domingo, 1 de fevereiro de 2015

BECO DAS GARRAFAS - José do Vale Pinheiro Feitosa

E por falar em cultura. Não esqueço minhas origens, mas nelas se fixam a grande música do Rio de Janeiro. Mais especificamente da cidade do Rio de Janeiro. Entre as quais, não a única, mais pelo tema da postagem, se encontra a Bossa Nova.

Há mais de quarenta anos de Rio de Janeiro, vivendo na Zona Sul, e ainda não tinha ido até o Beco das Garrafas, até mesmo por curiosidade. Quando aqui cheguei a Bossa já não atraia tanta gente aos seus locais de expressão. O Beco ainda existia, mas já não fazia público. O espetáculo estava em outros locais.

O Beco das Garrafas, para acrescentar alguma informação, é um espaço entre prédios na Rua Duvivier em Copacabana. De um lado fica um grande edifício e do outro havia algo em torno de quatro bares que se transformaram em boates. Para completar: na região dos postos 1 e 2 era um perímetro pleno de boates, night club, restaurantes e inferninhos.

O pessoal ficava nos bares até tarde. Tocando e cantando e falando alto. O pessoal dos prédios, querendo dormir, jogava garrafas em protesto. Daí veio o nome do beco. Ali onde as garrafas se estilhaçavam, outras garrafas foram sopradas sobre a forma de pistas e palco. O palco da Bossa Nova.
Todos os grandes nomes passaram naquelas boates. Todas bem pequenas. Era o espaço exíguo e contíguo da música e dos músicos, dos músicos e dos ouvintes. Na verdade em menos de 100 metros de rua, existiam três casas noturnas: Little Club, Bacará e Bottles.

No Littles Club, Dolores Duran estreou e ali se tornou um grande e curto sucesso. Nas boates do Beco, Miele e Ronaldo Bôscoli produziram pequenos shows que os projetaram nacionalmente. Além de Dolores Duran, passaram pelas boates do Beco das Garrafas a Elis Regina, Nara Leão, Sylvinha Telles, Claudette Soares, Jorge Ben, Marisa Gata Mansa, Doris Monteiro, Wilson Simonal, Alaíde Costa, Pery Ribeiro, Leny Andrade, Sérgio Mendes, Baden Powell, Airto Moreira, Johnny Alf, Hélcio Milito, Chico Batera, Wilson das Neves, Durval Ferreira, Dom Um Romão, Paulo Moura, Trio Bossa Três composto por Luiz Carlos Vinhas, Edson Machado e Tião Neto.

Agora, retornando ao presente. Há uma semana, domingo que passou, 25 de janeiro de 2015, atiramos no escuro e acertamos no alvo. Isso pelo impulso guardado que precisava se realizar. A filha de Durval Ferreira, nascida, criada e com talento musical viveu e vive no centro dos músicos cariocas do estilo instrumental, bossa nova, samba canção e da geração MPB.

Juntou-se a outros e reabriram o Bottles Bar e mais a Bacará. E todos os dias da semana, sem folga, tem algo acontecendo no palco das duas pequenas boates. Tem de tudo, de chorinho ao instrumental brasileiro de linhagem jazzística. À Bossa Nova, ao clássico da MPB, samba e por aí vai. Mas tudo é Brasil. Pode ter influência, mas é Brasil.

E por que acertamos no Alvo? Era noite comemorativa da Bossa Nova.  A Amanda Braga (filha do Durval Ferreira) e a Bottles, atraiu uma grei de músicos mais jovens e da melhor estirpe. E junto a eles quatro clássicos: Leny Andrade, João Donato, o Billynho (filho do Billy Blanco) e o Márcio Lott.

O resto fica para amanhã. Tem algumas fotos. Imagens em movimento de qualidade amadora. E mais narrativa da noite.

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