segunda-feira, 27 de outubro de 2014

A BANDA PAULISTA ÉBRIA DE DEMOCRACIA - José do Vale Pinheiro Feitosa

Essa eleição é a prova que o Brasil ficou no passado. Não é nem bolsa família, não é marquetagem. O Nordeste sempre foi retrógrado. Sempre foi governista, sempre foi bovino, sempre foi subalterno em relação ao poder. Durante a ditadura militar, depois com o reinado do PFL e agora com o PT. É uma região atrasada, pouco educada, pouco construída, que tem uma grande dificuldade para se modernizar. Se modernizar na linguagem. A imprensa livre, a liberdade de imprensa é um valor que vale do Brasil para baixo.” – DIOGO MAINARDI NO MANHATTAN CONECTION DA GLOBO NEWS.

Analisar realidades complexas requer equilíbrio, método, renovação contínua dos dados de modo acompanhar as transformações sempre existentes em todos os componentes. Na mídia e agora na internet é muito comum repetição de análises feitas no passado sendo repetidas como se nada tivesse acontecido depois das mesmas. As conclusões que haviam chegado já não explicam mais a realidade atual.

Se fôssemos compreender São Paulo com os elementos de sua estrutura econômica e política tradicional iríamos encontrar um dos lugares mais atrasados do Brasil. Oligarca, infenso às mudanças sociais, agarradoS a tradições obsoletas e muito colonialista por princípio das classes proprietárias.

O nordeste brasileiro, o Rio Grande do Sul e até Minas Gerais quando compreenderam o atraso que era São Paulo para o Brasil fizeram uma revolução para mudar a estrutura política e econômica do país. Não esqueçam que São Paulo é a terra de políticos atrasados como Adhemar de Barros, Jânio Quadros, Paulo Maluf e que é adorado pelos paulistas que os seguiu como cordeirinhos sem qualquer crítica. Eles serviam aos propósitos da elite do Estado. E pelo menos Ademar e Maluf tiveram seus nomes associados à corrupção e nunca os paulistas e sua mídia funcionou como oposição a eles e nestes termos.

Aliás, São Paulo se tornou a menina de ouro da meritocracia neoliberal, cheia de universidades que correm atrás do sucesso pessoal em atropelo dos demais. O interior do Estado, não obstante a existência de estruturas econômicas bastante avançadas, tem um instinto caipira chique de postura country pois se identificam com os cowboys americanos.

Dizer que São Paulo é isso não significa que ali mesmo se encontram coisas impressionantes em termos de vanguarda, tanto cultural, quanto de experiência de um mundo em transformação. São Paulo é importantíssimo para um projeto de nação.

Assim como o Nordeste brasileiro. Que não é liberto das oligarquias e dos mandões que se renovam travestidos com outras vestimentas. O nordeste, também tem uma mistura de arcaico e moderno, de liberdade e escravidão. Mas o nordeste não é a rabeira da nação. Só a visão de antolhos pode imaginar que seja possível se viver num país irrequieto, grande e populoso como Brasil, mantendo traços arcaicos que nunca mudam. Tudo muda, tudo se transforma e o Nordeste é ao mesmo tempo fonte de vanguardas e tradições. Como aliás São Paulo, Minas Gerais, Rio, os Gaúchos e por aí vamos.    

O que o preconceito contra nordestino quer dizer? Então vocês votam juntos? Têm noção de região? Com esta unidade são capazes de eleger presidentes e marcar a política nacional? Isso não pode. Apenas a São Paulo isso é devido. Somos o centro do universo e tudo mais gira em volta de nós.

Mas o nordeste está fazendo esta revolução em que o centro não é mais o velho oligarca paulista. E isso aconteceu pelo crescimento da vida urbana, pela migração populacional que aprendeu. Pela maior facilidade de se deslocar conhecimento de um ponto para outro. Olhem para a tabela abaixo e sintam que o Nordeste tem um peso transcendental na eleição de Dilma Roussef. Tem um peso pela unidade de seu voto, mas isso anularia São Paulo e não seria suficiente para que ela vencesse.

A questão é que Dilma não perdeu de muito, à exceção de São Paulo (assim mesmo conseguiu quase 36%), em alguns grandes colégios como o Paraná e o Rio Grande do Sul. E levou mais de um milhão de vantagem no segundo e terceiro colégio eleitoral (Minas e Rio). A união nordestina foi central para a vitória da candidata mas isso não seria suficiente se não fosse uma substancial votação da candidata mesmo nos estados em que perdeu as eleições.

Portanto o preconceito chega às raias do nonsense quando pronuncia inverdades com elementos de alguma crítica do passado. E por falar em eleições olhem para segunda tabela e compreendam algumas coisas.

Fica claro que o público se relaciona muito bem com a urna eletrônica e que a quantidade de votos nulos e brancos não foge às margens bem pequenas. Também fica claro que de modo geral o voto de protesto não aconteceu com muita frequência, a não ser claramente no Rio de Janeiro quando quase um milhão de pessoas anulou o voto. Vimos o fato igualmente no Rio Grande do Norte, no Distrito Federal e no Amazonas.

No Rio Grande do Norte isso tem coerência com os votos nulos para governador que praticamente duplicam em relação ao de Presidente. Portanto se houve protesto ali foi muito mais para governador. No Rio de Janeiro igualmente aconteceu com os votos de governador (13,9% de votos nulos) e no Distrito Federal aconteceu a mesma coisa. Em outras palavras os votos nulos foram aumentados nestes estados igualmente a governador e presidente, portanto, não se refere apenas à presidência. 
  
Por último uma palavra sobre as abstenções. Elas não ultrapassam a um quatro dos eleitores habilitados e tendem a crescer naqueles estados onde não houve segundo turno para governador. Mas devem existir várias causas, inclusive de registro eleitoral, para explicar o tamanho da abstenção. E leve em consideração que não comparamos com as abstenções do primeiro turno, quando as candidaturas a deputado infiltram-se mais junto aos eleitores mobilizando-os.  

Sim quase que me esquecia. Crato votou maciçamente em Dilma: 83,55%. Juazeiro também: 80%. As abstenções foram relativamente pequenas, assim como os votos brancos e nulos.

Estado
Dilma Número
Dilma %
Aécio Número
Aécio Percentual
Diferença
TOTAL
Total
54.501.118
51,64%
51.041.155
48,36%
3.459.963
105.542.273
Acre
138.922
36,32%
243.530
63,68%
104.608
382.452
Rondônia
364.055
45,15%
442.349
54,85%
78.294
806.404
Amazonas
1.033.090
65,02%
555.810
34,98%
477.280
1.588.900
Roraima
97.329
41,10%
139.477
58,90
42.148
236.806
Amapá
227.414
61,45%
142.664
38,55%
84.750
370.078
Pará
2.103.829
57,41%
1.560.470
42,59%
543.359
3.664.299
Tocantins
428.662
59,49%
291.848
40,51
136.814
720.510
Região Norte
4.393.301
56,54%
3.376.148
43,46%
1.017.153
(13,09%)
7.769.449
Maranhão
2.475.762
78,76%
667.517
21,24%
1.808.245
3.143.279
Piauí
1.385.096
78,30%
383.884
21,70%
1.001.212
1.768.980
Ceará
3.522.225
76,75%
1.067.096
23,25%
2.455.129
4.589.321
R. G Norte
1.201.576
69,96%
516.011
30,04%
685.565
1.717.587
Paraíba
1.380.988
64,26%
767.916
35,74%
613.072
2.148.904
Pernambuco
3.438.165
70,20%
1.459.266
29,80%
1.978.899
4.897.431
Alagoas
941.286
62,12%
574.012
37,88%
367.274
1.515.298
Sergipe
772.253
67,01%
380.222
32,99%
392.031
1.152.475
Bahia
5.059.228
70,16%
2.151.922
29,84%
2.907.306
7.211.150
Região Nordeste
20.176.579
71,70
7.967.846
28,30%
12.208.733
(43,37%)
28.144.425
E. Santo
911.906
46,15%
1.064.067
53,85%
152.161
1.975.973
R. Janeiro
4.488.183
54,94%
3.681.088
45,06%
807.095
8.169.271
M. Gerais
5.979.422
52,41%
5.428.821
47,59%
550.601
11.408.243
S. Paulo
8.488.383
35,69%
15.296.289
64,31%
6.807.906
23.784.672
Região Sudeste
19.867.894
43,82%
25.470.265
56,17%
5.602.371
(12,35%)
45.338.159
Paraná
2.408.740
39,02%
3.765.025
60,98%
1.356.285
6.173.765
S. Catarina
1.353.808
35,41%
2.469.079
64,59%
1.115.271
3.822.887
R.G.Sul
2.997.360
45,47%
3.452.455
53,53%
455.095
6.449.815
Região
Sul
6.759.908
41.10%
9.686.559
58,90%
2.956.651
(17,97%)
16.446.467
M. Grosso
717.230
45,33%
864.999
54,67%
147.769
1.582.229
M.G Sul
590.835
43,67%
762.233
56,33%
171.398
1.353.068
Goiás
1.365.658
42,89%
1818087
57,11%
452.429
3.183.745
D. Federal
580.581
38,10%
943.275
61,90%
362.694
1.523.856
Região Centro Oeste
3.254.304
42.57%
4.388.594
57,43%
1.134.290
(14,85%)
7.642.898




Estado
Abstenções
Nulos
Brancos
Total
Brasil
21,10%
4,63%
1,71%
27,44%
Acre
22,18%
2,09%
0,88%
25,15%
Rondônia
24,35%
4,20%
1,17%
30,26%
Amazonas
22,62%
6,17%
1,58%
30,37%
Roraima
16,43%
4,46%
0,91%
21,8%
Amapá
14,56%
4.07%
0,82
19,45%
Pará
25,22%
4,41%
1,10%
30,73
Tocantins
24,73%
3,08%
0,91
28,72%
Maranhão
27,37%
2,68%
1,06%
31,11%
Piauí
21,25%
3,32%
0,86%
24,57%
Ceará
21,75%
5,03%
1,41%
28,19%
R.G.Norte
17,66%
8,53%
1,82%
28,01%
Paraíba
18,00%
5,68%
1,88%
25,56%
Pernambuco
17,77%
4,23%
1,95%
15,49%
Alagoas
19,63%
3,95%
1,50%
25,08%
Sergipe
15,91%
4,16%
1,56%
21,63%
Bahia
24,18%
4,30%
1,43%
29,91%
E. Santo
21,72%
3,09%
1,75%
26,56%
M. Gerais
21,17%
3,56%
1,47%
26,20%
R. Janeiro
22,36%
10,51%
2,78%
35,65%
S. Paulo
20,51%
4,47%
1,97%
26,95%
Paraná
18,43%
2,46%
1,27%
22,16%
S. Catarina
17,86%
2,88%
1,28%
22,02%
R. G. Sul
18,19%
3,85%
2,14%
24,87%
M. Grosso
25,43%
2,14%
0,90%
28,47%
M. G. Sul
23,13%
2,04%
1,12%
26,29%
Goiás
21,53%
4,64%
1,65%
27,82%
D. Federal
12,64%
6,24%
1,76%
20,64%

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