Com a invasão da Polônia pelos nazistas, os
judeus poloneses foram segregados no “Gueto de Varsóvia”, onde enfrentaram a
fome, o frio, o abandono, a tortura e humilhações de toda ordem, levando-os a
um corrosivo processo de aniquilação físico-psíquico-moral. A esperança de que
os aliados logo chegassem para por fim àquele diuturno martírio foi
paulatinamente arrefecida, ante o sadismo, a carnificina e à seqüência de
horrores praticada pelos alemães.
Para que lições fossem extraídas daquele
momento dantesco, Roman Polonski, ex “morador” do tal gueto (de onde
milagrosamente conseguiu fugir), houve por bem legar à posteridade um
“testemunho-reconstitutivo” daquela época, ao produzir o monumental filme “O
Pianista” onde, sem fugir dos horrores vivenciados pelos poloneses, centra a
narrativa numa tradicional família classe média (pai, mãe, dois irmãos e duas
irmãs).
À trama.
Após a invasão da Polônia pelos alemães,
literalmente forçados a tomarem um trem que os levará para uma tal de
“higienização” (em verdade, para o campo de extermínio de Treblinka) milhares
de polacos, a família Szpilman entre eles, é o próprio retrato da impotência e
do desespero. Wladyslaw Szpilman, um dos irmãos, famoso pianista da
Rádio de Varsóvia, no último momento, mesmo à revelia, é posto de lado por um
policial polonês amigo de infância. E vê, desesperado, pai e irmãos irem ao
encontro da morte.
E aí aumenta o seu martírio. Sozinho no mundo,
desempregado, sem eira e nem beira, sendo obrigado a carregar a “prova” da
inferioridade da raça judaica (uma faixa no braço com a Estrela de Davi),
Szpilman torna-se um morto-vivo a zanzar entre escombros e
cadáveres. Recolhido ao “Gueto de Varsóvia” e obrigado a trabalhar
numa unidade alemã, toma conhecimento e se engaja na formação de um grupo de
resistência aos alemães. Antes que sejam descobertos e dizimados, Szpilman, com
a ajuda de conterrâneos não judeus consegue fugir do gueto e é “escondido” no
mais improvável dos abrigos: um apartamento localizado exatamente no “coração
da toca do leão” (em frente a um Hospital alemão e vizinho da sede da Polícia
nazista). Da janela, assiste ao impiedoso massacre e à aniquilação do gueto
onde habitara. Com a passagem do tempo, finda sendo descoberto por uma vizinha
alemã; doente e desnutrido, foge e volta a zanzar pelas ruas.
Mas o destino de Szpilman apronta-lhe uma
surpresa: à procura de comida no que sobrou de uma suntuosa mansão, é
descoberto pelo solitário capitão alemão Wilm Hosenfeld que, surpreendentemente
cordato, lhe interroga amistosamente. Ao sabê-lo “pianista” profissional, desconfiado
coloca-o frente a um piano que, sem nenhum arranhão, escapara das bombas
nazistas e pede-lhe que... "toque". E aí, Szilpman, mesmo com sede e
faminto, parece entender ser aquele o seu “passaporte para a sobrevivência”,
sua senha para a vida: e extraindo do âmago da alma uma força descomunal até
então desconhecida, sob o olhar abismado do requintado oficial alemão mostra
toda a sua maestria e competência no manejo do teclado do nobre instrumento
(são exatos quatro minutos - uma eternidade numa projeção cinematográfica - de
uma verdadeira aula de como se tocar piano).
Visivelmente sensibilizado, o capitão alemão
não só NÃO O DENUNCIA, como o orienta a resistir um pouco mais, a manter-se
escondido, já que os russos se encontravam às portas da cidade e os alemães
teriam que bater em retirada. Pra eles, alemães, a guerra acabara. Oferece-lhe
o próprio casaco para amainar o frio e volta outras vezes trazendo-lhe comida e
pondo-o a par do desfecho do confronto.
Com a retomada da Polônia pelo exército russo,
Szpilman finalmente sai da toca e quase se dá mal por se achar “embrulhado” no
casaco do “amigo” alemão. Feito os esclarecimentos, é reconhecido como um polonês
e saudado efusivamente por ter sobrevivido ao extermínio nazista.
Após tudo normalizado, volta à Rádio de
Varsóvia e retoma sua verdadeira identidade de... “PIANISTA”. Morreu em
Varsóvia em 2000, sem que antes tenha conseguido “PAGAR” uma dívida
tanto antiga como eterna: conseguiu que o "amigo" alemão,
capitão Wilm Hosenfeld, que lhe salvou a vida, fosse postumamente
honrado... pelo poloneses.
Um filmão, filmaço, obra de arte, ou
qualquer outra definição que lhe seja mais apropriada.
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