A partir das 14 horas (ou dez minutos depois) a gente se encontra com todo o fâ clube dos 4 rapazes de Liverpool pelas ondas sonoras da Rádio Educadora do Cariri, 1020 khz, ou pela internet no link www.radioeducadora1020.com.br. A apresentação fica por conta do Prof Jayro Starkey, Luiz Carlos Salatiel (este que vos fala!!!!) e comentários do Rafa Lennon (Carlos Rafael Dias). Encontro marcado, então?
É bom lembrar que o programa é mais uma produção da OCA- Officinas deCultura Artes e Produtos derivados em parceria com a revista virtual CaririCult e a Rádio Educadora do Cariri!
sábado, 29 de setembro de 2012
ELEGER SITUAÇÃO E OPOSIÇÃO NO MESMO E LEGÍTIMO ATO - José do Vale Pinheiro Feitosa
Na próxima semana, em todo o país, serão escolhidos os novos
prefeitos, os vice-prefeitos e o plenário da Câmara de Vereadores. Com a
votação eletrônica já na mesma noite do encerramento do pleito os vitoriosos
abrirão suas vozes em comemoração. As festas continuarão por mais algumas horas
e dias enquanto os equívocos que especulam aqueles que serão defenestrados da
administração pública se tomam ares de verdade. Mas nada mais enganoso do que
as comemorações como o pódio de uma medalha de ouro e as defenestrações para
satisfação de futuro candidatos aos cargos defenestráveis.
Engano porque poucos entendem o verdadeiro sentido da democracia.
Especialmente em ambientes com resquícios oligárquicos – se bem que de uma
oligarquia menor assim como menores eram alguns membros da velha nobreza. Todos
apenas enxergam os vitoriosos e aí é que reside o velho “coronelismo” a soprar
enxofres demoníacos sobre os sertões. E, claro, sobre este “vale de lágrimas” e
de tradicionais epidemias de dengue.
O que representam as eleições é a escolha da sociedade da
situação e da oposição. Ambas com um projeto político a ser executado. Ambas,
situação e oposição, contando com instituições para o exercício e desdobrar dos
seus ofícios. Nenhuma é menor que outra no campo real do dia-a-dia dos
municípios. E isso não é uma fantasia de palavras ao vento.
Em torno de 90% ou mais dos orçamentos municipais são
repasses da União e dos Estados. São projetos, programas, verbas carimbadas
para funções do Estado inscritas na Constituição Federal. Isso significa uma
dependência institucional e integral dos governos municipais ao Estado
Democrático de Direito. Portanto tanto quem pratica o exercício formal do poder
quanto quem se organiza politicamente para exigir os direitos sociais se equivalem
politicamente e na realidade da vida prática da sociedade.
Os fantasmas do interior e o arcaísmo do velho estilo de ameaçar
e arrebentar criaram o mito do “manda quem pode, obedece quem tem juízo.” Uma
das práticas desse coronelismo tardio é não fazer concurso público para não
criar uma burocracia estável e independente. Este coronelismo tardio usurpa os
recursos dos direitos sociais para criar uma rede de cargos comissionados,
funcionários temporários, fornecedores com pedágios de caixa 2 entre outras
práticas de superfaturamento e assim subjugar a oposição e a sociedade aos
projetos pessoais de apropriação privada das riquezas coletivas.
Enfim são escolhas eleitorais de pequenos poderes
absolutistas como existiram até a derrocada europeia destes regimes com as
Revoluções Americana, Inglesa e Francesa. Por isso é preciso gritar que o rei
está nu e eleger não só os representantes no governo como os representantes na
oposição ao governo. É preciso a militância contínua, representação não é sinônimo
de delegação das competências políticas da sociedade. É apenas a representação
de escolhas de políticas públicas eleitas para tal, mas sempre sujeita a erros
e acertos e aí cresce em igualdade o poder opositor.
Amanhã quando vencedores, quem sabe por baixo dos panos ou
com o discurso fluído da energia limpa, conspurcarem a linda paisagem do cimo
horizontal da milenar Chapada do Araripe, eu quero ser a oposição que exige a
proteção das paisagens naturais.
sexta-feira, 28 de setembro de 2012
Tudofel: Fator Rh, o Poema
Tudofel: Fator Rh, o Poema: Nesses dias tortos, frios ou mornos, quando a cama vira uma nave e o olho abre sonolento, sem o bote daqueles dias decisivos, numa pra...
quinta-feira, 27 de setembro de 2012
Pontes
Parecia previsível : não seria
nada fácil o dependurar das chuteiras para Sonevaldo Socó. Aposentadoria para
homem é sempre uma espécie de fim: a morte produtiva : aquela que precede ao
final golpe de misericórdia desferido pela
lâmina afiadíssima da Velha da Foiçona. De repente, após toda uma vida
de batalhas cotidianas, vê-se o sujeito recluso numa cela totalmente
desconhecida e inóspita: sua Casa. Como se um maratonista olímpico, de repente,
se visse , na imobilidade de uma cadeira-de-rodas. No caso de Sonevaldo, a
inadaptação parecia, de longe, bem mais
contundente. Era motorista de caminhão. Passara toda a vida na estrada,
transportando carretos Brasil afora. Aquela vida de Indiana Jones, sem destino
pré-determinado: as cargas é que o conduziam e não o inverso. Vivia no mundo,
passeava em casa! Socó conhecia praticamente todas as vias deste quase
continente brasileiro. A cada dia: novos
horizontes, novos conhecidos, novos amigos, novos amores. De dois em dois meses, aparecia em casa,
revia os filhos e a mulher, arrumava os teréns e caía na rodagem novamente. A
aproximação da aposentadoria, no entanto, trouxe-lhe mais paz que fastio. Mais
de quarenta anos de estrada , a juventude já embotada na poeira das rodovias,
Socó imaginou que merecia o recolhimento. Estaria mais próximo dos filhos e da
esposa, órfãos de sua presença por quase toda a
existência.
Os
primeiros dias com o pé longe do pedal do acelerador lhe trouxeram uma parente
tranqüilidade . Aos poucos, no entanto, foi descobrindo que o mundo mudará
totalmente enquanto vivia no meio do mundo. Os filhos haviam crescido e já
cuidavam da vida e tinham casa própria. A esposa já não era aquela mocinha
inocente e garbosa que ali deixara nas primeiras viagens, teimava em aparecer
com cãs e rugas salientes . Os amigos e
conhecidos estavam espalhados pelo país, não moravam naquela cidade que,
também, crescera e perdera o jeitão de Vila. Aos poucos o pijama de bolinhas e a cadeira de
balança começaram a pesar. Batia-lhe aquela sensação de gado, na fila,
aguardando a hora do abate. Tentou ocupar-se em trabalhos domésticos, até
descobrir que homem, em casa , não tem qualquer serventia. Imiscui-se em
assuntos de que ,de todo, não tem qualquer know-how. Rapidamente se desentendeu
com a empregada que há mais de trinta anos servia à família. Voltou-se, então,
para a esposa que tomou as dores da funcionária de tantos anos. No fundo, D.
Geni percebia que hoje era mais fácil conseguir outro marido que outra
empregada como Ambrosina.
Desencadeada
a “Guerra dos Cem anos”, Socó resolveu ganhar a rua e procurou os escritórios
mais apropriados à sua tribo : os botecos. Caiu na cachaça com uma voracidade
impressionante e , cheio de meropéias e de razões, começou a procurar emboança na rua e também em
casa.
O tempo, que já andava turvo, sujeito a
trovoadas e relâmpagos, tomou ares de tempestade. D. Geni já tinha gasto o guarda-chuvas e o pára-raios
com muitos vendavais e resolveu-se pela separação. Mais uma vez, antes da
audiência de conciliação, aconteceu o previsto : Enfarte ! O coração de
Sonevaldo não agüentou tanto repuxo. Interno, encaminhado à cirurgia ( três
pontes de safena e uma mamária), por fim, abrandou-se a raiva da esposa. Tocou-lhe a
alma um sentimento de culpa, ao ver o companheiro de tantos e tantos anos mais
chagado que São Francisco.
--
A culpa é minha, devia ter tido mais
paciência com ele !
Ao
despertar na UTI, Socó pôs-se a pensar com seus tubos, sondas e cateteres. Depois de percorrer tantas
e tantas vias, Brasil afora, chegara num ponto onde a estrada empacara. Não havia saídas e nem possibilidade
de se pegar um retorno. O tempo, então, lhe providenciará aquelas pontes,
abertas ao peito, por onde a vida , agora poderia fluir mansamente. Até onde ?
Até quando !
J. Flávio Vieira
Tudofel: Fim de Semana em Craterdã, final dos anos oitenta
Tudofel: Fim de Semana em Craterdã, final dos anos oitenta: Que tal, esta noite, ouvir uma jam session com Normando e Nicodemos, no Batente, sob o luar? Antes, porém, vamos tomar uns trago...
quarta-feira, 26 de setembro de 2012
Hoje no Cariri Encantado, Carla Prata, Gerente Sesc Crato vai conversar com a gente sobre a XIV Mostra Sesc Cariri de Culturas!
Pois bem, o Cariri Encantado-Protagonista! recebe hoje, mesmo sendo quarta-feira, a querida amiga Carla Prata, gerente do SESC Crato, que vai nos contar o que nos reserva a XIV Mostra Sesc Cariri de Culturas que já está agendada para a 2a. semana de novembro 2012.
Entonce, a gente se encontra às 14 horas pelas ondas sonoras da Rádio Educadora do Cariri, 1020 khz ou pela internet www.radioeducadora1020.com.br.
Entonce, a gente se encontra às 14 horas pelas ondas sonoras da Rádio Educadora do Cariri, 1020 khz ou pela internet www.radioeducadora1020.com.br.
terça-feira, 25 de setembro de 2012
Tudofel: Eu boleiro
Tudofel: Eu boleiro: Relembro o momento em que fui tocado pela primeira vez pelos deuses da bola . A primeira lembrança é a Copa de 1970, quando o Brasil foi ...
CONVITE DO ESPAÇO ZEN
O espaço Zen
convida você e seus amigos a ver o novo trabalho do Shivam, "Desenvolvimento
Pessoal".
Começará com uma Palestra Aberta dia 27/09, às 19 horas,
onde ele irá expor o conteúdo do curso, preço e tempo de atuação.
CONVITE PARA ENCONTRO
COM SHIVAM
Tema do Discurso: Oeste – Leste (Uma fala sobre a diferença
básica entre o pensamento Oriental e Ocidental).
Neste encontro Shivam introduzirá um curso de
Desenvolvimento Pessoal com duração de oito meses, uma vez por semana, levando
você aos ventos da nova era inspirando nas fragrâncias
de mestres como o Buda e Patânjali.
Tópicos
- Como se desligar da mente.
- Como atingir melhor os seus objetivos.
- Como ficar mais tranquilo no dia a dia da vida moderna.
Data: 27 de
setembro, próxima quinta, às 19 horas.
Local: ESPAÇO ZEN
- Praça da Sé, 91, Crato.
Contatos: (88)
3587-3851 e (88) 8825 0493
Contamos com sua presença.
segunda-feira, 24 de setembro de 2012
Tudofel: Barbárie e Civilização
Tudofel: Barbárie e Civilização: Ao contrário de quase todos os bárbaros da minha idade, aprendi a ler e escrever em casa, sob a orientação de minha irmã Teresinha. Tin...
Fim em si
Ruy Castro
Outro dia,
mandaram-me um vídeo de um cantor japonês. Comecei a assistir. Cantor, canção e
vídeo eram anódinos. O japonês estava de perfil. De repente, com um corte, a
câmera mostrou uma cantora japonesa, também de perfil e também anódina.
Finalmente, a imagem revelou: os dois eram um só, metade homem, metade mulher,
divididos pela vertical, e com as vozes correspondentes. Não faz muito, esses
exotismos eram coisa do "Acredite se Quiser", de Ripley, que saía nos
jornais.
Todo dia recebo vídeos com imagens de desertos mexicanos,
estepes russas, trigais espanhóis, geleiras polares e praias brasileiras. São
de tirar o fôlego. Sem falar dos edifícios, viadutos e ilhas artificiais de
Dubai. No passado, essas imagens saltavam das páginas da "Manchete"
para a vida real e nos faziam babar.
E os vídeos sobre animais? Não param de entrar. São galinhas
chocando cachorros, gatas lambendo esquilos desamparados e cadelas amamentando
porquinhos órfãos. Em outros, veem-se golfinhos, pinguins e babuínos mais
expressivos que certos atores de novela. Tudo isso, além de filmes sobre a vida
sexual dos pernilongos, é material que, até há pouco, só se via em revistas
como "National Geographic Magazine" ou no canal Discovery.
E, naturalmente, não falta quem mande fotos de estrelas do
cinema que cometeram o erro de envelhecer e embagulhar. Ou de gente famosa em
poses indiscretas, como a alemã Angela Merkel tirando meleca, Obama, com os
sapatos furados, ou Kate Middleton, de topless. Enfim, o tipo de assunto que
costumava ser privilégio das revistas de escândalos.
Em 1885, o poeta Mallarmé dizia que tudo no mundo existia
"para acabar em um livro". Hoje, pode-se dizer que o mundo existe
para acabar na internet. Com a qual ficamos dispensados até de sair à rua para
fazer parte dele.
Ruy Castro, escritor e jornalista, já trabalhou nos jornais e nas
revistas mais importantes do Rio e de São Paulo. Considerado um dos maiores
biógrafos brasileiros, escreveu sobre Nelson Rodrigues, Garrincha e Carmen
Miranda. Escreve às segundas, quartas, sextas e sábados na Página A2 da versão
impressa.
Fonte: Folha de S.Paulo
Feito Beatles
Amigos do Cariri,
Aí está mais um vídeo da série "Enquanto o making of não vem": miniclipe de "Feito Beatles". A música é a segunda faixa do meu novo CD, Baião de Nós. Tem arranjo de Fernando Nunes e foi gravada parte no Recife e parte em São Paulo. Com o apoio do editor de vídeo Kabelo, reunimos trechos de gravações de imagem não utilizadas no making of e o resultado aí está.
Para saber mais desse trabalho, visite a página Baião de Nós no Facebook.
Abraço,
Tiago Araripe
domingo, 23 de setembro de 2012
Tudofel: Vou embora pro passado
Tudofel: Vou embora pro passado: Vou embora pro passado. Lá, eu sou amigo do réu, que foi condenado ao doce saudosismo das boas lembranças. Assistir, numa tv p&b, Perdid...
sábado, 22 de setembro de 2012
Uma poesia para Segestes (Por Varenka de Fatima Araújo)*
Para Glória
O azul e o cinza se completam,tuas
Não suspeitava que estavas partindo
Apenas tua voz estava em tom suave
Ainda planejamos muito sucesso
Depositei em ti tanta alegria
Naquele quarto branco confidências
A fumaça que engoliste anos a fios
Fechou a porta do inferno que viveste
Outra porta se abria e entraste
No infinito tuas letras soltas,ouço
Numa manhã cinzenta deste a partida
Meu irmão,quantas saudades,choro.
Recebi um certificado para ti,guardei
Tua música como fundo músical no DVD
Sei que foste para a glória,meu irmão.
Varenka de Fatima Araújo
* Varenka de Fatima Araújo, teatróloga e poeta, é irmã de Segestes Tocantins
Tudofel: O doce mel da poesia
Tudofel: O doce mel da poesia: Senti afinidade com a poesia (ou vocação de arauto) desde o dia em que, com menos de cinco anos de idade, recitei um poeminha no progra...
quinta-feira, 20 de setembro de 2012
Geléia com Pimenta
A princípio, a notícia pareceu de todo inverossímil.
Chegara na praça , de repente, como uma bomba destas que explodem subitamente,
em Noite de São João, sem a necessidade de se lhe atearem fogo no estopim. E a
praça é a difusora de notícias em cidade do interior. As rodinhas de
aposentados, desocupados ali estão ávidas por novidades, sôfregas por um pouco
de adrenalina, afinal a desgraça alheia sempre cai nas almas como um lenitivo,
um ungüento para as nossas miudezas e
frustrações de todos os dias. Da boca para fora, todos lamentam as catástrofes
do vizinho, mas no fundo do coração bate sempre aquele consolo : “Tá vendo? E eu
aqui reclamando da vida!” O câncer, a
morte, a falência, a droga aparecem sempre como uma calamidade terrível quando
batem , por acaso, na nossa porta; ao adentrarem, no entanto pela janela do
vizinho, após o choque inevitável, sempre nos toca aquele conforto do “antes lá
do que cá”, do “ainda bem que não foi aqui”.
---
Júlio e Risoleta se separaram !
A
notícia que tomou de assalto a praça, naquela manhã, a rigor, não poderia se
considerar um furo de reportagem.
Separações de há muito tinham abandonado a prateleira das novidades. Os casais
se ajuntam não mais condenados às galés perpétuas, mas cientes da temporariedade
dos sentimentos e do dinamismo da vida. Juram não mais “até que a morte nos
separe”, mas “até que a vida nos aparte”. O que havia, pois , de inacreditável
no caso de Júlio e Risoleta ? É que, amigos, há poucos anos tinham comemorado
as Bodas de Prata e sempre perfizeram aquele casal perfeito, só existente nos romances mais açucarados.
Risoleta tinha um pequeno comércio na cidade, no ramo de confecções íntimas e
Júlio aposentara-se como bancário de um
tempo em que esta ainda era um profissão de algum status e de remuneração
digna. Tinham dois filhos já formados e
casados e que viviam fora, cada um tangendo a vida sem muitos atropelos. O casal
sempre fora um modelo de ajuste familiar e, inclusive, era o exemplo sempre
citado nas brigas dos outros casais da redondeza : “Você devia ser como Júlio!”
“Veja a Risoleta, porque você não se mira no exemplo dela, sua engraçadinha?”
Comentava-se
à sorrelfa que a estabilidade do casal devia-se, principalmente, à paciência
quase que monástica do nosso Júlio. Calmo, tranqüilo, pacificador, nunca se
soube de qualquer atitude sua que ferisse os rígidos preceitos da Glória Kalil.
Kardecista de carteirinha, carregava
consigo uma visão muito tolerante e espiritualizada da existência e dos
caminhos e veredas dos homens na sua viagem terrestre. A convivência com os
filhos, amigos e colegas de trabalho
sempre se mostrara de uma amabilidade a toda prova. Adorava a esposa e a
tratava como uma rainha e esta atitude não mudou em nada com o passar dos anos
e a chegada das cãs, das estrias e dos pés-de-galinha. Quanto à Risoleta , não
se podia dizer o mesmo no trato diário com as outras pessoas. Diziam os mais
próximos ser meio volta-seca, meio espoletada. No que tange, no entanto, ao trato
familiar, não se lhe sabia de máculas, principalmente na relação direta com o
marido ideal que, convenhamos, não podia ser de outra maneira. Por isso mesmo, a estranheza da notícia que se acentuou mais
ainda quando se soube ter partido de Risoleta a decisão irrevogável. Separar-se
daquele príncipe ? Que loucura deu na
cabeça daquela doida?
Passaram-se
os dias e a novidade confirmou-se. Risoleta saiu de casa e alugou um pequena
quitinete em um bairro mais afastado. Júlio permaneceu em casa meio recluso,
com suas lembranças . Os dois negavam-se a comentar as miudezas da lavagem de
roupa suja com os amigos. Não estava mais dando certo ! Esta era a única frase
com que tentavam concluir o fim do relacionamento de trinta anos. Pagou a pena máxima, Júlio! Havia
comentado um amigo mais chegado.
Uns
dois meses depois, por fim, a verdade brotou,
na Audiência de Conciliação. O casal viu-se diante do juiz que , os
conhecendo de muitos e muitos anos, imaginou , quem sabe, haveria possibilidade
ampla de reatamento. Poderia ter sido apenas um pequeno arrufo num casal
perfeito que não tinha nenhum traquejo em arranca-rabo e , o primeiro, depois
de muitos e muitos anos, poderia ter sido o estouro da barragem, a explosão de
alguns poucos ressentimento que puderam ir se acumulando no dia a dia e ,
represados, terminaram naquele tsunami. Ouviu,
primeiramente, Júlio que, como sempre, educadíssimo, fez um discurso de loas e
mais loas à companheira, louvando a convivência benfazeja de tantos e tantos
anos e finalizou dizendo não compreender ainda hoje o motivo de estarem
separados. Júlio deixou claro que a decisão intempestiva tinha sido tomada pela
esposa e que estava pronto a seguir , mais uma vez, a vontade da companheira
que escolhera para percorrerem juntos o pomar e também o monturo existência.
Como bom espírita tranqüilizou-se : “Seja como for, meritíssimo, estou pronto a
seguir meu Karma!”
Antes
de ouvir Risoleta, o juiz imaginou que, finalmente, haveria um bom termo, numa
Audiência de Conciliação. Geralmente se transformava numa rinha onde se
digladiavam dois galos cansados e amargos por nenhum espólio de guerra. A fala
da esposa que se seguiu, não podia lhe trazer melhores augúrios:
---
Seu juiz, eu casei com um homem perfeito ! Foram quase trinta anos com Júlio e eu
quero que fique bem claro : Não tenho uma mínima coisa sequer para reclamar
dele. Uma cara feia, um palavrão, uma discussão, um mau trato , nadicas de nada
! Ele sempre me tratou como uma rainha. Nada me faltou ! Aliás, eu nem
precisava ter um desejo! Ele adivinhava e me ofertava antes que eu falasse. É
um pai exemplar e mais que isso: um pãe! Aquela mistura de pai e mãe numa só
pessoa. Cuidou dos filhos com um desvelo difícil de se ver. E mais, nunca eu soube,
durante todos esses anos, de uma só imperfeição, um só deslize na sua conduta
em casa, na rua, no trabalho. Júlio, meritíssimo, não existe ! É um santo !
O
magistrado respirou fundo e pareceu feliz com o desenrolar dos fatos. No
íntimo, no entanto, cutucava-lhe uma desconfiança: por que diabos, então, o
gesto tresloucado da mulher, jogando tudo para o alto e tomando aquela decisão
inesperada? Salomonicamente , dirigiu-se ao casal e enfático tentou levar a termo a reunião:
---
Fico feliz pela decisão de vocês reatarem tudo. Podemos , então, dar cabo da
ação de divórcio, não é D. Risoleta ?
---
De jeito, nenhum, seu juiz, eu quero a separação !-- Exasperou-se a mulher.
O
juiz, confuso, ante à inesperada reviravolta da causa, voltou-se para a esposa
de Júlio, já sem muita paciência:
---
Como, minha senhora? Depois de tantos elogios a seu consorte, o homem perfeito
! A senhora quer se separar alegando o quê?
Risoleta,
por fim, explanou o que o marido, o juiz e o povo da praça até aquele momento
na entendera:
---
Perfeição, seu juiz ! Perfeição! Não há quem agüente viver com um homem
perfeito desses, não! Não há ! Júlio é para estar num altar e não numa casa com
uma esposa. Perto de tanta perfeição, seu juiz, os defeitos da gente ficam
muito mais visíveis. Eu já não estava mais me suportando! Imagine o senhor uma
aquarela pintada com um amarelo forte, sem nuances de cores! Com o tempo começa
a ofuscar! Não há olho que agüente tanta
luminosidade. Assim é o Júlio, falta-lhe o contraste do claro-escuro, da sombra e da luz. Até em geléia , já se coloca
pimenta, não é ?
Ante
a estupefação do marido e do juiz, ela fez suas alegações finais:
---
Pense aí , seu juiz, comer durante trinta anos a mesma comida limpíssima,
saudável, mas sem tempero nenhum ! Sem sal, sem pimenta , sem cominho, sem
alho, há quem agüente? O Júlio parece um doce de gergelim, gostoso, mas
durante trinta anos, direto ? Tá doido? Arripunei !
Esclarecidos
os fatos, providenciou-se o apartamento dos trapos. No dia seguinte, Rui
Pincel foi visto se dirigindo sorrateiramente
ao cabaré. Quando os amigos perguntaram seu destino, ele explicou:
--- Vou ali na Rua da Saudade botar uns cravos e
um salzinho no meu doce, senão a mulher me larga !
J. Flávio Vieira