Aqui no Rio e no eixo com São Paulo, noves fora o resto do
país, existe um tipo de gente, alpinista social, de classe média que come
salgadinho em festa de milionário. Este pessoal tem como padrão sair naquelas
revistas de consultório, escritório e cabeleireiro, cheia de fotos dos tais
viajando, sempre em lugares chiques mostrando uma vida rica e prazerosa. A
maior parte das vezes em locações fora do país. Se for nos “states”, é a
glória.
O padrão típico desse pessoal é ser global. Trabalhar na REDE
GLOBO DE TELEVISÃO. Ditam moda. Arrasam o quarteirão. Mostram indignação
seletiva e gostam de “barraco” quando nos eflúvios de emanações nascidas do pó,
da fumaça ou de água que passarinho não bebe.
Um destes garotos, nascidos entre os bem vindos da zona sul
do Rio, teve a ousadia de declarar o voto em Dilma Roussef. É o Gregorio
Duvivier (de filho da cantora Olivia Byington e do músico Edgar Duvivier). Humorista,
com um texto divertidíssimo.
Bom aí o garoto foi jantar na noite carioca, quando um
brutamonte, babando ódio espinafrou o garoto pela ousadia de ser liberto para
votar em quem achar melhor.
Aí outra figura carimbada da “barracolândia”, envolvido em sopapos
às companheiras, chamado Dado Dolabela, com sua sutileza de um brucutu na rede
social partiu para cima do Gregorio Duvivier. E foi aí que o Gregorio fez este
texto gozadíssimo e publicou na Folha de São Paulo.
Chupa, dado.
Democracia não é – ou não deveria ser – esse exercício do
voto narcísico; ninguém está pensando no outro.
Fui uma criança tucana. Colava adesivo do Fernando Henrique
na janela do meu quarto e na traseira do Chevette – era tucano “before it was
cool”.
Imaginem minha euforia quando soube que o FHC, o próprio,
viria lá em casa, numa festa cheia de bolinhas de queijo. Sim, o jantar de
adesão da classe artística ao FHC foi lá em casa (chupa, Dado Dolabela!).
Adentrei a sala vestindo um terno de veludo cotelê e uma
gravata borboleta, em pleno outono carioca – que não difere em nada do verão
cariosa, que não difere em nada do verão do Zâmbia. Minha mãe me pediu para
trocar de roupa: “As pessoas vão pensar que foi a gente que te vestiu assim. Tira
esse terno?” Negociei, engolindo o choro: “Posso ficar com a gravata?” “Preferia
que não”, respondeu minha mãe.
Descambei para o comunismo – ou o que eu pensava que fosse o
comunismo.
Virei representante de sala. Graças a alianças espúrias, me
elegi representante geral, algo como um presidente da Câmara (na minha cabeça).
Minha primeira proposta foi a liberação gradativa para o recreio. Primeiro
liberariam o quarto anda, dez segundos depois o terceiro andar, e assim por
diante, para que todos chegassem ao térreo no mesmo exato segundo e tivessem as
mesmas chances de ser o primeiro na fila da cantina – os rissoles,
disputadíssimos, acabavam num piscar de olhos.
Fracassei retumbantemente. Os glutões do primeiro andar não
queriam perder os privilégios, os CDFs do quarto andar diziam que liberação
antecipada não era prêmio mas castigo, porque perderiam segundos preciosos de
aula.
Sem base, sem alianças, sem aprovação popular, pichei o
martelo e foice na parede da escola. Até hoje nunca tinha confessado. Fui eu,
pessoal.
Na prática, o PT só piorou minha vida burguesa: o aumento do
IOF para compras no exterior e a maldita tomada de três pinos me dão saudades
enorme dos anos 90. Aécio seria um candidato infinitamente melhor para mim,
homem-branco-heterossexual-que-viaja-para-fora-do-Brasil-uma-vez-por-ano-e-faz-a-festa-na-H-&-M.
Mas democracia não é – ou não deveria ser – isso que virou, esse exercício do
voto narcísico, em que pastor vota em pastor, policial vota em policial e
carioca vota em bandido.
Talvez por isso a democracia representativa seja um
desastre. Ninguém deveria representar os outros, porque ninguém está, de fato,
pensando nos outros.
Confesso, que no meu tempo de representante, tanto à direita
quanto à esquerda, só pensava no rissole.
GREGÓRIO DUVIVIER
Para contexto familiar abaixo uma belíssima canção na voz de Olívia Byington - Lady Jane - com letra do poeta Geraldinho Carneiro e Nando Carneiro. Fez sucesso aí pelo final dos anos 70 e início dos 80.
Nenhum comentário:
Postar um comentário