quarta-feira, 15 de fevereiro de 2017
Geraldo queria um grande amor
Ribamar Junior
Anoitece em Craterdam e Geraldo deixou a colher cair no prato de estrelas. Rezou uma Ave-Maria ardente para Janis Joplin em novembro e partiu. Colheu sabonete jeans e Coca-Cola na terra Virgem Constelaçante e abriu o ferrolho do abismo. O dia 5 de fevereiro antecedeu o carnaval da rota de Urano e abriu caminho pelas gotas de leite do peito da Via-Láctea.
Conheci Urano por versos, papéis, fotografias e curtos vídeos de viagens do poeta. Conheci Geraldo pelo o que ele queria que eu conhecesse dele. Não olhei nos seus olhos ou muito menos apertei sua mão, ou disse o quanto gostava dos seus versos, ele gostava disso. O ano era 2013 e eu, ao lado das meninas do Estúdio Caravelas, Raquel Arraes, Fernanda Loss e Constance Pinheiro, participaram da produção da exposição Estação Urano na programação do 7º Festival Rock Cordel do Centro Cultural Banco do Nordeste de Juazeiro do Norte. O evento Uma Noite em Craterdam abriu horizontes para dentro do poeta que escreveu O Amor é uma Cãibra.
Eu vi Urano pela primeira vez cruzando o céu, de olhos fechados. A madrugada do dia 6, na sala 2 de velório, quatro pessoas velavam o corpo de Geraldo. O seu sobrinho, com os olhos fundos, também de poeta me recitou alguns versos ainda inéditos e disse que as últimas palavras de Geraldo, na cadeira de rodas do hospital, foi: “Me dê uma Coca-Cola”.
O refrigerante de cola era uma das bebidas preferidas de Geraldo Efe. O sobrinho, que não perguntei o nome, disse que nos últimos dias ele sentia falta de carinhos. Faltava que queria casar e com a primeira mulher que aparecesse. Geraldo queria ter um grande amor. Agora, ele esculpe a Era de Aquário, e apesar de ter ido para Veneza, onde morou, achou Deus e casou pela segunda vez, Urano queria um amor. Urano agora é azul. Não só fala de Nova Olinda como de Nova Orleans, fala do Cariri e entra para história da literatura de uma Crato cósmica.
Fonte: http://revistacharm.com.br/geraldo-queria-um-grande-amor/
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