domingo, 21 de outubro de 2012

Fidel Morre? E dai? Viva Cuba! - José do Vale Pinheiro Feitosa


Não sei como o assunto foi e se foi tratado aí do nosso lado. Venho com ele uma vez que sei das paixões, por vezes até mórbidas, que alguns amigos e conterrâneos têm pelo símbolo histórico de Fidel Castro. O que todos esquecem na paixão é que a história é feita de aconteceres com a personalidade humana em cena a ter atitudes e tomar decisões. Mesmo quando se trata de uma catástrofe natural repentina como um terremoto ou lenta como uma longa seca gerando fome e sede, o que se extrai de história é o papel humano nestas ocasiões.

Por isso certas lideranças se tornam simbólicas. Diante do avassalador efeito do Império Romano sobre a cultura hebraica, o movimento cristão a despeito do que pensem até hoje os membros da religião judaica, foi um núcleo gerador que espalhou a irmandade e a solidariedade como algo mais valoroso do que o domínio imperial. No século XX na América Latina a Revolução Cubana com suas lideranças, especialmente Fidel Castro, teve impacto tremendo contra o maior império que já se teve notícia na humanidade (nem o Império Inglês foi tão expansivo quanto o Americano).

A Revolução Cubana, podemos dizer foi, a senha para os caminhos próprios e independentes dos países americanos em oposição aos ditames imperiais. Criou-se uma agenda centrada nos direitos sociais (diga-se que também ocorria nos EUA), na criação de uma grande camada da população com escolaridade, saúde púbica, moradia, transporte, emprego e renda. A ideia de progresso material estava implícita junto com valores de igualdade, autonomia e participação.

Conheço Cuba muito bem a ponto de logo explicitar que existe uma forte oposição interna a determinadas políticas e até mesmo muitas críticas aos “velhos revolucionários”. Mas é preciso não esconder para baixo do tapete algo muito evidente: com toda pressão externa ainda persiste entre os cubanos a ideia do debate, do confronto de ideias e a noção de uma Cuba para os cubanos apesar de todas as sabotagens oriundas dos EUA.

É impossível esquecer que o Governo Americano continua ocupando o território cubano de Guantánamo e com uma prisão que se tornou o símbolo da tortura e da sentença sem juízo. Uma prisão que se tornou o símbolo da arrogância do Império em sua luta contra organizações e pessoas que ousam se insurgir contra suas políticas agressivas e de domínio. Mais claramente: ocuparam o território cubano para mostrar as garras contra pobres, organizações adversárias e nações frágeis. Isso é o Símbolo Imperial desnudo.

Mas voltando ao que queria mesmo comentar. Um jornalista venezuelano divulgou, o Jornal O Globo repercutiu, que Fidel teria morrido e o governo aguardava 72 horas para anunciar o fato. Aliás, é a mesma fonte que levou Merval Pereira, colunista do Globo, a anunciar que Chávez estava com poucos meses de vida. O homem acaba de vencer uma eleição disputadíssima.

Comento esta grande besteira, mas antes quero falar dos esquemas ideológicos primários e de má qualidade: o jornalista Venezuelano usa as velhas táticas da Guerra Fria e cria o mesmo enredo que a propaganda da época criou para a morte de Stalin. A ideia de que se Fidel morrer tudo o mais morre. Grande bobagem.

Ora Fidel, assim como Merval Pereira e o jornalista Venezuelano são mortais. Podemos esperar a morte de um dos três a qualquer momento, mas com uma diferença. A probabilidade de que seja o Fidel Castro é muitas vezes maior do que os outros dois: Fidel tem 86 anos e já carrega, como não é incomum nesta idade, algumas doenças crônico-degenerativas.

Portanto Fidel morrerá nos próximos meses ou anos. Mas isso não contraria em nada o peso dele na história da América Latina. Um peso que se diga para esta mentalidade gorda e preguiçosa de certa direita americana, que não é de graxas, mas com a leveza de uma ordem moral e ética que nos equipara tanto na mortalidade quanto em força de viver. E viver sem acoelhar-se frente a nenhum outro ser humano.

Sim, hoje apresentaram uma foto de um Fidel vivo. Vivo até para morrer, mas não um esquife como aqueles mortos-vivos do jornalismo.
  

Um comentário:

  1. Zé do Vale,
    Os sectários e intolerantes jamais admitirão a importância histórica de Fidel Castro e sua Cuba (simbolo de resistência e luta).
    E vão continuar "ad nauseam", "ad eternum", "ad infinitum" e todos os "ad" do mundo, a referir-se a um tal "paredon, paredon, paredon".
    Triste.

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