ANJOS CAÍDOS
Eis que filho, sou o mesmo que o pai, de onde minhas
entranhas se originaram. E em nome do pai segui pelos campos construindo outras
casas semelhantes à dele. E em nome dele lutarei. Até mesmo morrerei pois onde
na terra ele não houver, nada mais de mim haverá.
Eis que no mundo os filhos do filho nascerão e ao
descendente jurarão obrigação de vida e morte. E neste passo entre uma geração
e outra, uma fenda abismal haverá. Nas duas margens o dilema de Babel se revelará.
De cada lado novas palavras substituirão as antigas. E as
margens de ambos os lados do abismo serão cultivadas e os rebanhos se
multiplicarão. Enquanto criação dividida se esquecerão.
Até que um liame dará passagem de uma margem à outra.
Neste dia Lúcifer decairá lá do alto, bem no centro deste
encontro dos descendentes. E sobre eles implantará o apocalipse de tal maneira, que tudo é justificativa, eu serei Pai e o outro Demônio. Não interessará a
verdade, apenas a pregação, que interpreta este encontro ao outro, como a luta
entre o bem e o mal.
E dançarão o rito macabro como polos oposto onde ora se é o Bem e ora se é o Mal. E tanto tempo o redemoinho de poeira se levantará, sem
que por muito tempo percebam, que a jura de luta e morte ao pai é a fornalha
desta falsa dualidade.
Uma vez que nos campos apenas novos canteiros floresceram.
EXPULSÃO DO PARAÍSO
E tu que te engasgastes com os pedaços deste fruto proibido.
E pelas veredas do paraíso andastes sem destino. Do plenilúnio à face escura da
lua. De nascente a poente. De verão à primavera.
Tantos passos.
E o suor do teu rosto escorreu.
Escorreu pelas depressões da face até revelar-se salino no
sentido do paladar. E assim compreender outro sabor que não aquele do fruto
proibido. E diante da nomenclatura de todas as coisas, compreendeu, pela
primeira vez, que seu próprio ser seria capaz de captar o movimento das partes
nomeadas.
A este movimento, entre o sabor do fruto e a salga de teu
próprio suor, chamou-se a virtude da expulsão do paraíso. E também compreendeu o
verdadeiro sentido da virtude.
Compreender a virtude deste movimento coloidal, que permanece
continuamente relacionando os nomes a predicativos, das engrenagens do paraíso.
O paraíso do qual não houve expulsão apenas teoria sobre a
realidade, ao invés de ser ela própria.
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