Os romanos absorveram a palavra “laikós” do grego que
significava “do povo” e depois o Latim Vulgar evoluiu para “leigas” que derivou
para o hoje leigo. E a palavra “leigo” se desdobra em dois significados
principais: que não pertence ao clero ou aquele que é ignorante em relação a um
determinado assunto ou profissão. Os sacerdotes como senhores do feudo
espiritual, pretendentes a porteiros da eternidade, reduziram as almas aflitas
ao estado da secularidade. Aquele que vive apenas no tempo, no século.
Tome-se na espiritualidade, na materialidade e na eternidade
a trindade que une a carne frágil ao evoluir do cosmo e perceba o quanto a
narrativa cristã original era mais ampla, livre, universal e igualitária. Cabia
a todos neste mito do nascimento regular do “Natal” e na renovação da
fertilidade no “Ano Novo” que restabelece o calendário do fim do tempo.
Esteja na leitura que contigo estou. O evoluir etimológico é
um assunto por vezes árduo e enfadonho, igualmente parece o estudo da
genealogia familiar. Mas como ocidentais, que somos desaguadouros da
civilização greco-romana e da narrativa mesopotâmica dos semitas, perceba o
quanto a tua ligação ao cosmo é germinação secular, do tic-tac dos segundos e
do foguetório dos séculos. Do leito e da mesa do teu lar ao planeta com suas
desigualdades territoriais.
Por isso o leigo, a realidade do mundo, posto que humana e do
povo, se contrapõe à elite sacerdotal, à igreja, à formação de feudos e de
senhores. Enquanto o leigo amplia, a ordem eclesial recolhe-se entre muros de
castelos ou burgos a restringir todos a regras seculares de ritos e mitos. A
ordem feudal que abafa a circulação da difícil união entre a carne e o cosmo.
Entendo que nesta altura pergunte-se a respeito por que te
ofereço estes parágrafos. O Papa em mensagem ao fieis resolveu fechar mais
janelas na livre relação entre todos. Ao condenar o casamento entre pessoas do
mesmo sexo, não apenas demonstra o quanto ausente se encontra a igreja da ordem
laica do Estado como nada mais há que se opor ao espírito de mediação entre as
pessoas e o cosmo. Mediação que se encontra nas leis que não apenas são removíveis
como também se movem pela própria relação com o tempo e o espaço.
Ao chegar ao limite dos muros do Vaticano o Papa lança
pedras de fogo sobre as ruas e praças urbi
et orbi apinhada de gente. Praticamente o sacerdote máximo da Igreja
Católica não defende os fieis, mas ao contrário, convoca os fieis a combaterem
a oxigenação dos seres humanos, essa espécie tão dependente deste gás. Amanhã
quando Irmandades Católicas se radicalizarem quais outras “irmandades” muçulmanas
ou judaicas as ruas e praças estarão interrompidas para a relação entre o ser
humano e o cosmo.
A radicalidade feudal das religiões, em pleno tempo da
universalização e da igualdade, tem o dom da sufocação. Da tortura e do ódio.
Da perseguição e da crucificação. Mesmo que católicos atentos aos seres e ao
cosmo não façam essa leitura, é inegável que a história recente mostra tal
radicalidade nas ruas do Cairo, na Líbia, na Síria, na Europa, enfim onde o
humano existe por necessidade de ser no mundo.
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