domingo, 17 de maio de 2015

UM DESERTO A SER DECIFRADO - José do Vale Pinheiro Feitosa

E foi por carregar uma criança de colo que caminharam longe pelo deserto. Montados num jumento iam porque o assassinato dos diferentes era a regra do governante.

Balançando no andar do muar, seguia aquele que explicitou que todos somos iguais. Ao invés de uma coisa ou animal de trabalho, somos humanos, pertencemos à mesma família, derivada de igual natalidade.

E aquele que seguia no deserto árido sabia que esta terra estava lá como potência de fertilidade. Sabia que gosmas que se amoldam aos contornos sólidos, lhes daria o beijo da traição.

Mas a questão não se encontra na gosma, nem nas rochas onde se ergue a avareza que tudo deseja apenas para si. A questão se encontra na humanidade traduzida em pessoas humanas que brilham num determinado natal com todo o deserto à frente, pronto para se revelar um potencial fértil.

Mas há que somos iguais e tantos se corrompem na ilusão da superioridade onde tudo que imaginam é um mérito a explorar os outros em diferenças. Há aqueles que decoram sua história com frases da mensagem e sob essa decoração luminosa, tentam ludibriar os demais com merecimentos que dividem, discriminam.

Dois mil anos após, o deserto continua lá pronto para ser entendido. Os chacais ainda o ronda em busca de corpos vivos. Os traficantes do trabalho, em orações de maldita fé, continuam fazendo escravos. Os execráveis continuam com suas vestes ornamentais a pregar anátemas aos demais, condenando-os só para arrancar-lhes o alimento que faz humanos às suas vítimas.

O deserto é para ser atravessado, pois é nele que o relevado se encontra. Ali onde os pilares das instituições nunca se ergueram, onde as bibliotecas da avidez medieval e burguesa nunca foram impressas.

No deserto viverá suando junto ao suor dos demais. Sombras para conservar os escusos que operam a ilusão do progresso não há. Assim como não há a divisão da terra, os livros da mais avalia que acumula, os bytes que fogem com a riqueza coletiva para entocá-las nas ruínas do livre mercado.

O deserto, dois mil anos após, diz tudo ao contrário destes alicerces eclesiais sobre os quais se ergue a acumulação que desfaz a pessoa humana.


A pessoa humana, nós que somos iguais em natalidade.

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