sexta-feira, 24 de janeiro de 2014

O SOFRIMENTO QUE DENUNCIA - José do Vale Pinheiro Feitosa

Temos, simultaneamente, em nossa estrutura humana a mortalidade e a imortalidade. Ou seja, o tempo que se acaba e ao mesmo tempo a eternidade. Isso decorre de alguns atributos humanos: a memória, a racionalidade, a capacidade de fazer arte, portanto, de transcendência e o conjunto de ações compreendidas como cultura e política. Sujeitos da ação que somos, mesmo que mortais, nos expandimos além do corpo e do tempo (transcendência).

Vivemos o desastre de um ambiente formado numa civilização populosa, quando a consciência do território é o próprio planeta e não mais um pequeno trecho de terra. Todo orientado por concentração de decisões em poucas mãos (daí se origina a palavra imanente) funcionando em “jogos econômicos” que transpõem os atributos humanos. Daí e importância da democracia popular.  

A decorrência das decisões dos “barões do dinheiro” e de seus “jogos econômicos” é a brutal urbanização aliada a enormes privações sociais que atingem sobretudo migrantes e mulheres. Assim a cidade de São Paulo, o maior símbolo do desenvolvimento capitalista brasileiro, aquele que mais se aproxima do modelo dos Estados Unidos, tem alto índice de transtornos mentais. É a segunda cidade do mundo em relação a esses problemas, só perdendo para uma cidade americana.

São Paulo e sua região metropolitana segundo o Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas poderia ter 29,6% da sua população com transtornos mentais tais como ansiedade, mudanças comportamentais e abuso de substâncias químicas.

Estudo da Organização Mundial de Saúde estima que 700 milhões de pessoas sofrem algum tipo de transtorno mental, sendo a segunda causa de invalidez. A depressão é a principal de transtorno mental. A estimativa é que 300 milhões de pessoas sofrerão depressão e 90 milhões terão problemas por abuso com substâncias químicas.

Os transtornos mentais são a terceira causa de longos afastamentos do trabalho por doença. E mais nítidas são as evidências do jogo do capitalismo nessa origem segundo estudo da Faculdade de Saúde Pública de São Paulo.  “Ambiente de trabalho com pouco apoio social, excessivas demandas e baixo controle sobre tarefas, recompensa inadequadas comparada ao esforço de trabalho e comportamento individual excessivo.”


A conclusão mais próxima é que o componente de eternidade humana não suporta a permanente exploração e decisões que apenas respondem a um jogo de interesses restritos. Tudo leva a crer que os transtornos mentais não apenas são consequências do desastre desta situação como inclusive seja uma resposta de negação a ele. 

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