quinta-feira, 24 de maio de 2012

Poder + Magnanimidade = “Fundação” - José Nilton Mariano Saraiva

Tornou-se recorrente a exposição sistemática, na mídia, de relatos sobre a história de vida de empresários famosos, jogadores de futebol, artistas de cinema, cantores, apresentadores de TV e por aí vai, que, originários de famílias paupérrimas (preferencialmente ex-moradores de favelas), conseguiram construir fortunas jamais imaginadas ou amealharam um capital que nem em sonhos se fez presente.
E por presumivelmente terem vindo “de baixo”, por teoricamente deterem conhecimento do “outro lado” da vida, hoje, “coração repleto de amor ao próximo”, fazem questão de “ajudar os necessitados”, (re)distribuindo o patrimônio com eles, e coisa e tal. Aqui, uma particularidade-questionamento: oriundos de mundos diametralmente opostos e atuantes em atividades que normalmente não guardam quaisquer similaridades, que estranha força é essa que empurraria tais figuras a descobrirem algo em comum, um elo inquebrantável a os unir, uma força a lhes guiarem numa mesma estrada, a magnanimidade ???
E aí é que surge o outro lado da moeda, a “face oculta” da história de todos eles: é que, pra viabilizar tão “desinteressada e generosa” ajuda aos carentes, estranhamente o caminho escolhido é um só (e de mão única): a criação de uma “FUNDAÇÃO” (logo providencialmente batizada com o nome do pai, da mãe ou de algum parente próximo, porque... “sempre se dedicou aos pobres”); algo tocante, comovedor, capaz de derreter corações, levar às lágrimas, enfim, balançar com a estrutura de qualquer mortal-comum. E tome propaganda, exposição na mídia, xaropadas, homenagens póstumas, blá-blá-blá e coisa e tal, a fim de difundir a atitude tomada e fixar a imagem da benquerença da família.
Só que, nas entrelinhas dessa história toda um precioso detalhe sempre é cuidadosa e estranhamente omitido, convenientemente resguardado e nunca, jamais, lembrado: o que realmente se esconde por trás da criação de uma “FUNDAÇÃO” ???  Por que, unanimemente, existe uma espécie de “preferência nacional” por tal caminho, por parte dos ricaços da vida ???
Pois saiba você, aí do outro lado da telinha, que uma “FUNDAÇÃO PRIVADA” (não aquelas que visam resguardar para a posteridade a história de personalidades ilustres) é uma pessoa jurídica NORMALMENTE USADA PARA MANTER A POSSE DE PROPRIEDADES, CONTAS BANCÁRIAS E OUTROS BENS, “SEM QUE A IDENTIDADE DO (PSEUDO) “BENFEITOR” SEJA REVELADA” (em português bem cristalino e objetivo: trata-se de um “enoooorme” saco sem fundo, onde você poderá armazenar não só o patrimônio pessoal, assim como possíveis doações de terceiros, sem que tenha de prestar contas a seu ninguém, e tudo dentro da lei).
Além do que, muito mais que manter a confidencialidade da identidade do “DISTINTO”, uma FUNDAÇÃO PRIVADA tem ainda  (olha só que beleza)  as seguintes vantagens: 01) PROTEÇÃO DE BENS:  bens colocados (ou doados) em uma fundação privada geralmente ficam “FORA DO ALCANCE” DE EVENTUAIS CREDORES que possam surgir, como resultado de dificuldades financeiras, divórcio, litígio, etc;  (legal, não ???); 02) RETENÇÃO DE CONTROLE: a fundação privada permite que você “retenha o controle” (é mole ou quer mais ???) e possa decidir para quem o controle sobre seus bens será entregue quando você não possa mais exercê-lo; 03) ECONOMIA VITALÍCIA DE IMPOSTOS (aqui, o autentico e verdadeiro “pulo do gato”, o objeto de desejo de todos eles): durante toda a sua vida o “benemérito” realizará economias substanciais (estará isento do pagamento) de “IMPOSTOS SOBRE RENDA E GANHOS DE CAPITAL” (que coisa maravilhosa, não ???), como resultado da utilização de uma fundação privada; 04) ECONOMIA EM IMPOSTOS SOBRE HERANÇA: em caso de morte, o imposto sobre herança, que normalmente incidiria sobre o valor de seus bens, “seria erradicado”;  05) CONTINUIDADE: a fundação privada oferece meios pelos quais seus bens podem continuar sendo administrados de acordo com o desejo do fundador, mesmo após seu falecimento, de modo que os membros mais fracos de sua família possam ser protegidos dos demais, do mesmo modo que o membro perdulário de sua família possa ser protegido de si mesmo (já pensou, até depois de você “bater-as-botas” os benefícios permanecem); e 06) EVASÃO DE LEGITIMAÇÃO: uma fundação privada oferece meios pelos quais os seus bens possam ser passados sem percalços para sua “PRÓXIMA GERAÇÃO” sem interrupções, atrasos, custos substanciais, perda de confidencialidade, associada com o procedimento de legitimação necessariamente subseqüente, caso você não utilize uma fundação privada.
Sacaram ??? Entenderam agora o “porque” de tanta caridade ??? A razão de tanto ”desprendimento” ??? A incrível, recorrente e desmesurada avidez à busca de se criar uma “FUNDAÇÃO” ??? Observaram que, no fundo no fundo, quem tem muito não está realmente nem um pouco preocupado com o pobre ou o carente, mas tão somente USANDO-OS como uma espécie de “MOEDA-DE-TROCA” ??? É decepcionante e constrangedor, pois, constatar que a “magnanimidade” incursa no ato de criação de uma FUNDAÇÃO tem “pés de barro”, já que mero papo furado, conversa pra boi dormir.
Portanto, trate de “se ligar”, mantenha as antenas bem direcionadas: da próxima vez que ouvir relatos piegas e lacrimejantes sobre o “enorme coração” de fulano ou beltrano (Xuxa, Raí, Cafu e outros), pense no que está por trás da equação “PODER+MAGNANIMIDADE=FUNDAÇÃO”: muita hipocrisia e segundas-intenções. E tudo isso cuidadosamente acondicionado em embalagens reluzentes e enganadoras. Na literatura da “ciência econômica”, definiríamos tal artifício de “fetichismo”.
Ou será que agora você vai preferir criar sua própria “FUNDAÇÃO”  ???

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