Aos fatos (reais): 1) uma sofrida mãe, beata católica de carteirinha, que de repente descobre que os seus sete filhos, todos do sexo masculino, haviam sofrido abuso sexual por parte do magnânimo e caridoso padre de uma comunidade de Boston (EUA); 2) homens, já formados, hoje casados e pais de família, que convivem com as teimosas e dolorosas recordações da meninice, quando foram vítimas indefesas da mesma figura (bem como com a lembrança de colegas que optaram pelo suicídio, por não suportarem o “peso da cruz”); 3) um diligente advogado - iniciante, esperto e à procura de projeção, evidentemente - disposto a ir fundo na tentativa de resgatar a dignidade dos clientes; 4) acomodados membros do poder judiciário, corruptos, blindados e indispostos em abrir o sigilo de documentos comprometedores (até que uma nova juíza, destemida e disposta a encarar a fera, surge); 5) repórteres de um influente jornal, que optam por “chutar o pau da barraca” e divulgam o contido nos documentos que lhes chegam as mãos; e, 6) no centro disso tudo, a Igreja Católica, vilã e responsável por tanta dor e sofrimento, a manobrar e praticar o “jogo pesado”, a fim que a verdade não venha à tona.
Esses, os elementos da trama que fazem com que o filme “POR TRÁS DA FÉ” (baseado em “fatos reais”) nos dê a oportunidade de tomar conhecimento da criminosa (e secular) atuação dos “padres-pedófilos”, que infernizaram a vida de muitos (e deixaram cicatrizes profundas e incuráveis), por esse mundo afora.
Aqui, especificamente, a história é centrada no “cardeal” americano Bernard Law (evidentemente que um dos eleitores do Papa) que, mesmo tomando conhecimento dos hediondos crimes praticados em sua Diocese (Boston/EUA), prefere apenas (e irresponsavelmente), transferir os acusados para outras paróquias distantes (onde continuaram a fazer e praticar a mesma sujeira, sem serem importunados).
Com a estrondosa repercussão do caso pela Imprensa, o advogado finda por conseguir permissão da nova Juíza para acessar os sigilosos documentos, mas descobre, também, que não pode processar a “instituição Igreja”; toma, então, uma decisão inédita: direciona seu foco para o próprio “cardeal” Bernard Law, exigindo sua presença no tribunal.
Isso marca intensamente a intimidade da própria Igreja, a ponto de, numa ação sem precedentes, 58 padres de Boston se reunir e enviarem uma carta ao “cardeal” Law, pedindo sua renúncia.
De pronto (e entre quatro paredes), o advogado das vítimas é convidado pelo representante da Igreja a firmar um “acordo”, que lhe permitirá “indenizar” os clientes que haviam sido prejudicados pela leniência de Bernard Law; uns, mais necessitados, aceitam de pronto, enquanto outros terminantemente recusam, já que o objetivo era o de levar o “cardeal” a júri popular, com reflexos na própria atuação da Igreja.
Fato é que, em razão da insuportável pressão popular, o “cardeal” Law finda por publicamente pedir demissão ao Papa João Paulo II, esperando que sua renúncia "...ajude a curar a ferida e trazer, para a arquidiocese de Boston, a reconciliação e a unidade que são extremamente necessárias" (uma “meia-vitória” das vítimas, já que evitou o julgamento).
Mas, como na Igreja impera a corrupção e o desmando, o (agora) “ex-cardeal” Bernard Law foi transferido pra Roma e (apesar das mostruosidades admitidas) nomeado pelo amigo João Paulo II para uma função de confiança, no Vaticano.
Vale a pena conferir. Um grande – realista e esclarecedor – filme.
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