quarta-feira, 16 de novembro de 2011

Tirem os síndico da jogada, chamem a Assembléia - José do Vale Pinheiro Feitosa

Daqui a um ano já saberemos quem serão os novos prefeitos das cidades brasileiras. Por isso mesmo as reuniões políticas e as ações práticas para formar alianças estão a todo vento. E aí começamos a ter alguns problemas típicos das representações.

Numa democracia mais direta, por exemplo, no Crato, esta fase ao invés das reuniões de cúpula poderia estar acontecendo em conferências (assembléias) populares em todos os bairros e distritos para montar um programa mínimo para os próximos quatro anos, além de analisar as alianças partidárias mais competentes para executar tais programas. Por exemplo, a situação do Rio Batateira.

Ao longo da sua calha se desenvolveu o uso intensivo de suas águas além de bairros imensos terem se criado sem condições alguma de saneamento. Uma política de saneamento para os bairros à suas margens, além do reflorestamento da sua calha e nascentes e o uso ordenado de suas águas é uma política complexa que depende de alianças populares e de partidos políticos.

Falamos de partidos políticos verdadeiros, mas não desta prática em que os pretensiosos apenas migram de uma sigla para outra numa falta completa de um programa partidário mínimo. As conferências populares seriam além do mais uma forma de fortalecer os partidos em suas contribuições específicas como o caso do partido verde, tomando-o como exemplo emblemático.

Se o partido verde se resumir a reunir-se com os pré-candidatos para formar suas alianças eleitorais, seguramente a gestão vindoura será a repetição do mesmo. Acontece que a cada dia e a cada ano a situação muda e os problemas na cidade se acumulam. A cada minuto mais o sentimento popular se dissocia dos partidos e da administração pública. Isso favorece a elite arcaica de sempre, mas também cria um passivo de atraso institucional, um déficit de meios e recursos municipais que revolta o povo e fica esta sensação de que nada melhora.

É nítido que o Crato sofre uma esvaziamento político que faz parte deste conservadorismo familiar que mais interesse tem nos próprios interesses do que no chamado interesse público. Ao invés de resolver as contradições, as enormes deficiências e atrair investimentos para a cidade: vivem num apressado correr entre as capitais e a cidade num estado de espírito em que a reunião de gabinete com pires na mão e o bom apetite de um restaurante da moda é mais importante do que a escola do bairro ou a calha do Rio Batateira.

Agora resta a questão principal. Quem organizará e formatará as conferências populares para tratar das questões dos bairros e dos distritos? Quem terá esta força desvinculada das famílias tradicionais e dos grupos políticos em luta? Quem poderá enxergar um palmo além do que Maurício Tavares disse ontem no Cariricult que “todas as províncias são iguais”?

Os grupos religiosos locais poderiam teoricamente, mas os neo-pentecostais se preocupam apenas com o sucesso do indivíduo e os católicos parecem acamados num “romanismo” meramente ritualístico e obediente. As universidades parecem fechadas em salas de aula. Os artistas vivem as angústias dos projetos para apresentarem e os minguados recursos para conquistarem. Os partidos se tornaram cartórios eleitorais através dos quais se aliam à elite e aos governos vigentes.

Ao lado disso o país vive um “estratégico” de desenvolver-se perigosamente federalizado e muito pouco municipalizado como esperávamos que acontecesse. Vejam que nossos comentaristas nunca discutem a miséria da política municipal, divagam nas questões federais. Aliás, o Maurício Tavares deixa isso muito claro: o medo que as pessoas têm da vingança do poder local. O poder emanado do povo através do ato simbólico do voto é corrupto até o ponto de nem permitir qualquer tipo de oposição a ele.

Mas levantar uma bola e não arremetê-la é um problema. Aí tento o que me vem no momento, já sabedor que as pessoas que vivem na cidade devem ter muito mais idéias para tal problema. A universidade pode refletir isso através de análises locais, os sindicatos podem ir além de sua agenda salarial, algumas organizações religiosas têm quadros, eu mesmo conheço uma grande feira que lidera uma das mais importantes organizações do Cariri, que podem fazer a diferença. Temos eleições à frente que tal uma iniciativa de conversas fora das velhas alianças eleitorais? Que tal levar os cidadãos a discutir o próprio futuro antes de apertar a tecla do voto?

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