terça-feira, 16 de junho de 2015

É A NATUREZA ESTÚPIDO! - José do Vale Pinheiro Feitosa

“Riqueza são aquelas coisas materiais produzidas pelo trabalho humano que satisfazem desejos humanos e podem ter valor de troca”. -  John Atcheson, citando Adam Smith que disse: “Riqueza é material, não podemos considera-la uma habilidade física ou mental humana. Ela é produzida pelo trabalho. A terra tem todas as características, só que não é produzida pelo trabalho. O dinheiro não é riqueza, mas um meio de troca. A riqueza, no entanto, deve ter valor de troca”.


Frase de Delfim Netto no período mais negro da Ditadura Militar, logo após o AI 5, quando ele disse: “é preciso fazer o bolo crescer para depois dividi-lo” se coloca na mais pura falácia do capitalismo segundo a análise de dois séculos feita por Thomas Pikkety. Na verdade, a esperança distributiva do capitalismo industrial avançado, nunca se concretizou e a ideia não é original de Delfim Netto. Dizia isso Simon Smith Kuznets, russo radicado nos EUA que desenvolveu uma curva que relacionava crescimento do produto à desigualdade de renda.

Pikkety destrói a falácia ideológica predominante na guerra fria de que o capitalismo estaria sujeito a um determinante econômico onde o desenvolvimento das suas forças produtivas levaria automaticamente à distribuição de renda. O seu trabalho demonstra que não há uma lei econômica inexorável que conduza à distribuição de renda. E nem à concentração.

O seu trabalho, no entanto, revela muito bem que a porção mais pobre continua tão pobre como há duzentos anos, que neste intervalo surgiu uma classe média que aumentou sua participação na distribuição das riquezas e que os ricos, inicialmente, perderam participação, mas agora concentram mais retirando meios da classe média.

Mas tem um lado importante do trabalho do autor francês: o crescimento médio da economia mundial desde a revolução industrial (1700 a 2015) foi de 1,6% e metade deste crescimento (0,8%) devido ao crescimento populacional. Crescimento mesmo do PIB per capita foi de 0,8%.  Crescimentos mais acelerados só ocorrem em países se recuperando em relação aos outros ou após guerras destrutivas. Quer dizer: se for subtraída a parcela desnivelada e as perdas de guerra, o crescimento é muito menor.
A questão do crescimento, que faz com que uma geração tenha melhores condições que seus país é bem abordada pelo pensador francês, considerando níveis ótimos em torno de 1 a 2% e perigosa a ideia do crescimento zero, quando cada geração ficaria pior que seus pais. Não se esqueçam que crescimento nos termos estudados consideram aumento de população e do PIB real (riqueza sobre o número de pessoas existentes) e por isso taxa de crescimento demográfico zero ou negativa leva a mero consumo das riquezas já acumuladas.

Mas aí vem a questão central quando diz Pikkety: “Melhorar a avaliação e valorização do capital natural é uma questão central. A degradação do capital natural é um risco maior do que qualquer outro. Esta é a verdadeira dívida(...) O problema real é que não estamos em dívida com Marte, mas com o planeta Terra (...). No entanto, um aumento de 2ºC na temperatura do planeta em 50 anos não é apenas um jogo de palavras. E não dispomos de nada para resolver o problema do custo imposto ao capital natural.

E ele continua apontando a questão do meio ambiente na evolução e futuro do capital e seu crescimento: “É preciso levar em conta o que foi destruído, contabilizar o capital natural. Contabilizar o que é criado sem reduzir o que foi destruído é estupidez. Então a reportagem levanta com Pikkety que vivemos num impasse com um capital muito poderoso e uma impressa muito forte.

Pikkety responde - “Tendência passadas sugerem que as coisas podem mudar mais rápido do que imaginamos. A história da desigualdade, da renda, da riqueza e dos impostos é cheia de surpresas. O que vai acontecer ainda é totalmente incerto, e temos vários futuros possíveis. Além disso, há diferentes maneiras de resolver estes problemas: de forma mais ou menos rápidas, mais ou menos justa e mais ou menos cara”.



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