Diante de todas as críticas, ante
tantos detratores, temos que concordar, amigos: a EXPO/Crato tem demonstrado uma pujança impressionante
nos seus mais de sessenta anos de existência. Encravada estrategicamente nas férias de meio de ano, quando incontáveis
filhos da terra acorrem com saudades do Cariri, a Exposição tem se fortalecido ano a ano, batendo todos recordes de público , se comparada
com outros eventos do Sul Cearense. Falar mal da Expocrato já se tornou quase
um divertimento por estas bandas , já faz parte do cotidiano da nossa cidade e,
a história tem demonstrado, apesar do olho de seca pimenta dos nossos conterrâneos,
a Expô só tem prosperado. Sendo assim, diante da imunidade absoluta aos
impropérios da população, me sinto à cavaleiro para também pinicar o oratório
da nossa mais tradicional festa. Sei que pouca coisa há de mudar, que a
festividade continuará com um público invejável e que os organizadores estarão
se lixando para minha visão pessoal e realista. Mas que jeito, né? De tanto
gritar no deserto a gente termina por se acostumar ao monólogo e a
perceber miragens de um tempo mais
bonito e menos caótico.Pois aí vão algumas elucubrações de um velho meio
ranheta—a quem interessar possa -- e que nas duas últimas Exposições se recusou
a participar da pantomima.
Continuo
visceralmente contrário à terceirizações dos shows do Palco Principal. Parece-me de uma imensa preguiça política a
terceirização. Sob o pretexto de baratear a programação ao Estado, se obriga a
população a engolir shows de péssima qualidade e a preços abusivos . E mais, o estado se imiscui da sua função básica de promover Política Cultural. É possível sim,
trabalhar com projetos e fazer uma grade gratuita de shows de ótima qualidade
como o Festival de Inverno de Garanhuns vem fazendo há vários anos. O que há
por traz das negociatas das terceirizações ?
Não
existe nenhuma justificativa plausível para a total exclusão dos artistas
caririenses na programação principal da Exposição do Crato. Quem decide pela
imolação de tantos valores ? Os mesmos que nos palanques enchem a boca
chamando “Cidade da Cultura ? Que
homenageiam o grande Gonzagão com o Forró de Plástico: sem Dominguinhos, sem
Flávio Leandro , sem Waldonis, sem Flávio José ?
A
mais popular das festas caririenses loteia o Parque Estadual a preços caríssimos e que termina sendo
bancados pelo povo. Houve shows em que
os ingressos chegaram a ser vendidos a mais de cem reais. As barracas do Palco
principal cobravam mesas a cinqüenta reais, fora o consumo normal, um pratinho
de petiscos vendia-se a quarenta e cinco pilas. Alguns visitantes propunham
inclusive trocar o nome do evento para
Explora/ Crato. Espaço público utilizado numa festa pública com tantos
envolvimentos do setor privado, como é feita a prestação de contas ?
É
de uma total irresponsabilidade a
sujeira do Parque. Sem depósitos adequados e sem a educação necessária, o lixo
é jogado no chão e vai se acumulando dia após dia. No sábado aquilo já parecia
um grande Lixão. Por que não há coleta sistemática e diária? A higiene da maior
parte das barracas era de fazer engulhar. Quem deu o alvará para o
funcionamento? Quem fiscaliza o uso e manuseio dos alimentos a serem
preparados?
Ficou
para mim mais que provado que o atual Parque de Exposição não tem mais
estrutura nenhuma para abrigar um evento de tamanha magnitude. O trânsito ficou
extremamente caótico, o fluxo no próprio local , no penúltimo dia, estava
praticamente impossível e o som das bandas infernizou a vida de toda uma
população circunvizinha. A cidade cresceu muito nos últimos sessenta anos, é
preciso sim, repensar o espaço. Vamos construir um outro fora da Cidade e
pensar em utilizá-lo durante todo o ano em outras atividades. O atual pode se
transformar num parque florestal urbano para os deleites de lazer do nosso povo
e continuará, sim, presente nas nossas vidas e nas nossas tradições.
Sei
perfeitamente que escrevo essas palavras
sobre as águas. Têm a força de um instante líquido e fugaz. Mas
deixem-me sonhar que terão o poder de chegar aos tímpanos do tempo com lições de
tsunamis e de maremotos.
J. Flávio Vieira
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