segunda-feira, 27 de fevereiro de 2012

Educar é uma questão de Estado - José do Vale Pinheiro Feitosa

Vamos falar de educação tomando por base um país que desenvolveu um dos melhores sistemas de educação do mundo: a Finlândia em terceiro lugar no Ranking do Programa Internacional de Avaliação de Alunos. E o que diz Pasi Sahlberg, diretor de centro estudos vinculado ao Ministério da Educação finlandês?

“Todo sistema escolar é financiado pelo Estado, os alunos não são massacrados com toneladas de exercícios, o dever de casa é mínimo, mas toda a estrutura se volta para qualidade do professor e dos ambientes de aprendizado. Não existe avaliações periódicas de alunos e os docentes não recebem a sua remuneração por desempenho.”

Leram direitinho. Tudo diferente do que “mentes brilhantes” advogam para o Brasil: privatizações, massacre do aluno até o cansaço e os professores alimentados por uma máquina burocrática de avaliação de desempenho com a finalidade de melhorar seus ganhos. Lá na Finlândia é tudo ao contrário da ideologia vitoriosa no Brasil e que derrotou Darcy Ribeiro e Brizola.

Vamos aprofundando na história filandesa. O sucesso educacional deste país se deveu a um princípio simples que as “redes globos” brasileiras combateram até o limite da desonestidade. A reforma educacional da Finlândia “não foi guiada pelo sucesso escolar e, sim, pela democratização do acesso a escolas de qualidade” disse Pasi Sahlberg ao jornal o Globo (afinal a contradição existe). A estratégia envolve recursos e uma política continuada de investimentos pois isso começou na década de 70 e até hoje os governos respeitam. E o caminho é simples: “toda criança tem ensino obrigatório de nove anos e todas passaram a estudar em escolas públicas parecidas e com o mesmo currículo nacional.”

O caminho é diametralmente oposto ao modelo americano e que influencia enormemente o Brasil. Aliás, as regiões do Cariri, Sobral e Fortaleza vivem uma verdadeira máquina de mercado privado na educação. A classe média paga caro por um ensino “performático”, voltado para o acesso a universidades não sem razão de natureza privada e com tendência ao aumento de vagas.

Olhem que diferente daqueles mitos que tomam conta dos outdoors da vias públicas, com escolas apontado os campeões do vestibular e apresentando “mestres” como um cartaz de um herói de ficção. Na Finlândia é a vida como ela é, humana, duradoura e igualitária: “Os pontos fortes do sistema finlandês são o foco nas escolas, para que elas possam ajudar as crianças a ter sucesso; educação primária de alta qualidade, que dê uma base sólida para as etapas seguintes do aprendizado; e a formação de professores em universidades de ponta, que tornaram a profissão uma das mais populares entre os jovens finlandeses. (Pasi no Globo).

E tem mais a dizer sobre a preparação do professor: “Professores são profissionais de alto nível, como médicos ou economistas. Eles precisam de uma sólida formação teórica e treinamento prático. Em todos os sistemas educacionais de sucesso, professores são formados em universidades de excelência e possuem mestrado. O salário dos professores deve estar no mesmo patamar de outras profissões com o mesmo nível de formação no mercado de trabalho. Também é importante que professores tenham um plano de carreira, com perspectivas de crescimento e desenvolvimento.” Portanto esta é uma questão nacional e não sujeita apenas aos municípios.

E o que o educador Finlandês diz não é diferente do que muitos educadores brasileiros dizem, mas os “mercadistas” do laissez-faire de arrabalde apontam em outra direção: “entender qual é a essência do bom ensino e do bom aprendizado. As crianças devem ser vistas como indivíduos que têm diferentes necessidades e interesses na escola. Ensinar deve ser uma profissão inspiradora com um grande propósito de fazer a diferença na vida dos jovens. Infelizmente, esses princípios básicos deram lugar a políticas regidas pelo mercado em vários países. Essa lógica de testar estudantes e professores direcionou os currículos e aumentou o tédio em milhões de salas de aula. A fórmula para uma reforma da educação em muitos países é parar de fazer essas coisas sem sentido e entender o que é importante na educação.”

Procurem ler a matéria no site do Globo, pois vou encerrar por aqui, a postagem está ficando longa, mas a análise do professor finlandês é cabal para derrubarmos todo este status enganoso que rouba recursos públicos e desampara o futuro dos jovens. Leiam o que diz o finlandês: “a experiência da Finlândia mostrou que é possível construir um modelo alternativo àquele que predomina nos Estados Unidos, na Inglaterra e em outros países. Mostramos aqui que reformas guiadas pelo mercado, com foco em competição e privatizações não são a melhor maneira de melhorar a qualidade e a equidade na educação. Segundo, é importante focar no bem-estar das crianças e no aprendizado da primeira infância. Só saudáveis e felizes elas aprenderão bem. Terceiro, a Finlândia mostrou que igualdade de oportunidades também produz um aumento na qualidade do aprendizado. É preciso que o Brasil combata essa desigualdade de acesso. Só um plano de longo prazo para a educação e compromisso político possibilitarão que os resultados sejam alcançados.”

2 comentários:

  1. O final da entrevista é muito importante e assim resolvi publicar nos comentários:
    O GLOBO: A inclusão das novas tecnologias nas salas de aula vem sendo muito debatida. Como você vê esse processo? Como isso é feito na Finlândia?

    SAHLBERG: Tecnologia é parte das nossas vidas e é usada nas escolas finlandesas. Professores na Finlândia usam tecnologia para ensinar de maneiras muito diferentes. Alguns, a utilizam muito e outros raramente. Aqui a tecnologia é uma ferramenta, mas o foco continua sendo na pedagogia entre pessoas, sem tecnologia. A tecnologia não deve guiar o desenvolvimento educacional e, sim, ser uma ferramenta como várias outras.

    O GLOBO: Retomando o título do seu livro, quais são, afinal, as principais lições do sistema de educação finlandês?

    SAHLBERG: A mais importante das lições é que há uma alternativa para se chegar ao sucesso prometido por reformas guiadas pelo mercado. A Finlândia é o antídoto a este movimento que impõe provas padronizadas, privatização de escolas públicas e remunera os professores com base em avaliações de desempenho que se tornou típico de diversos sistemas educacionais pelo mundo.

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  2. Além do estudo em sala de aula (pela manhã), na escola de "tempo integral" estariam contemplados: o café da manhã, almoço, lanche, prática do tipo de esporte preferido (orientado por professores), estudo dirigido, biblioteca, pesquisa, leitura e por aí vai.
    Enfim, a formação do cidadão para o mundo, por parte de professores capacitados e, consequentmente, bem remunerados.

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