sábado, 20 de dezembro de 2014

OS BOAS VIDAS! - José do Vale Pinheiro Feitosa

Diárias caríssimas. Os hotéis de Armação dos Búzios, postos nas encostas da chamada Orla Bardot (em homenagem à atriz francesa Brigitte Bardot que ficou alguns dias no que, então, era uma vila de pescadores). O sol lentamente de pondo, a aberta enseada cujo lado oposto será visto como um rosário de luzes no incrível crescimento de Barra do São João e Rio das Ostras.

Na piscina do hotel um grupo de hóspedes conversa alto como sói acontece nas intoxicações alcoólicas e diante da relevância dos assuntos que ali tratam. Um apanhado básico: um senhor empregado de uma grande empresa que faz negócios com petróleo, um sujeito perto dos quarenta anos médio empresário, sua mulher, uma amiga e um médico residente e sua garota, também, médica.
O único carioca era o empresário, os demais eram de Juiz de Fora, no estado de Minas Gerais. O senhor tinha uma fala contínua, um tanto monótona e tecia considerações técnicas sobre os negócios de suas empresas, lucros e perdas. O empresário, era o mais exaltado, falava alto, partilhando suas opiniões com que estivesse no deck da piscina.

A síntese de opiniões e sentenças daquela gente. O Brasil está falido, tudo é corrupção, os planos de saúde estão falidos, a medicina pública não existe, a economia está falida, ninguém investe no país. Como tinha um doutor na roda, fazia residência (e já podia pagar um hotel daquele) o assunto eram os médicos cubanos. Medicina básica era uma porcaria. Só existe a especialidade.

Os cubanos porque não foram cuidar do vírus ebola? (igual a esta gente que fica de Petralha em Petralha usando nomes de fantasia, que não sabe ler e nem se informa, pois Cuba foi quem mais enviou médicos para combater o Ebola). E que o governo brasileiro enviava para Cuba todo mês dez mil reais por cada médico, que assim eram mercenários e as sobras deste dinheiro servia para financiar as eleições de Fidel e Dilma no Brasil (o restabelecimento de relações regulares entre Cuba e os EUA vai deixar muita gente sem discurso).

E tinha pérolas da deformação de caráter e qualificação profissional. O principal recurso médico é a relação humana. Humana no seu amplo sentido socioeconômico, cultural, psicológico e individual e isso se aprende, como é óbvio, pela relação direta. Pois o Doutor criticava um programa federal que oferece pontos na classificação das residências médicas, públicas, para os médicos que vão prestar serviço na atenção básica dos serviços públicos.

O governo bem podia, como muitos países fazem, obrigar os doutores que se educam com o dinheiro do povo a ir aprender a não explorá-los num estágio obrigatório de dois anos. Não o fez: é optativo, tem um bônus que é melhorar sua classificação nas provas de acesso à residência, além de ganharem mais de sete mil reais por mês. O doutor na piscina em Búzios, se achando no meio da conversa de ricos, quer sua residência em cirurgia e que ganhe muito dinheiro para voltar à piscina de Búzios e outras fantasias no exterior.

Chamava a atenção o tom alto das mulheres, fazendo capela para o canto dos machos. Riam das piadas infames. Enquanto o empregado do bar fazia uma batida de frutas e álcool atrás a outra, os conceitos vomitavam as belas encostas de Búzios.

A fina flor da cultura “petralha” (tucanalha isso depende do lado, não é o conteúdo é no método que reside o problema) de internet marcou o seu desfile naquela piscina. O empresário declarou-se um eleitor orgulhoso de Jair Bolsonaro (que não precisa de apresentação para quem é de fora do Rio e que foi o deputado federal mais votado este ano). E, aos risos das mulheres, o homem abriu o verbo contra a deputada Maria do Rosário que foi agredida pelo Jair.

Aliás quem viu o vídeo da origem do embrulho pode interpretar o que aconteceu. Jair dava entrevista a favor da redução da maioridade penal. Maria do Rosário também e abriu um debate com Jair. Que sem que e nem para que pediu que ela contratasse um menor estuprador que fora preso em São Paulo para levar a filha na escola. Uma argumentação pessoal e desnecessária a este tipo de debate.

A questão é que Jair Bolsonaro retornou ao assunto recentemente, em pleno plenário e ele repete esta prática agressiva com outros deputados. Esta é a explicação por trás da notícia. Mas o que o empresário disse: que absurdo! Vocês viram o nome dela: Maria do Rosário. É nome de coitada. É gentinha. Rosário! E toda a plateia caiu na risada.

O mais impressionante: este mesmo dito cujo ainda acusou os “petralhas” de serem responsáveis pela divisão de classe no Brasil. E não vou nem contar, para não esticar, imaginem o que disseram sobre os vagabundos do Bolsa Família, chegando a dizer que tinha gente ganhando dois mil reais por mês para não fazer nada.


Assim, como seus companheiros ali, onde uma caipirinha custa mais de um terço da verdadeira bolsa família per capita.

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