Temos, simultaneamente, em nossa estrutura humana a
mortalidade e a imortalidade. Ou seja, o tempo que se acaba e ao mesmo tempo a
eternidade. Isso decorre de alguns atributos humanos: a memória, a
racionalidade, a capacidade de fazer arte, portanto, de transcendência e o
conjunto de ações compreendidas como cultura e política. Sujeitos da ação que
somos, mesmo que mortais, nos expandimos além do corpo e do tempo
(transcendência).
Vivemos o desastre de um ambiente formado numa civilização populosa,
quando a consciência do território é o próprio planeta e não mais um pequeno
trecho de terra. Todo orientado por concentração de decisões em poucas mãos
(daí se origina a palavra imanente) funcionando em “jogos econômicos” que
transpõem os atributos humanos. Daí e importância da democracia popular.
A decorrência das decisões dos “barões do dinheiro” e de
seus “jogos econômicos” é a brutal urbanização aliada a enormes privações
sociais que atingem sobretudo migrantes e mulheres. Assim a cidade de São
Paulo, o maior símbolo do desenvolvimento capitalista brasileiro, aquele que
mais se aproxima do modelo dos Estados Unidos, tem alto índice de transtornos
mentais. É a segunda cidade do mundo em relação a esses problemas, só perdendo
para uma cidade americana.
São Paulo e sua região metropolitana segundo o Instituto de
Psiquiatria do Hospital das Clínicas poderia ter 29,6% da sua população com
transtornos mentais tais como ansiedade, mudanças comportamentais e abuso de
substâncias químicas.
Estudo da Organização Mundial de Saúde estima que 700
milhões de pessoas sofrem algum tipo de transtorno mental, sendo a segunda
causa de invalidez. A depressão é a principal de transtorno mental. A
estimativa é que 300 milhões de pessoas sofrerão depressão e 90 milhões terão
problemas por abuso com substâncias químicas.
Os transtornos mentais são a terceira causa de longos
afastamentos do trabalho por doença. E mais nítidas são as evidências do jogo do
capitalismo nessa origem segundo estudo da Faculdade de Saúde Pública de São
Paulo. “Ambiente de trabalho com pouco apoio social, excessivas demandas e
baixo controle sobre tarefas, recompensa inadequadas comparada ao esforço de
trabalho e comportamento individual excessivo.”
A conclusão mais próxima é que o componente de eternidade
humana não suporta a permanente exploração e decisões que apenas respondem a um
jogo de interesses restritos. Tudo leva a crer que os transtornos mentais não
apenas são consequências do desastre desta situação como inclusive seja uma
resposta de negação a ele.
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