domingo, 4 de outubro de 2015

A estética da arma de fogo

Ao assunto das mortes por arma de fogo. A primeira coisa pensemos nas armas como uma posse. Um objeto pessoal. Uma categoria de fetiche. De design. Misturada ao consumo como estas tecnologias digitais cada vez mais atraentes. Isso tudo se encontra nas séries de armas de fogo, especialmente as chamadas armas leves.
Em segundo lembremos o caso do cigarro. Desde que na abertura do Canal de Suez, para ganhar tempo dos trabalhadores, inventaram a máquina de fazer cigarro, que ele se tornou um objeto de consumo de massa especialmente na indústria americana. Afinal as grandes tabageiras se fundaram no Império Inglês e o americano, convenhamos, é apenas o mesmo transferindo ativos para a América do Norte.
Os americanos usaram a maior máquina de gerar consumo com o cinema. E foi no cinema, na estética do cinema, cenas preparadas para dar profundidade e estética ao ato de fumar. Aquele momento da reflexão, o charme da sedução, a virilidade masculina, o desafio da juventude, tudo isso foi usado para aderir o público ao consumo do cigarro.
E tem um fato mais criminoso ainda. As estratégias foram se adequando à faixa etária que aderia ao consumo. Quando esta baixou para menos de 18 a indústria não teve escrúpulo algum, avançou no estímulo específico. Humphrey Bogart e outros meninos transviados formavam a imagem. A tragédia é que Bogart morreu de câncer provocado pelo cigarro assim como o cowboy que era o homem de Marlboro.
Pois agora a indústria armamentista faz o mesmo no cinema. A estética da arma de fogo, fazer clics viris para encaixar a bala, as munições que destroem tudo à frente, o ódio, a vingança desenfreada, as acrobacias para atirar deitado, no ar, caindo, pulando com as balas saindo em câmara lenta e explodindo no "inimigo".
Enquanto no cigarro a estética se associava ao drama e às seduções de amor, agora é no ódio desmedido que a estética da arma se justifica. Por isso Hollywood tem feito tanto filme destruindo tudo. Com a queda das torres gêmeas a vontade de destruir tudo que se move e tudo que se encontra em pé se aprofundou na cultura americana.
Agora imaginem, o que esta estética faz com uma sociedade acumulativa, com uma meritocracia de faz-de-conta, onde o sucesso é sempre o revés, as insatisfações aumentam e o ódio cresce ao tentar explicar as permanentes derrotas da imensa maioria. Um estado permanente de culpa de terceiros pelo próprio fracasso.

Imaginem o que isso gera com a estética da arma de fogo. Especialmente na mão de quem já não consegue sair do estado de alienação do feitiço da mercadoria e da estética cultural da destruição ampla, geral e irrestrita.

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