quinta-feira, 27 de outubro de 2011

“Intocáveis” e “inimputáveis”– José Nilton Mariano Saraiva

Não é de hoje que os “intocáveis” membros do nosso poder Judiciário, encastelados em suas redomas, se acham na berlinda, principalmente em razão das decisões pra lá de contestáveis de alguns de seus integrantes (principalmente nos seus “tribunais superiores”).
Tido e havido - em tempos outros - como o último guardião da moralidade, o ícone maior da respeitabilidade, o refúgio dos descamisados, o justiceiro dos desvalidos, na prática diária os seus integrantes apresentam um “modus operandi” que depõe contra tudo isso (embora não se possa provar absolutamente nada contra nenhum deles, vez que as coisas são muito bem “amarradas”). E ai de você, se ousar se meter a besta, e reclamar.
Quem não lembra, por exemplo, que meses atrás o então Presidente do Supremo Tribunal Federal, Gilmar Mendes, literalmente “peitou” todos os companheiros de toga, atropelou ritos consagrados do julgamento processualístico e se indispôs com boa parte dos integrantes do Judiciário, com o fito único e exclusivo (e obteve sucesso) de soltar da prisão o banqueiro-bandido Daniel Dantas, “engaiolado” duas vezes por decisão do austero juiz Fausto de Sanctis, em razão das comprovadas falcatruas no mercado financeiro ??? E isso depois que o próprio banqueiro-bandido afirmou calma e peremptoriamente que não estava preocupado, porquanto, quando a ação chegasse às instâncias superiores, teria a prisão revertida. Não deu outra. A troco de quê ???
Quem não recorda que, após ser condenado pela Justiça Federal do Ceará em três julgamentos (em todos eles à pena de 14 (quatorze) anos de reclusão, em regime fechado), em razão das portentosas fraudes processadas na contabilidade da instituição à qual presidida (BNB), e que deixaram um rombo estratosférico (sete bilhões de reais), o senhor Byron Costa de Queiroz deu um jeito de (recorrer) levar a questão pra ser julgada no Tribunal Regional Federal do Recife, onde foi novamente julgado e (incrivelmente) inocentado “por unanimidade” pelos senhores Desembargadores daquela Corte ??? Será que os juizes da Justiça Federal do Ceará se sentiram desmoralizados ??? Hoje, o “coitado” do Byron Queiroz (que é afilhado do senhor Tasso Jereissati) vice a freqüentar as “rodas sociais” de Fortaleza, e não perde a oportunidade de gozar com os funcionários da instituição. A troco de quê ???
Atualmente, aqui em Fortaleza, um fato inusitado envolve (em suspeitas mil) mais um integrante do Judiciário, a saber: conforme determina a lei, é terminantemente proibido desmatar e construir em Áreas de Relevante Interesse Ecológico (Arie) em razão da grave e irreversível lesão ambiental que pode provocar.
Pois bem, o “Parque do Cocó” é uma dessas áreas que funciona como uma espécie de “pulmão” da nossa hoje abrasiva e sufocada Fortaleza, e onde você pode exercitar-se respirando o pouco de ar puro que ainda nos resta (não custa lembrar que, lá atrás, quando a “questão ambiental” não tinha a relevância que tem hoje, o empresário Tasso Jereissati construiu o seu Shopping Iguatemi exatamente no coração daquela imensa e aprazível área verde; e, embora depois tenha havido contestação, como o homem tem grana a coisa ficou o dito pelo não dito).
Fato é que, assim como “sobra” ambição desmedida e “falta” preocupação para com tão relevante tema, tais terrenos virgens foram adquiridos (certamente que a preço de banana) por gente esperta e inescrupulosa, criou-se uma Associação Cearense dos Empresários da Construção e Loteadores (Acecol) e a intenção é desmatar toda a área, passar por cima do que se constituir obstáculo e construir os espigões da vida.
Os mafiosos empresários recorreram a quem, a fim de perpetrar tão acintoso crime ??? Elementar, meu caro Watson: a um dos integrantes do nosso Judiciário. E ali contaram com a compreensão, simpatia e benevolência do juiz Francisco das Chagas Barreto, que já emitiu um parecer favorável ao desmatamento e à construção. A tal “questão ambiental” que se exploda. A troco de quê ???
Há uma luz no fim do túnel, no entanto: lá em Brasília, a ministra Eliana Calmon, do próprio Supremo Tribunal Federal, navegando contra meio-mundo de gente, confirmou, sim, que há “bandidos de toga”, enquanto que uma pesquisa recente mostra que entre onze instituições avaliadas pelo povo, o Poder Judiciário só perde para aquela outra instituição onde a maioria tem pós-graduação e doutorado em “picaretagem”: o Congresso Nacional.
O bicho pega é quando lembramos que eles, além de “intocáveis”, são, também, “inimputáveis” (mas vamos chegar lá).

Nenhum comentário:

Postar um comentário