quarta-feira, 17 de outubro de 2012

Totalitarismo - José do Vale Pinheiro Feitosa


Quando nos defrontamos com a variação cultural temos a certeza de que a causa única (deus), responsável por todas as coisas, é uma parte e não o todo. Na verdade nem tudo se resume a sistemas duais, um sim e um não, uma probabilidade ou um determinismo, isso ou aquilo. Muito desta dualidade é meramente uma arapuca da mente preguiçosa a repetir continuamente o mesmo de si mesma.

Dada a natureza quase universal, a capilaridade com que se infiltra na vida e principalmente a totalidade que abrande praticamente todas as relações humanas, a moeda ou dinheiro se tornou uma verdadeira divindade monoteísta. É o móvel único a executar relações públicas à vista de todos e a executar outras escondidas ou clandestinas.

Claro que este Deus tem muito da natureza dos deuses gregos, tem uma teogonia nos Estados Nacionais e seus pesos relativos são disputados como o eram no Olimpo. Mas, descontadas as potências de cada deus, a dinâmica daí em diante dirige toda a vida humana: o emprego, a renda, a guerra, a conquista, o território e assim por diante. Por isso o Deus patriarcal dos Hebreus terminou dando uma guinada histórica e retornando à dependência permanente e recíprocA entre o Olimpo e Gaia.   

Esta é uma visão catastrófica da história humana ou da desumanização progressiva por dinâmicas universais e totalitárias a que os neoliberais chamaram de globalização financeira. Na verdade o projeto de domínio e poder absoluto não foi superado pela moderna democracia e a diversidade continua em permanente crise e ameaçada por forças totalitárias no sentido político da coisa à semelhança com a literatura de George Orwell em 1984 ao denunciar os sistemas totalitários da Europa nos século XX (União Soviética, Alemanha, Itália etc.).

A verdade é que o dinheiro evoluiu de uma situação de capilaridade e da totalidade das relações humanas para a totalidade absolutista no sentido político. Ontem assistindo a uma aula magna na Universidade Federal Fluminense sobre modelagem da natureza com os fins de se criar um desenvolvimento sustentável completou-me uma nova visão. A de que o Big Brother é uma realidade em evolução e marchando não para o controle pelos Estados, mas pelas corporações econômicas.

Todos lembramos aquele estudo Suíço realizado com as maiores empresas quando se viu que o capital e as decisões estão sendo tomadas por um núcleo duro muito restrito em relação ao conjunto. Isso despontando para o poder absolutista ou totalitário. E agora como a evolução do papel moeda para o dinheiro eletrônico os mecanismos estão se ampliando.

Hoje, um dos assuntos da moda em 2012, a mobilidade das pessoas é monitorada, avaliada, modelada e são criados padrões de controle. Controlados por quem? Pelas grandes corporações. Para se ter uma idéia de três mecanismo imensos e que todos em fazemos sem crítica alguma: a telefonia móvel, os cartões eletrônicos (débito e crédito) e as redes sociais na internet como o Facebook.

Com a telefonia móvel estão criando modelos que tentam controlar padrões que estariam na esfera da liberdade e da privacidade das pessoas e submetendo-as à decisão de pessoas por trás dos modelos. Ao usar seu telefone celular ele vai mudando de uma antena para outra de modo que é possível rastrear os passos de uma pessoa para onde ela for desde que use o celular. Ontem o professor dizia num tom “ético” que ao fazer estes estudos eles não enxergam uma pessoa, mas isso é uma grande bobagem. Só existe uma possibilidade de saber-se que este sinal que foi captado numa antena no Grajeiro e quinze minutos depois em Juazeiro se o telefone for identificado. Pode não ser a pessoa, mas certamente o assinante ou o dono do CPF está em questão. Lembram daquele episódio do assassino do cartunista Glauco em São Paulo? O assassino foi monitorado pelas antenas de celular. E o quê se dizer das conversas de Toninho Cachoeira?

Quanto aos cartões eletrônicos é impressionante: identifica mobilidade, ruas, cidades, países, o que se consome e quanto gasta. As administradoras de cartões eletrônicos têm verdadeiros bancos de mineração de dados para modelar padrões de consumo de cada cliente seu. Por isso existem aqueles bloqueios e aqueles avisos para se comunicar com o administrador do cartão. Agora é só refletir que isso é um salto para criar mecanismos de controle e indução de consumo.

As redes sociais viraram uma festa popular a serviço do big Brothers. Elas têm uma sintonia até mais fina sobre a vida. Elas têm as manifestações da afetividade de cada um, as suas preferências, as emoções, as intenções, as previsões e os “comportamentos” corriqueiros das pessoas. Quando as brincadeiras, aquelas fotos de família, aquelas piadas, os comentários são feitos, criam-se clusters comportamentais de grande utilidade em sistemas totalitários de controle, manipulação e mobilização política das pessoas.  

A liberdade e a discussão sobre a democracia se encontra muito além dos velhos esquemas de pensar do passado século XX. É preciso quase que esquecer os paradigmas e prestar a atenção para as mudanças naquilo que já não corresponde às afirmativas de então. O mundo mudou. E muito. A vida é muito diferente. E precisamos romper a preguiça com que a nossa própria inteligência e conhecimento nos cegaram.
  

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