Ontem saiu o relatório final da Comissão da Verdade sobre
torturas, mortes e desaparecimentos de cidadãos e cidadãs brasileiros sofrendo
por ordem e ação do Regime de Exceção que derrubou o governo constitucional de
João Goulart. Antes de mais nada este relatório não fala para os algozes e
vítimas do período, fala para cada um no tempo de hoje. No tempo de hoje e
nossas perspectivas de vida em sociedade.
Com a ressalva que na missão dessa Comissão esteve o período
até 1950, mas é importante que se tenha como referência o Primeiro de Abril de
1964 quando de modo sistemático as Forças Armadas, financiadas por empresas e
mobilizadas por lideranças civis começaram a mudar a ordem constitucional
vigente e atacar os adversários do dia anterior.
Quando, de modo disfarçado, por vezes nem tanto, alguns
começam a lembrar a suposta disrupção do Governo Goulart, a marcha
revolucionária de natureza cubana, entre outros argumentos, estamos diante da
justificação da ditadura. Esta é que é a verdade histórica. Justifica-se hoje,
como ontem, apoiavam mortes, torturas e desaparecimento.
Além do mais é importante que se tenha em mente que as “ordens”,
os “atos institucionais” e as “ações” da ditadura durante 21 anos não foram
pontos pacíficos. Sempre houve divergência dentro e fora das Forças Armadas,
dos empresários e das lideranças civis. Especialmente aquelas que efetivação
praticaram a disrupção franca do processo democrático em curso.
Castelo Branco foi eleito pelo Congresso vigente e só o foi
pela força do PSD e esta força significava Juscelino Kubistchek. A eleição
indireta, pelo Congresso Nacional, aconteceu em 11 de Abril sob “égide” do Ato
Institucional nº 1 lançado pela Junta Militar (Marechal Costa e Silva, tenente-brigadeiro
Francis de Assis Correia e Melo, Almirante Augusto Hamann Rademaker). Em junho Juscelino estava cassado.
Jânio Quadros foi cassado, Ademar de Barros em junho de 1966
e Lacerda em 31 de dezembro de 1968. Bom nesta altura já estavam cassadas todas
as grandes lideranças políticas que deram motivação ao golpe. Como é lógico
todos os adversários já o tinham sido perseguidos e presos desde o primeiro
momento da disrupção. Somente figuras importantes, mas secundárias em termos de
liderança nacional ficaram para sustentarem o longo manto cerimonial da ditadura
em curso (Pedro Aleixo, Milton Campos, Magalhães Pinto, etc.).
Ao mesmo tempo surgiram “lideranças” para em sua “juventude”
com o quadro desimpedido fazer suas “carreiras” sob as asas da “ordem” tipo José
Sarney, Antonio Carlos Magalhães, Hugo Napoleão, Marcos Maciel e assim seguiu a
lista. A presença a americana para armar e disparar o golpe é inegável, a nação
foi amiga e companheira, mandou exércitos para a República de São Domingos e
fez o papel do anticomunismo inerente por toda guerra fria. Eis o quadro.
Agora a verdade. O poder mesquinho dos desafetos, a
arrogância humana sem normas sociais, o poder da corporação, a ganância de
capitalistas e donos da terra, puseram uma máquina de torturar, matar e
desaparecer em curso. Esta máquina tomou as suas próprias decisões e fez o
papel sujo nos porões, mentindo para a sociedade e se escondendo numa trama
abjeta.
Agora a verdade. Quando a política é a eliminação do
contraditório a única linguagem possível é o curso virulento de ódios, temores
e maldades que são inerentes ao processo. Mesmo que alguns agentes sejam
dotados de uma psicopatia, o método e o curso da ação é que é causa. Portanto
segue toda a cadeia de origem e o comando, desde o Presidente, passando por
Ministros e chefes militares e líderes civis.
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