultura, economia, filosofia e o cotidiano o mais certo é que as visões se multipliquem. Quando não gostamos da abordagem de alguém, tratemos de analisar, refletir e se estiver com o conteúdo que julgue importante contrapor-se tem por sentido a obrigação de fazê-lo. E também se não tiver interesse em participar de eventuais querelas não o faça. O que não é legal é ficar com raiva, querendo jogar frutas em quem discorda.

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