segunda-feira, 12 de novembro de 2012
"Pragmatismo" na "Governabilidade" - José Nilton Mariano Saraiva
Em sã consciência é difícil acreditar que as convenientes “composições políticas” hoje arquitetadas sejam do agrado de alguns que a elas sejam obrigados a recorrer (como os presidentes Lula da Silva e Dilma Rousseff). Assim, recomenda o bom-senso que deixemos de lado a hipocrisia e encaremos a coisa de frente, olho no olho, verbalizando-a em português claro e cristalino: no Brasil, enquanto as regras do jogo não forem radicalmente alteradas, não só a palavra “governabilidade”, mas, principalmente, sua “operacionalização” será sempre associada à pragmática e famigerada “composição”. Sim, porque o nosso arcaico e viciado sistema político assim o determina ao, literalmente, por de joelhos o Chefe do Poder Executivo (ninguém menos que o Presidente da República) ante os integrantes do Poder Legislativo (Deputados e Senadores com assento no Congresso Nacional), se quiser obter a tão almejada maioria de votos visando realizar alguma coisa em favor do povo. Portanto, por mais reprovável que se nos apresente tal prática (e é triste constatar isso), não entrar no “esquema”, envergar a camisa do bloco do eu sozinho, não se compor, comprar briga com essa raça de mafiosos que transformou a atividade política num desonesto e rendoso meio de vida, traz como conseqüência a imobilidade, a estagnação, o próprio caos, a ingovernabilidade. Querem um exemplo ??? Quem não lembra que, eleito Presidente da República (pelo minúsculo PMN), o “caçador de marajás” Fernando Affonso Collor de Mello “dançou solenemente” ao se “fechar em copas”, negando-se terminantemente a fazer qualquer tipo de composição com outras agremiações, sob a alegativa de que delas não precisaria pra governar. Deu no que deu: logo, ligeirinho, mais que depressa, arranjaram um “impeachment” para o homem (e até hoje não apareceram quaisquer provas dos supostos crimes praticados pelo distinto).
A reflexão acima é só pra lembrar que muito se tem reclamado, com inteira razão, sobre o verdadeiro “absurdo” de certas “composições políticas” na quadra atual. Quem imaginaria, por exemplo, que um dia o outrora ético, puro e singelo PT fosse procurar um escroque como o Paulo Maluf com o objetivo (enfim alcançado) de desbancar o PSDB do comando da política na prefeitura de São Paulo e já de olho no governo do Estado mais poderoso na nação ??? Ou que esse mesmo PT se tornasse aliado, sob pena de não conseguir governar, de figuras asquerosas e repulsivas, da estirpe de um José Sarney, Renan Calheiros, Jáder Barbalho e outros menos votados, aos quais rotulava até outro dia, com inteira razão, de “desonestos” ??? O que dizer da atitude (aqui no Ceará) da família sobralense Ferreira Gomes (Ciro, Cid & Cia) que, alçados ao poder, às suas mordomias e aos holofotes pelo “amigo-irmão” (como o tratavam) Tasso Jereissati, findou por traí-lo miseravelmente, ao apoiar e ter papel determinante na eleição de um simplório “bancário” (José Pimentel) que com ele concorria para uma única vaga no Senado Federal ??? É tanto que, de tão decepcionado e apoplético com o ocorrido, o arrogante e prepotente ex-governador resolveu encerrar a carreira.
Agora mesmo, na recente briga pela prefeitura de Fortaleza, a coisa chegou às raias do absurdo e do grotesco quando, objetivando prioritariamente derrotar o candidato do PT, sob o comando dos Ferreira Gomes (sempre eles) se acomodaram num verdadeiro “balaio de gatos” (não necessariamente todos pardos), os partidos: PSB, PMDB, DEM, PDT, PSDB, PPS, PPL, PRTB, PTdoB, PSD, PRP, PSB, PTC, PMN, PHS, PSDC, PSL, PTB, PP, PRB. Raciocinemos juntos: teria essa exótica e heterogênea miscelânea de siglas, no total de vinte (20) agremiações, alguma identidade programático/ideológica entre elas, capaz de alçá-las a um mesmo palanque, bradarem um mesmo discurso, entoarem um mesmo refrão, apoiarem um mesmo candidato ??? Claro que não. O que tem a ver, por exemplo, o PSB com os comunistas do PCdoB, ou o PSDB com o PPS, ou o PMDB com o DEM, ou o PDT com o PHS, e por aí vai ??? Qual o preço a ser pago a cada uma delas na viabilização de tão multifacetado condomínio-político ??? Diante de tão esdrúxulo acordo, cabe o questionamento: quem, afinal, dará as cartas na Prefeitura de Fortaleza, a partir de 2013 ??? (pra refrescar sua memória, um lembrete: faz tempo que o senhor Ciro Gomes de acha desempregado).
Agora, como não se pode acabar com isso via medida provisória e/ou decreto-executivo, já que vivenciamos uma democracia plena, torna-se necessário que o próprio Congresso Nacional se disponha a mudar as leis atinentes. Terão os seus integrantes interesse em “matar a galinha dos ovos de ouro” ??? Fixemo-nos no PMDB, partido detentor da maior bancada em cargos proporcionais (Deputados, Senadores, Vereadores): por qual razão sua direção jamais manifestou qualquer preocupação em concorrer à chefia do Poder Executivo Federal (Presidência da República) ??? A resposta é simplória: do jeito que a coisa está, será sempre e sempre o PMDB o “fiel da balança” já que, independentemente de quem leve (ganhe a eleição), necessitará do seu apoio para exercer a tal “governabilidade”. Como se vê, o problema é mais sério do que se possa imaginar.
E se partirmos para globalizar tal raciocínio, a coisa não muda muito de figura, não. Senão, vejamos que paradoxo: na atualidade, qual é o maior país “SOCIALISTA” do mundo ??? A República Popular da China. E qual é o maior país “CAPITALISTA” do mundo ??? A República Popular da China.
Algum dia você havia imaginado que no futuro o socialismo e o capitalismo juntar-se-iam pragmaticamente pra conseguir resultados tão expressivos, apesar de todo o oceânico-antagonismo ideológico que os caracterizam (será mesmo que a validade de uma doutrina é determinado pelo seu bom êxito prático ???).
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