“Os problemas continuam os mesmos: incerteza, privações e não saber o
que o futuro pode trazer.” Dr. Nader Alemi, médico psiquiatra afegão.
Durante a reunião do G20 na Austrália aconteceu uma série de
reuniões paralelas para apontar questões para a humanidade. Afinal o G20 é um
grupo de nações procurando ajustar as questões globais. Entre os debates
paralelos um foi sobre saúde e ali se destacou a questão: os distúrbios mentais
eram grave problema de saúde pública, que a Organização Mundial da Saúde não
valorizava e apontava a enorme deficiência de profissionais habilitados numa
realidade em que tais distúrbios tendiam a crescer.
Frases do tipo mal do século mostram a perplexidade e, por
isso, não explicam bem as questões. E temos um conjunto de “novidades” que faz
do momento uma “instabilidade” permanente no desenvolvimento humano em termos
culturais, econômicos e sociais.
O primeiro deles é urbanização praticamente universal em
toda a humanidade. As comunidades estão desaparecendo, a família de parentela é
substituída pela família nuclear, esta mesma numa fragilidade permanente e
tendendo a se tornar a solidão (individualização). A língua e as tradições
estão constantemente esbarradas por elementos contaminantes.
A vida laboral é ultra explorada, instável, fragmentada,
alienada, tediosa, frágil como a teia da qual é parte sem entender nem a tessitura
ou a malha inteira. Para suportar o estado permanente de fragilidade é induzido
ao aporte químico permanente (tabaco, café, cocaína, álcool etc.) para se
manter em estado eufórico, atento e vigilante porque a qualquer momento um
fragmento da realidade irá soltar-se e destruir a história que tenta construir.
A privação de todos os meios de suporte à vida atinge
milhões de pessoal e elas são vistas como estorvos ao processo em curso.
Examinem conscientemente a questão da Doença Provocada pelo Vírus Ebola, a
destruir a vida dos africanos, enquanto a fina flor da ciência permanece a
serviço do capital que não se interessa por esta gente. Os organismos
multilaterais nem arranham a casca ideológica desta realidade.
Um estado deste é arrasador da confiança no outro. Não se
pode confiar num semelhante com a vestimenta de um predador. Ao mesmo tempo que
expõe todos os povos aos nichos no meio da floresta, uma brigada tribal emerge
na clareira para decepar todas as vontades, toda a escrita que aponte horizonte
e luzes. A clareira é o campo apropriado para estreitar a realidade a uma
brecha pela qual nunca se enxerga a diversidade desta realidade.
De autor e sujeito da história, tornou-se objeto do consumo,
capital humano, técnico de algum parafuso da engrenagem, expectador do teatro
que deveria ser ator, peça descartável do tempo em curso. A angústia
antecipatória da próxima decepção, da expulsão do jogo, de permanecer na
reserva, mas fora do campo. Ser apenas uma unidade na massa que espera uma
oportunidade nunca vinda.
O Dr. Nader Alemi durante os anos em que os Talibãs
governaram o Afeganistão, atendeu milhares destes combatentes. E todos sofriam
distúrbios mentais graves em decorrência das incertezas de suas vidas. Não
tinham controle do que estava acontecendo com suas vidas. Na linha de frente
por tantos anos, numa vigília de vida e morte, vendo gente explodir, parte
permanente da violência.
Agora as grandes nações do ocidente estão em crise econômica
e social. A juventude absolutamente sem horizonte, uma incerteza contínua de
cada medida do tempo. As tensões violentas estão crescendo. Só no Brasil num
ano foram assassinadas mais de 50 mil pessoas, a maioria jovens e negros. E não
somos um caso isolado. Somos a regra do modelo de civilização que vivemos.
Por isso a frase do Dr. Alemi continua sendo verdade no
Afeganistão, mesmo depois dos talibãs. A guerra não é a exceção, ela é a
constituição do modo capitalista de reprodução na história em todo o mundo.
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