segunda-feira, 20 de outubro de 2014

Aqui no Rio e no eixo com São Paulo, noves fora o resto do país, existe um tipo de gente, alpinista social, de classe média que come salgadinho em festa de milionário. Este pessoal tem como padrão sair naquelas revistas de consultório, escritório e cabeleireiro, cheia de fotos dos tais viajando, sempre em lugares chiques mostrando uma vida rica e prazerosa. A maior parte das vezes em locações fora do país. Se for nos “states”, é a glória.

O padrão típico desse pessoal é ser global. Trabalhar na REDE GLOBO DE TELEVISÃO. Ditam moda. Arrasam o quarteirão. Mostram indignação seletiva e gostam de “barraco” quando nos eflúvios de emanações nascidas do pó, da fumaça ou de água que passarinho não bebe.  

Um destes garotos, nascidos entre os bem vindos da zona sul do Rio, teve a ousadia de declarar o voto em Dilma Roussef. É o Gregorio Duvivier (de filho da cantora Olivia Byington e do músico Edgar Duvivier). Humorista, com um texto divertidíssimo.

Bom aí o garoto foi jantar na noite carioca, quando um brutamonte, babando ódio espinafrou o garoto pela ousadia de ser liberto para votar em quem achar melhor.

Aí outra figura carimbada da “barracolândia”, envolvido em sopapos às companheiras, chamado Dado Dolabela, com sua sutileza de um brucutu na rede social partiu para cima do Gregorio Duvivier. E foi aí que o Gregorio fez este texto gozadíssimo e publicou na Folha de São Paulo.

Chupa, dado.

Democracia não é – ou não deveria ser – esse exercício do voto narcísico; ninguém está pensando no outro.

Fui uma criança tucana. Colava adesivo do Fernando Henrique na janela do meu quarto e na traseira do Chevette – era tucano “before it was cool”.

Imaginem minha euforia quando soube que o FHC, o próprio, viria lá em casa, numa festa cheia de bolinhas de queijo. Sim, o jantar de adesão da classe artística ao FHC foi lá em casa (chupa, Dado Dolabela!).

Adentrei a sala vestindo um terno de veludo cotelê e uma gravata borboleta, em pleno outono carioca – que não difere em nada do verão cariosa, que não difere em nada do verão do Zâmbia. Minha mãe me pediu para trocar de roupa: “As pessoas vão pensar que foi a gente que te vestiu assim. Tira esse terno?” Negociei, engolindo o choro: “Posso ficar com a gravata?” “Preferia que não”, respondeu minha mãe.

Descambei para o comunismo – ou o que eu pensava que fosse o comunismo.

Virei representante de sala. Graças a alianças espúrias, me elegi representante geral, algo como um presidente da Câmara (na minha cabeça). Minha primeira proposta foi a liberação gradativa para o recreio. Primeiro liberariam o quarto anda, dez segundos depois o terceiro andar, e assim por diante, para que todos chegassem ao térreo no mesmo exato segundo e tivessem as mesmas chances de ser o primeiro na fila da cantina – os rissoles, disputadíssimos, acabavam num piscar de olhos.

Fracassei retumbantemente. Os glutões do primeiro andar não queriam perder os privilégios, os CDFs do quarto andar diziam que liberação antecipada não era prêmio mas castigo, porque perderiam segundos preciosos de aula.

Sem base, sem alianças, sem aprovação popular, pichei o martelo e foice na parede da escola. Até hoje nunca tinha confessado. Fui eu, pessoal.

Na prática, o PT só piorou minha vida burguesa: o aumento do IOF para compras no exterior e a maldita tomada de três pinos me dão saudades enorme dos anos 90. Aécio seria um candidato infinitamente melhor para mim, homem-branco-heterossexual-que-viaja-para-fora-do-Brasil-uma-vez-por-ano-e-faz-a-festa-na-H-&-M. Mas democracia não é – ou não deveria ser – isso que virou, esse exercício do voto narcísico, em que pastor vota em pastor, policial vota em policial e carioca vota em bandido.

Talvez por isso a democracia representativa seja um desastre. Ninguém deveria representar os outros, porque ninguém está, de fato, pensando nos outros.

Confesso, que no meu tempo de representante, tanto à direita quanto à esquerda, só pensava no rissole.  

GREGÓRIO DUVIVIER   

Para contexto familiar abaixo uma belíssima canção na voz de Olívia Byington - Lady Jane - com letra do poeta Geraldinho Carneiro e Nando Carneiro. Fez sucesso aí pelo final dos anos 70 e início dos 80.


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