quinta-feira, 10 de novembro de 2011

Igreja e poder: “totatus dictatus papa” (Leonardo Boff)

Todo poder é autoritário, seja nazista ou fascista, porquanto altamente negador da ternura, da sexualidade, da intimidade. E NA IGREJA HÁ ISSO; ENTÃO É UM PODER ALTAMENTE AUTORITÁRIO. NO “CÂNON” QUE FALA DOS PODERES DO PAPA ELE É ABSOLUTO, ILIMITADO, UNIVERSAL, SOBRE CADA CRISTÃO, SOBRE TODA A IGREJA E... INFALÍVEL. SE VOCÊ RISCA “PAPA” E BOTA “DEUS”, VALE. ELE ATRIBUI A SI CARACTERÍSTICAS DIVINAS. Então, é um poder que em teologia se chama “totatus dictatus papa”, expressão latina que se criou no século XIV: literalmente traduzido, "a ditadura do papa".
Então, É ESSA A PERSPECTIVA DE UM PODER ALTAMENTE CENTRALIZADO, PIRAMIDAL E TOTALITÁRIO, QUE ENGLOBA TUDO, NÃO CONVIVE COM A FRAGILIDADE DO AMOR, DA SEXUALIDADE. A essa estrutura pertence o celibato e também o poder mais imediato: você não tem partilha, não tem herança, não tem de se preocupar com a educação dos filhos ou onde a mulher vai ficar, nada. Você se torna um soldado totalmente disponível à instituição.
Quanto à figura de Ratzinger, seja como mestre, como prefeito da congregação ou como Papa, eu diria que não há mudança substancial. Ele sempre manteve uma linha teológica de fundo inalterável, isto é, o projeto de construir a Igreja para dentro, reforçar as instituições eclesiásticas e a autoridade do Papa, revalidar o direito canônico, sublinhar uma leitura dogmática da fé cristã. Eu diria que em alguns destes aspectos ele, inclusive, radicalizou no sentido de que a fala de um Papa é muito mais poderosa do que a fala de um prefeito de uma congregação, porque este tem como objeto as doutrinas, enquanto o Papa tem como destinatário toda a Igreja.
NA MEDIDA EM QUE ESSE PAPA INSISTE ENORMEMENTE QUE IGREJA MESMO É SÓ A CATÓLICA E CONTINUA REPETINDO QUE AS DEMAIS IGREJAS NÃO SÃO IGREJAS E QUE AS DEMAIS RELIGIÕES NECESSITAM DE SALVAÇÃO, ELE TOMA PARA SI UM FUNDAMENTALISMO LIGHT. Por que fundamentalismo? Porque acentua de tal maneira a própria doutrina que exclui as demais e isso não parece ser a perspectiva do cristianismo originário, nem a perspectiva bíblica.

Texto: Leonardo Boff
Grifos: jnms (postador)

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