quarta-feira, 10 de outubro de 2012

Eleições do Crato ( III ) - José Nilton Mariano Saraiva



É difícil imaginar que alguém, em sã consciência e em pleno século XXI, acredite ainda que o gerir a “coisa privada” guarde alguma similaridade com o comandar a “coisa pública”. Afinal, contemplam atividades completamente divorciadas, estanques e dissociadas. Na “privada”, cujo universo de atuação normalmente é restrito ou direcionado a uma atividade específica, o objetivo final será sempre e unicamente o “lucro”, o crescer pra repartir o bolo com um grupo restrito (preferencialmente familiares), sem ter a obrigação de prestar contas a quem quer que seja. Já na esfera “pública”, o universo de atuação além de ser muito mais amplo, complexo e diversificado, tem no atendimento aos anseios de milhares de pessoas o seu objetivo maior, a sua meta prioritária. Em suma, na primeira vige o capital e sua falta de sensibilidade, enquanto que na segunda deve prevalecer o cuidado com o social, o olhar preferencial nas pessoas. Portanto, não têm nada a ver uma coisa com a outra.
A reflexão acima é só para lembrar que, nas eleições recém-findas, lá no Crato, o candidato vencedor usou como mote principal para se credenciar ao cargo de prefeito da cidade, o fato de ser um empresário vitorioso do ramo cerâmico. Inclusive, justiça lhe seja feita, a Cerâmica Gomes de Matos, de sua propriedade, em sociedade com um dos irmãos (especializada na produção de tijolos, lajotas e telhas) foi a primeira empresa a usar o crédito de carbono no Nordeste. O crédito de carbono, como se sabe, é uma espécie de moeda ambiental trocada por projetos que promovem a redução do despejamento de gás carbono na atmosfera. Nos anos de 2007 e 2008, a Cerâmica Gomes de Matos vendeu R$ 1,3 milhão de crédito de carbono ao Banco Mundial, deixando de emitir 114.000 toneladas de CO². Portanto, uma mente plugada nas transformações do dia a dia, o que já é um alento.
Mas, retomando o fio da meada, a verdade é que o povo do Crato (aleluia, aleluia), percebendo o estrago patrocinada por 08 anos de uma administração caótica, sem norte e desprovida de qualquer apoio político, ficou tão decepcionada, frustrada e desiludida por ver a cidade no fundo do poço, que achou por bem esquecer as diferenças entre o privado e o público e jogar todas as suas fichas num empresário de sucesso, acreditando que ele poderá levar para a prefeitura os mesmos conceitos, dinâmica e atitudes adotadas em sua empresa particular. Um autêntico “salto no escuro”, já que indo de encontro à racionalidade que viceja nos campos público e privado.

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