Hermógenes
tinha dezoito anos quando cansou de tanger bode nos Inhamuns e se
mudou pra Fortaleza. Morou uns tempos na Casa do Estudante e mal
concluiu o ensino médio. Porém, em pouco tempo, num armazém da
Governador Sampaio, descobriu o caminho das pedras e passou de
empregado a patrão.
Ganhou
dinheiro, deixou o subúrbio e muitos doutores o invejam. Logo,
apartamento na aldeota era pouco. Vendo que poderia ter edifícios,
contratou engenheiro e começou a construir. Um dos seus prédios tem
elevador panorâmico. Ali, ele se mostra à cidade e gosta de vê-la
aos seus pés.
Mas,
Deus nunca dá tudo. Não fosse a mulher, a vida seria bem melhor.
Helena, metida à sabida e chegada à leitura, batizou sua única
filha, de Jocasta. Hermógenes adora a filha, mas ela não herdou
nada do pai. Gordinha, vesga e fanhosa, tem algum problema de cabeça:
já passou dos trinta, esteve em tudo que é colégio e não aprendeu
nada. Não desgruda do smartphone. Só quer saber de facebook, de
what´s up e de namoros virtuais.
A
filha há dias não falava com ele, mas ontem lhe surpreendeu. Disse
que o namorado está em São Paulo e virá conhecer o Ceará. Ela o
encontrou numa rede de relacionamentos. Com a crise da Grécia,
Xerxes imigrou para o Brasil. No celular, Hermógenes viu que ele é
baixinho, cabeçudo e careca; tem o queixo enorme, mas Jocasta nunca
esteve tão feliz.
Xerxes
fez imersão em português e os pombinhos já noivaram pela internet.
O casamento não deve demorar. Hermógenes está ansioso e não vai
deixar faltar nada. Imagina uma festa grega, com garçons de luvas
brancas e bandas tocando mesmo depois do sol raiar.
O
cerimonialista lhe orientou a assistir “Zorba, o grego.” Ele viu
a fita cem vezes, está se achando um Anthony King, mas, vai se
divertir mesmo, é com a quebra de pratos. Encomendou mais de mil e
não vai sobrar nenhum. Helena está satisfeita. Desde a época do
namoro, ela gosta de quebrar coisas. Na última briga, com ciúmes,
destruiu a cristaleira, o espelho da sala e a televisão.
E,
com essa ostentação, Hermógenes aposta que Xerxes o confundirá
com Onassis ao provar da cachaça com buchada de carneiro que virá
especialmente de Tauá: bom demais!
(*)
Demóstenes Ribeiro – Médico-Cardiologista, atua em Fortaleza e é
natural de Missão Velha-CE
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