domingo, 5 de março de 2017

Patativa, amigo e companheiro - por Carlos Rafael



Texto: Carlos Rafael Dias
Foto: Emerson Monteiro


Anualmente, o Centro Acadêmico do curso de História da Universidade Regional do Cariri – URCA, promove a Semana de História, com a realização de palestras, mesas redondas e outras atividades de cunho acadêmico-científico que versam sobre temas e questões pertinentes a esta área das ciências humanas. Para mim, é um evento permeado de muita afetividade, pois dele sempre participei, desde o tempo de estudante. Coube a mim, inclusive, relançar a Semana em 1994, quando fui chefe do Departamento de História da URCA.

Há cerca de uns dez anos, fui convidado pelos promotores da Semana para proferir algumas palavras na abertura do evento. Fiquei, então, a pensar no que iria falar naquele solene momento, mais ainda por se tratar também da abertura de uma exposição sobre Patativa do Assaré, figura icônica para todos nós caririenses. Repetiria os velhos e cansados chavões de que Patativa era um gênio literato, cuja obra era estudada nas maiores e melhores universidades do mundo? Ou diria que o poeta tinha sido em vida um porta-voz dos sertanejos desvalidos e injustiçados? Não, não diria aquilo ou isso. Daria um testemunho da minha convivência privilegiada com o homem e o poeta Patativa, pois sempre foi essa a minha relação com ele, mais de amigo e companheiro de militância cultural do que de admirador ou estudioso de sua importante obra. Falaria de Patativa como um participante do Salão de Outubro, mostra anual que realizávamos no antigo Parque Municipal do Crato, cujo ponto alto era o recital que ele fazia, encerrando a noite de sábado. Revelaria, até, o episódio em que Patativa foi instigado pelo poeta “marginal” Miró, vindo de Petrolina para participar do Salão de Outubro e que não se conformou com o monopólio de palco exercido por Patativa, que se alongava, como de costume, no seu recital. Miró também queria recitar e reclamou, com plenos pulmões, daquele “monopólio”. Patativa ouviu o protesto e fez um verso de improviso, convidando Miró para dividir o palco com ele. Miró atendeu ao convite e os que estavam no Parque naquela noite tiveram o privilégio de ouvir um recital que uniu duas gerações de poetas e dois gêneros de poesia, aparentemente díspares. Foi mais uma das inúmeras lições de humildade do poeta maior. Contaria, ainda, como Patativa fazia questão de colaborar com o nosso jornalzinho Folha de Piqui, nos dando a honra de publicar versos inéditos de sua lavra. Diria, enfim, de nossas frequentes visitas à casa de Patativa na cidade de Assaré, ali pertinho da Igreja Matriz, onde passávamos horas inteiras conversando e ouvindo-o recitar.

Foi o que fiz, em um ato que mais do que uma homenagem à Patativa pela sua antológica obra poética, foi um grato reconhecimento da sua importância em nossas vidas,

Patativa, além de um poeta fenomenal, um dos grandes da literatura universal, foi um homem íntegro, humilde, solidário, generoso, amigo e, em suma, um ser admirável. Portanto, sempre será um inspirador exemplo de vida pela sua profunda e honesta forma de viver.

Avis rara. Ave, poeta!

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