quinta-feira, 14 de junho de 2012

O Banhado do Taim, a fundação do Movimento Verde e a Rio +20 - José do Vale Pinheiro Feitosa


Vínhamos pela BR-471 de Chuí para Pelotas quando avistamos, na estrada quase vazia de automóveis, placas indicando um trecho cuja velocidade mínima seria de 40 km por hora. Perigo de animais selvagens atravessando a pista. Estávamos na região da Reserva Ecológica do Taim, uma estreita faixa de terra entre o Oceano Atlântico e a Lagoa Mirim, nos municípios de Rio Grande e Santa Vitória do Palmar.

Rio de Janeiro, junho de 2012, as ruas cheias como o seu dia-a-dia de veículos explodindo fumaça pelo escapamento. O noticiário igualmente tomado de notícias da Rio +20. Pelas ruas da cidade, a cada esquina, encontro da espécie humana grunhindo suas cordas vocais em múltiplos idiomas.

A consciência ecológica, verde, conservacionista, sustentável ou que nome venha a ter é ampla nesta Conferência das Nações. E pensar que tudo começou no turbilhão que jogou o mundo entre os anos 60 e 70. Quando a consciência planetária se imiscuiu na cultura e na política. A consciência que igualmente esteve no movimento hippie, no Rock and Roll, na Guerra do Vietnã e a resistência a ela, nos movimentos estudantis pelo mundo inclusive o Paris de 68 e além das guerras de libertação colonial na África e na Ásia.

A Reserva Ecológica do Taim faz parte da planície costeira que caracteriza o extremo sul do Brasil. Os banhados do Taim, como é seu nome original se compõem por praias lagunares, marinhas, lagoas, campinas, pântanos e dunas. Ali vive e se formou um rico ecossistema composto por animais e plantas. João de Barros, Tuco-Tuco, Tartarugas, Capivaras, Jacaré-do-Papo-Amarelo, Ratão-do-Banhado, Orquídeas, Bromélias, Cactos, Figueiras, Juncos e Água Pés.

No Forte de Copacabana se montou uma estrutura enorme onde os militantes ecológicos, visitantes, curiosos e representações populares e do mundo científico engajado se mistura como uma Torre de Babel de línguas. No RioCentro as delegações penam em discordâncias e concordâncias com um longo texto que será retificado pelos Chefes de Estado.

A primeira vez que se tomou uma consciência ecológica do ponto de vista político e como uma consciência na cultural mundial, aconteceu por fatos cumulativos e com a Conferência de Estocolmo, ou Conferência da ONU sobre Meio Ambiente Humano começando em 5 de junho de 1972 (apenas 40 anos). O mundo estava perplexo com os efeitos da contaminação por venenos no solo, nas águas e nos animais oriundos de processos industriais e da agricultura. Os testes com bombas atômicas deixavam uma rastro letal de Estrôncio-90 no meio ambiente. A Baleia Azul tinha sido tão perseguida que estava à beira da extinção.

Entramos na velocidade indicada nas placas sobre um aterro que atravessa aproximadamente 20 Km da reserva do Taim e se descortina uma paisagem belíssima ladeada pelos pampas, a criação de gado e grandes grupos de capivaras de um lado e outro do banhado. Enquanto o motor do carro nos transportava vinha-me a lembrança da grita do Pasquim e do Coojornal do Rio Grande do Sul denunciando a construção da BR-471 sobre a reserva do Taim, expondo suas obras e uso ao desastre ecológico.

O Presidente Obama, a Chanceler Merkel e David Camerom não se farão presentes à cúpula dos Chefes de Estado da Rio +20. Num desânimo estrutural e na contramão da necessidade de se repensar a marcha da humanidade, estes líderes das nações mais intensas em consumo do planeta, não virão, permanecerão onde estão. Numa atitude sempre evasiva nestes fóruns mundiais, mas quando se trata de defender o meramente econômico com base em moeda pura, as grandes nações nunca se escondem. Estão lá para fazer os acordos entre si, à margem da maioria da humanidade.

Na Primeira Conferência a de Estocolmo de 1972, aquela que funda o movimento verde, o atual formato já estava pronto: a sociedade civil, cientistas e chefes de estado. Indira Ghandi, premier da Índia disse: “A minha percepção é de que pessoas que não se entendem com a natureza são cínicas em relação à humanidade e não estão confortáveis consigo mesmas”. A partir dali o assunto entrou na agenda da humanidade e o Brasil, por sua cidade Rio de Janeiro, se tornou uma referência fundamental nas principais conferências até aqui.

Enquanto o nosso carro avançava no aterro sobre o banhado do Taim, aquelas frases de efeito na grita contra a truculência da ditadura que apontara o dedo no mapa para aquela região e ali plantara a estrada que violentava a natureza. Tudo que lera no Pasquim e no Coojornal fazia sentido: um, dois, três, quatro, mais outro, outro e outros mais corpos de capivaras jaziam esmagados a se confundir com o asfalto da rodovia.

Hoje pela manhã o Rio amanheceu azul após tantos dias de chuvas. Amanheceu azul com uma matriz da floresta da tijuca a ladear o intrincado de ruas. Tudo de ruim que disseram das cidades aqui acontece. Aconteceu e acontecerá. Mas não existe esperança que não sejam sobre os eventos em acontecimento e por isso pode-se mudar o rumo da história. Pelo fato pura e simples do que acontece continuamente é de onde se transforma.   

Antes de terminar é impossível esquecer do livro “Primavera Silenciosa” de Rachel Carson, sistematizando os efeitos do desenvolvimento e do progresso sobre o meio ambiente. Assim como José Lutzemberg a abrir a consciência ecológica no Brasil após anos de trabalho na BASF quando sentiu os efeitos danosos dos agrotóxicos sobre os agricultores. E aqui uma frase dele de 1972 a primeira vez que li sobre o assunto numa entrevista que ele deu acho que para o Pasquim ou outro jornal alternativo da época feito O Movimento ou Opinião: “Se não conseguirmos, em pouco tempo vencer a piromania nacional, estará nosso país a transformar-se, durante a vida dos jovens e crianças de hoje, em deserto e serão indescritíveis as calamidades que sofreremos. A provável e talvez já desencadeada inversão climática tornará impossível a recuperação, mesmo a longo prazo.”   Lutezemberg foi um dos primeiros a falar no aquecimento global com esta frase. 

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