Sócrates foi executado como prisioneiro político , em 399 a.C.,
por ter influenciado seus
discípulos se postando contra a
Democracia Ateniense. A seu ver o Estado devia ser governado pelo mais capaz e
não por aquele escolhido pela maioria dos cidadãos. Olhando superficialmente, o filósofo parece ter razão, mas aí vem a
encruzilhada filosófica inevitável: -- E quem escolhe e determina quem é o mais
capaz? O Rei ? A Nobreza ? O Poder
econômico ? A história da humanidade, nos séculos seguintes, terminou por dar a
resposta inequívoca à questão : Sócrates, neste quesito, estava errado, mas a forma como enfrentou todas as
vicissitudes até o sacrifício final perpetuou seu nome e o tornou um dos
pensadores mais incensados da História.
Passados
os anos, multiplicaram-se exemplos das claras
deformidades da Democracia mundo afora. No Brasil mesmo, escândalo após
escândalo, crise após crise, o povo põe continuamente em cheque a validade
desta forma de governar. Alguns se mostram saudosos das Ditaduras de Vargas e
de 64, outros remontam até ao cretáceo,
vislumbrando a Monarquia com seus Reis, Rainhas e Valetes. Churchill talvez
tenha definido melhor esta questão quando disse: "A democracia é a pior
forma de governo, exceto todas as outras que têm sido tentadas de tempos em tempos."
Em
ano eleitoral, então, estes questionamentos ficam mais à flor da pele.
Denúncias engavetadas por anos saltam na imprensa, com vistas a interferir na
eleição que se avizinha. As vísceras da Política brasileira são postas à mostra
e o povo humilde e trabalhador, no meio de tanta bandalheira, põe-se a
engulhar. Corrupção; desvios de verba pública; deputadozinho ,com cara de sacristão,
pego com a boca na botija; promiscuidade de governadores, deputados, senadores,
ministros do supremo com a contravenção;
como suportar essa calamidade? A conclusão do brasileiro comum é rápida , imediata : Política não presta, há
provas irrefutáveis de que a Democracia
está falida como forma de Governo.
Diante da sacanagem perpetrada contra todos os pagadores de impostos, algumas atitudes imediatistas são
frequentemente tomadas pelo povaréu como aparente defesa contra o descalabro.
A
primeira delas é lutar pelo Voto Nulo ou Branco, alguns chegando até ao extremo
de incinerar publicamente o Título Eleitoral. Medidas desta natureza eivam as
Redes Sociais. No fundo, os revoltosos dizem : nenhum salafrário será mais
eleito com minha participação. Pensam que assim se eximirão da culpa pelo
estado de coisas que rola país afora. O protesto é totalmente inócuo.
Corresponde àquela providência
tomada pelo marido que encontra a esposa
namorando com outro no divã e, revoltadíssimo com a traição, vinga-se vendendo
o divã. Nunca se vota nulo: quando anulamos o voto estamos tomando partido
e elegendo os piores. Peca-se na mesma intensidade por ação ou por omissão, não
é ?
A
segunda é mostrar-se saudoso dos
períodos ditatoriais. Na época da Ditadura Militar isso não acontecia ! Ladrão
ia para o paredão! Bastava apertar um pouco o cabra confessava tudo! A
corrupção na ditadura era presentíssima e bem pior do que se tem hoje, apenas
menos visível: velada sobre o manto da Censura e da Tortura.Sem Liberdade não
existe civilização. Vivemos, hoje, em pleno Estado de Direito, o melhor período
da história brasileira.
A
terceira postura clássica é uma revolta
desmedida e justificável contra a Corrupção. Perfeita no seu âmago, mas que
guarda consigo um enigma. Por que elegemos políticos corruptos e pior que tudo:
por que os reelegemos mesmo depois dos escândalos ? A verdade é dura, mas
precisa ser engolida: eles não são tão diferentes dos seus eleitores. A
corrupção faz parte do nosso cotidiano : vendemos o voto por empregos, por
licitações, por telhas e tijolos; buscamos colocação para os filhos por
pistolão; tentamos nos dar bem em qualquer função que assumimos; compramos o
Guarda de Trânsito para evitar a multa. O político brasileiro é apenas a imagem
do seu eleitor refletida no espelho. Um corrupto por atacado , eleito por
vários corruptozinhos do varejo. Só mudarão quando a sociedade mudar e, educada
politica e socialmente, possa triar melhor seus representantes.
A
mais freqüente conduta, no entanto, é de uma total aversão à Política. As
pessoas ,diante dos escândalos, se afastam dela como Vampiro do alho. Os mais
dignos temem chegar perto com medo de se contaminarem com a podridão reinante.
Os maus baldeiam a água para que só eles tenham a coragem de beber. E muitos
gritam : “Deus me livre de política, quero é distância!” O grande problema é que somos seres políticos
por excelência. Todas as atitudes humanas são banhadas em maior ou menor
proporção nas águas da política. Até a decisão de fugir da política é por se só
um ato político. Seria como o mecânico de automóveis resolver que não quer
nunca mais se melar de óleo. Não tem jeito, estamos no meio da tempestade: a
molhadeira é inevitável. Ou tentamos abrir a capa para minorar o encharque ou
negamos a existência do temporal.
As
eleições estão próximas. Com a nossa participação ou nossa apatia seremos
vítimas ou beneficiários do seu resultado. Se não nos fizermos agentes de
mudança teremos que engolir depois a Cicuta, como Sócrates o fez, a
contragosto, no berço da Democracia.
J. Flávio Vieira
Zé Flavio faz um texto crítico das vozes que discutem e propõem a ruptura da democracia e o silêncio das vozes pela ditadura. Um texto para refletir e pensar. Faria uma consideração a mais: uma vez que somos uma sociedade de classe é comum que os políticos sejam tão ruins porque apenas representam as classes altas e endinheiradas. O espelho não reflete o povo, apenas o jogo insano dos privilegiados e o modo como usam o Estado. Outra coisa que chama a atenção é o soterramento da vida municipal a mais importante em nossas vidas. Seja porque é mais fácil discutir o poder distante de nós, a verdade é que o Prefeito e nossos Vereadores não fazem parte da ácida avaliação de alguns. Estamos no ano eleitoral e é preciso eleger o prefeito que trouxer o bem estar geral e que tenha capacidade de romper o privilégio como política municipal. Já temos alguém com esta capacidade?
ResponderExcluirAs considerações de Zé do Vale são perfeitas. E a possibilidade, claro, de mudarmos este estado de coisas começa no município: na Associação de Bairro, na UEC. O que está em Brasília é apenas a deformidade em lente de aumento.
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