sábado, 10 de março de 2012

A Síria e a Guerra de Informação

Desde Goebbels que a informação (ou a propaganda) passou a ser sinônimo de manipulação e uma nação e de grupos contra outros. Mas já se vão tantos anos da morte de Goebbels que a equação já deveria ter se anulado: a toda manipulação origina-se uma reação. Mas o quê faz até hoje a informação ser sinônimo de uso ruim da psicologia social ou da manipulação política dos fatos. A direita adora o exemplo da exclusão de pessoas nas fotos de Stalin, mas não enxergam um palmo além do nariz na enorme máquina de informação e lazer de Hollywood.

Agora mesmo todos os dias os noticiosos informam entre 30 e 40 mortos por ação do regime sírio de Assad. Cinicamente terminam com a seguinte frase: não tivemos como apurar por que o regime não deixa a imprensa entrar na região. Então por que dão a notícia se não têm como apurar? Nestes casos a informação é mera correia de transmissão dos interesses de um dos lados do conflito.

A respeito captei este trecho de Alastair Crooke, que foi conselheiro de relações exteriores da União Européia.

“Uma das bifurcações que definirão o futuro será o conflito entre os senhores da informação e as vítimas da informação”, escreveu Ralph Peters no artigo Constant Conflict, funcionário dos EUA encarregado pelo vice-chefe da inteligência de definir o futuro da guerra, no Quarterly do War College dos EUA, em 1997.

“Mas não temam”, escreveu adiante, no mesmo artigo, “porque nós já somos os senhores da guerra de informação (...) Hollywood está “preparando o campo de batalha” (...) A informação destrói os empregos tradicionais e as culturas tradicionais; ela seduz, trai e, mesmo assim, permanece invulnerável. Como alguém algum dia conseguiria contra-atacar a máquina de guerra da informação, que outros giram, apontam e comandam?”

“... escrevendo os roteiros, produzindo os vídeos e recolhendo os royalties”.
“Nossa sofisticação no uso da máquina de guerra da informação nos capacitará a deslocar e superar todas as culturas hierárquicas (...). Sociedades que temem ou não conseguem administrar o fluxo de informação não podem, simplesmente, ser competitivas. Conseguirão dominar as tecnologias para assistir aos vídeos, mas nós estaremos escrevendo os roteiros, produzindo os vídeos e recolhendo os royalties. Nossa criatividade é devastadora.”

A guerra de informação não estará contida na geopolítica, o autor sugere, mas será “disseminada” – como qualquer drama de Hollywood – mediante emoções nuas. “Ódio, ciúme e ganância – emoções, mais que estratégias – definirão os termos das lutas na guerra de informação.”

Não só o exército dos EUA, mas ao que parece toda a grande mídia ocidental insiste em que a luta na Síria deva ser narrada em imagens emotivas e declarações moralistas que sempre – como o artigo do War Collegediz corretamente – triunfam sobre a análise racional.

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