Lançado
no Brasil semana passada, o filme "Mama" é mais uma idiotice, digamos, onstruosa, usando um adjetivo adequado. A mídia deu páginas inteiras
na divulgação, alardeando como "um novo estilo de suspense", "forte
carga de sustos", "clima de terror psicológico", "tenebroso", e outras fraudes publicitárias.
Digirido pelo argentino Andrés Muschietti, coproduzido pela Espanha e
Canadá, "Mama" é tipicamente uma mesmice dos filmes hollywoodianos do
gênero. Nada de novo debaixo das trevas da falta de criatividade desses
roteiristas, no caso, o britânico Neil Cross, que escreveu uma série de
thriller na BBC - o que para mim não credencia excepcionalidade nenhuma.
E dizem que a concepção desse enredo tolo e vazio, teve inspiração em
obras do artista plástico Chet Zar, um californiano de 46 anos, que tem
seu trabalho inspirado em filmes de terror, e já enveredou na indústria
cinematográfica criando efeitos especiais para "O Chamado", as
continuações de "O Planeta dos Macacos" e "Darkman". Não é meu tipo de
pintura, não colocaria um quadro de Zar na minha parede, mas as suas
criações a óleo em enormes telas são perfeitas, assustadoras, demonstram
engenho e técnica de um grande artista. Ao contrário do filme. E para
credenciar mais "qualidade" a "Mama", o diretor, numa entrevista, disse
que o personagem título, a coisa esquisita lá, uma mãe "angustiada" no
além sem o filho no colo, é uma "espécie de pintura de Modigliani
deixada para apodrecer..." Mama mia! É muito engodo. Realmente, a
figura "assustadora" do filme esboça as características de rostos e
pescoços alongados do grande pintor italiano, mas comparar com essa bela
criação e deixá-la putrefazer, é uma analogia infeliz, de muito mau
gosto.
"Mama" é um mosaico, ou mais apropriadamente, um
caleidoscópio de clichês de todos os sustos que já se viu no cinema. E
não incluo os arrepios Hitchcock, para não vulgarizar a obra do mestre
do suspense. É outra coisa. Incluo os sustos explícitos, os que não
sugerem, que precisam de tradução, que não exigem mobilização de
raciocínio, que não estimulam os neurônios. São bem feitos, sim.
Principalmente depois da tecnologia de ponta. A produção industrial
cinematográfica americana e derivadas de outros estúdios, precisam
desse público para abastecer os milhões investidos. O cinema com seu
poderio torna-se uma máquina alienante. Mas cinema não é somente
diversão. É uma arte de reflexão, também. E não falo aqui de
“filme-cabeça” , necessariamente. Hitchcock – ele de novo, claro – soube
muito bem aliar os sustos com os dramas humanos em entretenimento de
qualidade. O que fica para história, “Cortina rasgada” ou “Mama”?
Que o efêmero e descartável existam como significados desses filmes, mas
que não se aspire como inovação e se pretendam obras-primas.
Há quem goste. E gosto não se discute, se lamenta.
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