Gente meritocrata é assim. Até os jundiás do rio Batateira sabem.
Preconceito e indigestão conceitual é comum diante da erudição a que certas
pessoas se obrigam conhecer em cursos de graduação e pós, mesmo que no exterior.
É que o conhecimento acadêmico é uma farsa se não considera a realidade que
envolve as pessoas.
E essa farsa é o conteúdo principal da meritocracia. É que,
nem mesmo os concursos seletivos, conseguem extrair o proveito prático da
exposição aos livros, seminários, provas e testes. Não mesmo. É que as provas
não questionam o sujeito frente aos outros e como o conhecimento o liberta de
si mesmo ao invés de aprofundar ainda mais erros inatos de sua formação social,
ética, moral e política.
E numa sociedade restritiva, onde um grupo temeroso e
apegado aos próprios méritos olha para a imensa população excluída com aversão
e medo, nem o pós-doutorado resolve questões éticas e nem mesmo vícios
científicos e filosóficos graves. Sobre este último aspecto temos exaustão
deste tipo escrevendo na grande mídia: Olavo de Carvalho, Condé, Villa e por aí
vai. Grande paredão de estupidez e arrogância que reflui a ciência aos estágios
da idade média.
Mas políticas públicas inclusivas, que abrem portas antes
fechadas, que iluminam cantos antes escuros, que levantam tapetes e revela aqui
que acontecia por baixo dos panos sempre expõe certa virulência residual. O
maior exemplo disso é o das corporações médicas ao enfrentar a questão do
programa de governo Mais Médico. É o mesmo de setores da universidade ao
avaliar a entrada de cotistas sociais e raciais.
Até que o processo seja absorvido eles sabotam, exacerbam a ignorância
humanitária (humanita traduz-se por conhecimento),
expõem todo o anacronismo das posições sociais dos seus pais e avós e, pior de
tudo, dizem tantas barbaridades que negam todo o ritual universitário que
deveria existir em seus pilares: ensino, pesquisa e extensão. Olhem o exemplo abaixo dito pelo professor
Manoel Luiz Malagutti, de Santa Catarina, professor de economia da Ufes, com
doutorado na França. Ele assim se expressou numa discussão sobre cotas nas
universidades:
“(...) eu coloquei que
se eu tivesse que escolher entre dois médicos, um branco e um negro, com o
mesmo currículo, eu escolheria o branco. Por que eu escolheria o branco? Os
negros, em média, vêm de sociedades, de comunidades menos privilegiadas, para a
gente não usar um termo mais forte, e nesse sentido eles não têm uma
socialização primária na família que os tornem receptivos aos trâmites da
universidade, à forma de atuação da universidade, aos objetivos da
universidade. Eles têm muito mais dificuldades de acompanhar determinadas
exposições. Eu não acho que é uma visão preconceituosa, acho que é bastante
realista.”
Como o professor já tem mais de dez anos de ensino, tem
doutorado feito em outra língua, estamos falando de alguém que evidentemente já
pode ter uma boa capacidade crítica de sua própria experiência. E a conclusão
que se chega diante de sua fala é que ele estava falando diante de um espelho.
Criticava à própria imagem.
A tendência é que se prefiram conselhos sobre economia de um
outro professor que não ele.
Nenhum comentário:
Postar um comentário