Ao raiar do ano 2000, de férias no
Rio de Janeiro, tivemos oportunidade de ver em ação a tal torcida organizada
“Gaviões da Fiel”, do Corinthians. E podemos garantir: trata-se de uma coisa
assustadora, de arrepiar qualquer um, fazer tremer estátua de pedra. Aos
hurros, proferindo palavras de ordem, aquela horda descontrolada de marginais
penetrou na estação do metrô em Copacabana e, literalmente, passou como um rolo
compressor, verdadeiro redemoinho, por sobre o que encontrou pela frente;
catracas, os parrudos seguranças e torcedores do time adversário e por aí vai
(ainda bem que os seguranças, pós-passagem e refeitos do susto, num átimo de
coerência, nos recomendaram – torcedores do Vasco da Gama - que, se não
quiséssemos ser trucidados, tirássemos imediatamente a camisa do time,
adversário do Corinthians naquele jogo da final do Campeonato Mundial, dali a
pouco, no Maracanã.
Dali até aqui, foram muitas (mas
sempre suportadas) as confusões patrocinadas pela “Fiel”, mas eis que, agora,
13 anos depois, os marginais que se dizem torcedores (e que são financiados
pelo clube, sim, em suas andanças pelos estádios de futebol por esse mundo
afora), chegaram às raias do absurdo: assassinam de forma violenta e covarde um
jovem adolescente e, ainda por cima, em um outro país.
E aí, temos a palhaçada,
verdadeira canalhice, patrocinada pela principal emissora de TV do país (Rede
Globo), de par com a CBF e torcedores corintianos integrantes de segmentos da
mídia esportiva: ante a perspectiva real de o clube ser penalizado com a
exclusão de uma competição internacional, dada a repercussão mundial do fato e
em sendo o Corinthians um chamariz de audiência e, conseqüentemente,
patrocinadores, imediatamente deram um jeito de arranjar um “menor de idade”
(acompanhado da mãe), que, orientado com perguntas e respostas devidamente
ensaiadas, prestou depoimento exclusivo àquela emissora, em horário nobre,
garantindo ter sido o responsável isolado pela barbárie (na realidade, não
exista prova nenhuma de que realmente estava presente ao estádio, mas, só em
alegar tratar-se de um “menor de idade”, a Globo se previne, na perspectiva de
que nada lhe acontecerá; quanto à família, será regiamente “recompensada”, a
posteriori).
A matéria foi reprisada nos dias
seguintes, nos diversos telejornais da emissora (manhã, tarde e noite), de
forma que se firme na mente dos incautos e desprovidos de consciência crítica
que tudo não passou de uma fatalidade, que o “coitadinho” não tinha consciência
do que estava fazendo, que não direcionou a bomba para a torcida contrária e,
enfim, que a vida segue e nada adiantará ficar remoendo coisas da espécie; a
Globo continuará bancando o Corinthians, ad infinitum, e arrecadando milhões
com os patrocinadores, enquanto os marginais das “organizadas” continuarão impunes
e aprontando (covardes e ridículos, alguns dos bandidos que foram presos,
portando e exibindo “santinhos” do Cristo, tiveram até a desfaçatez de se
dirigir, claro que pela Globo, à presidenta Dilma Roussef, solicitando que o
governo brasileiro intervenha para a sua soltura).
O que mais revolta nisso tudo é que,
embora todos saibamos tratar-se de uma farsa grotesca, visando não prejudicar
os ganhos futuros da Globo, os formadores de opinião de outros veículos de
comunicação não questionam, não se interessam no aprofundamento da questão,
portam-se como verdadeiros cúmplices da barbárie.
Mas... por que estranhar: afinal,
Obama não disse que matou Osama e, embora ninguém tenha visto o corpo, até hoje
muitos acreditam seja aquela a verdade verdadeira ???
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