NUNCA VIRAM COISAS A GRANEL.
Uma reta asfaltada, motor turbinado, mais de 160 quilômetros
e as margens da via são apenas um turvo passar de algo que se admite sejam
vegetais. E foram horas nestas retas de correr tempo e reduzir paisagens.
E na margem da estrada tanta vida há.
Ele, um fruto exuberante da raça humana. O cheiro dos
sertões, o ímpeto de vergar o impossível, a aceitação do inevitável e o romper
cercas que tentam nos reter.
Ela, o mais suave pé no chão, um rosto de exprimir
divindades, cabelos de explodir sensualidade, uma voz suave e protetora como a
rendilhar minutos e tecer longos tapetes do amanhecer.
Um cão que caça, olha, parece revelar toda a complexidade
dos seres vivos. E quando nada se pensa, ele é certo que acontecimentos não são
pontos finais, apenas o ruído articulado pelos suspiros da vida.
E aos trancos e esborrachadas, a 160 quilômetros por hora,
os desta classe seguem. Saem de quatro paredes, sem olhar as margens, diretamente
para outras quatro paredes. E ali tramarão enriquecer ainda mais.
E como zumbis da pós-modernidade, com seus polegares
loucamente digitando, a cabeça dobrada sobre o tronco, eles correm pelas redes
sociais sem olhar as margens.
Não têm o gosto dos lábios dela ou dele e nem o olhar
adivinhado de um cão. São apenas margem.
Marginais dos novos tempos.
Nunca ouviram falar na Estrada de Canindé.
Pois é, pra quê?
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