TEMER
PAROU DE FAZER XIXI, MAS MÉDICOS PESQUISAM POR QUE FAZ TANTA MERDA.
(José
Simão, humorista)
sábado, 28 de outubro de 2017
quinta-feira, 26 de outubro de 2017
“
300
PICARETAS” - José Nílton Mariano Saraiva
Lula
da Silva, quando eleito Deputado Federal (por São Paulo) não passou
de uma única legislatura. Enojado com o que viu, ouviu e vivenciou
no parlamento federal, deixou de concorrer a uma reeleição
garantida por entender que não daria pra conviver com uma “maioria
de uns 300 picaretas” com assento naquele verdadeiro prostíbulo (e
publicamente proferiu tal expressão a exatos 24 anos, em
setembro-1993). De lá pra cá, nada mudou e, até, piorou.
Perdeu
o parlamento e ganhou o Executivo, já que pouco tempo depois (na
terceira tentativa), elegeu-se Presidente da República, reelegeu-se
em seguida e, face uma administração voltada prioritariamente para
o “social” (sem esquecer as demais demandas), saiu com 87% de
aprovação e considerado um dos maiores presidentes que o Brasil tá
teve (na oportunidade, mandou o tal FMI plantar coquinhos, retirou o
Brasil do mapa da fome e de sobra nos premiou com o pré-sal).
Por
conta disso, fez Dilma Rousseff sua sucessora e a reelegeu quatro
anos depois. E aí, o resto todo mundo já sabe: por não tolerar a
corrupção desenfreada de mais de 300 picaretas (que fazem da
atividade política um rentável meio de vida, e só isso,
absolutamente isso) foi vítima do golpe
“político-midiático-jurídico” que a catapultou do poder, sem
qualquer base legal.
Com
a assunção dos comprovadamente ladrões Michel Temer e sua
quadrilha, dentro de muito pouco tempo o país se viu jogado à
sarjeta e de volta à condição de pária internacional, já que
ninguém mais nos respeita, ninguém mais tem interesse numa parceria
séria e de longo prazo, em razão da falta de credibilidade da
cambada de corruptos que tomou de assalto o poder.
Adiante,
flagrado na calada noite dentro da residência oficial negociando
com um empresário bandido o destino da própria nação, o meliante
que está Presidente da República (Michel Temer) foi denunciado pela
Procuradoria Geral da República por corrupção passiva, organização
criminosa, formação de quadrilha e obstrução à justiça, já que
antes diversos marginais de alta periculosidade a ele se referiram
como “chefe” de uma quadrilha e partícipe ativo de tenebrosas
transações. Não é pouca coisa, definitivamente.
Submetido
em duas oportunidades a julgamento dos malfeitos por parte dos
colegas “picaretas” com assento na Câmara Federal (que chefiara
antes, como presidente da Câmara) e, através do uso de generosas
“emendas parlamentares” (aquelas, em que o deputado embolsa
compulsoriamente pelo menos vinte por cento do valor, por dentro),
Michel Temer foi absolvido e desgraçadamente (para o país)
continuará no exercício da Presidência da República até o final
de 2018 (foram BILHÕES de reais para comprar, sem nenhum escrúpulo,
os votos necessários à sua pseudo “inocência”).
O
que restará do país após, difícil imaginar, já que a ordem é
liquidar tudo a preço de banana em fim de feira e o mais depressa
possível (só um exemplo: o pré-sal, nosso passaporte para o
futuro, está literalmente sendo “doado” às grandes petrolíferas
internacionais, depois do uso de tecnologia de ponta descoberta pela
Petrobras para acessá-lo).
Alfim,
convém não esquecer, NUNCA: tudo o que acontece nos dias atuais
deve ser creditado SEMPRE E SEMPRE às sarcásticas, preguiçosas,
sonâmbulas e corruptas excelências togadas do Supremo Tribunal
Federal (STF), que não obstaram o golpe quando do seu nascedouro.
Portanto, são corresponsáveis pelo quadro dantesco que atravessamos
na atualidade.
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Post
Scriptum:
Para
que não se olvide, e até como forma de, candidamente,
homenageá-los, segue a relação dos picaretas cearenses que votaram
a favor do Temer e quadrilha: Domingos Neto (PSD), Ronaldo Martins
(PRB), Macedo Júnior (PP), Raimundo Gomes de Matos (PSDB), Genecias
Noronha (SD), Moses Rodrigues (PMDB), Anibal Gomes (PMDB), Gorete
Pereira (PR), Waidon Oliveira (DEM) e Danilo Forte (PSB).
E
não esqueça, JAMAIS: em 2018 eles certamente vão querer “comprar”
seu voto. Você vai cair de novo nessa ???
sábado, 21 de outubro de 2017
NÃO
SERIA MELHOR O “TIRIRICA” ??? - José Nílton Mariano Saraiva
De
acordo com a Constituição Federal, qualquer brasileiro nato, com
idade superior a 35 anos e filiado a algum partido político, pode se
candidatar à Presidência da República.
Atravessando
uma das maiores crises da sua história, por conta do golpe
jurídico-parlamentar-midiático que depôs uma presidenta eleita
democraticamente, o Brasil tem eleições presidenciais marcadas para
o próximo ano (2018), daí a movimentação já ser intensa no
tocante aos possíveis candidatos que concorrerão.
Como
metade do mundo e a outra banda sabem, nos dias atuais o líder
disparado nas pesquisas é o ex-presidente Lula da Silva, que,
entretanto, pode ser impedido de concorrer em razão de uma possível
decisão judicial de um juiz de primeira instância, que lhe move
perseguição implacável já há um certo tempo, com esse objetivo
precípuo.
Como
o Brasil anda mesmo “chafurdado”, a novidade é que um grupo de
“ricaços” (inicialmente cerca de 10 pessoas) resolveu entrar pra
valer na disputa e, para tanto, se “cotizarão” com o objetivo de
patrocinar um certo curso de “formação política” de pessoas
que, ao seu entendimento, tenham “vocação” para a coisa, assim
como disposição para passarem pela “lavagem cerebral” que os
habilitarão à condição de “dóceis carneirinhos amestrados”,
preferencialmente na Câmara Federal (fala-se que a meta é “formar”
entre 100 a 150 futuros candidatos). Qualquer semelhança com os
métodos adotados pelo marginal Eduardo Cunha certamente não será
mera coincidência.
Antes
que alguém imagine que referidos “ricaços” estarão a jogar
dinheiro fora, preparem-se: tal “investimento” visa um retorno de
proporções amazônicas - a candidatura e presumível posterior
eleição de um deles à Presidência da República (e aí o tal
“investimento” não terá limites).
Para
tanto, já se propaga, desde agora, que o palhaço global das tardes
de sábado, Luciano Huck (aquele, parceiro de primeira hora do Aécio
Neves e que em seu programa na TV vive transformando “lata velha”
(carro velho) em “lata nova” (carro novo) para agradar pobretões
desvalidos), será o escolhido do grupo para a “missão”. Em
português claro e cristalino: tomar o poder e lá instalar-se por
tempo, é o objetivo maior do grupo.
Questiona-se:
por qual razão não “investir” no palhaço-pobre, Tiririca, que
já tem uma certa vivência em Brasília (e que seria mais fácil de
ser “manipulado”), ao invés do palhaço-rico (Luciano Huck),
acostumado a “manipular” os pobres ??? O que tem Luciano Huck a
nos oferecer, além da transformação de latas/carros-velhos ??? É
disso que o Brasil precisa ???
sexta-feira, 20 de outubro de 2017
O
“FUÁ” TÁ ARMADO – José Nílton Mariano Saraiva
Como
previsível, os mafiosos políticos com assento no Senado Federal
resolveram trazer de volta à ribalta o colega Aécio Neves, que
houvera sido afastado das suas funções naquela casa pela 1ª turma
do Supremo Tribunal Federal, em razão de ter solicitado e recebido
de um empresário bandido uma superlativa propina (“desprezíveis”
R$ 2.000.000,00).
Como
se sabe, a própria Constituição Federal determina que, em razão
de gozar do tal “foro privilegiado” (verdadeira excrescência
jurídica brasileira), não só o vagabundo Senador mineiro, do PSDB,
mas todos os políticos abrigados sob o “frondoso” guarda-chuva
do Congresso Nacional devem ser julgados obrigatoriamente pelo pleno
do STF.
No
entanto, covardes e medrosos como o são (e mostraram isso quando do
processo de impeachment da ex-Presidenta Dilma Rousseff, ao se
negaram a apreciar o “mérito” da questão, adstringindo-se ao
“rito”), os integrantes daquela corte tomaram a estapafúrdia
decisão de transferir/delegar aos integrantes do Senado Federal o
“poder jurídico” de decidir sobre o destino do colega (ou seja,
reverter a decisão do próprio STF). E assim, ao colocarem a raposa
dentro do galinheiro, abdicaram de um preceito constitucional que
lhes era garantido, ferindo de morte a nossa Carta Maior.
Se
tal atitude serve para firmar “jurisprudência” sobre (mafiosos
julgarem mafiosos), não há como confirmar, mas o certo é que já
existe uma movimentação da defesa de outros “políticos bandidos”
no sentido de reivindicar isonomia de tratamento para os seus
clientes (o tal do Eduardo Cunha já cogita de ter seu julgamento
revisto, não pelo Supremo Tribunal Federal, mas, sim, pela Câmara
Federal). Portanto, não duvidem que dentro em breve tal ocorra e
“Sua Excelência” saia da prisão rindo da cara de todos nós.
O
“fuá” tá armado. No que vai dar ninguém sabe. O que se sabe é
que a cada dia o brasileiro mais descrê do Poder Judiciário, face
às heterodoxas e suspeitas decisões daquele que deveria ser o
“guardião” da Constituição Federal, o STF.
Onde,
aliás, um dos seus membros – Gilmar Mendes - bate e assopra, faz e
desfaz, casa e batiza sem que os demais integrantes se insurjam ou se
contraponham. Ainda agora, por exemplo, se noticia que durante o
período em que esteve afastado do Senado o mafioso mineiro Aécio
Neves trocou mais de 30 mensagens eletrônicas com o dito-cujo, num
tempo relativamente curto. Do que trataram, não se sabe (convém
lembrar, entretanto, que meses atrás foi gravado um telefonema onde
o Senador pede ao Ministro que ligue para um outro parlamentar a fim
de convencê-lo a votar a seu favor numa matéria de interesse
próprio, no que foi prontamente atendido, com a posterior reversão
do voto do dito cujo).
Fato
é que, depois de tudo o que armou e fez, o político mineiro voltou
ao Senado sorridente e loquaz, jurando inocência (o que o povo
brasileiro viu na TV, em horário nobre, não aconteceu, foi só uma
“ilusão coletiva”). É ou não total falta de escrúpulo ???
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Post
Scriptum:
“Quando
a política penetra no recinto dos Tribunais, a Justiça se retira
por alguma porta” (François Pierre Guillaume Guizot –
1787-1874).
“Países
cujas Constituições permitem que os políticos tenham foro
privilegiado e que os próprios políticos nomeiem os juízes dessa
mesma Corte, são pocilgas, hospícios legalizados em forma de
nações” (José Márcio Castro Alves).
sexta-feira, 13 de outubro de 2017
CIRCO
DE HORRORES – José Nílton Mariano Saraiva
Sarcásticos,
Trapalhões e Frouxos, os integrantes da nossa corte maior (o pleno
do STF) que em tese deveria ser a última cidadela à qual a
sociedade poderia recorrer em busca de obstar os abusos perpetrados
por espertalhões e desonestos, mais uma vez nos ofereceram um
espetáculo dantesco, verdadeira comédia chinfrim, digna e
assemelhada aos mambembes circos periféricos de quinta categoria
(com o devido respeito aos circenses).
Se
bem que, nas preliminares, o observador um pouco mais atento já
poderia antever o desastre que resultaria da tal sessão plenária do
STF, quando a sua nauseabunda presidente, Cármen Lúcia, reuniu-se a
portas fechadas com os mafiosos presidentes do Senado, Eunício
Oliveira e da Câmara, Rodrigo Maia, com o objetivo explícito de
salvar da guilhotina o desonesto senador mineiro Aécio Neves, pego
no flagra negociando com o ex-empresário Joesley Batista uma
“insignificante” propina de R$ 2.000.000,00 (dois milhões de
reais), materializada a posteriori em malas e mais malas de dinheiro
vivo, entregues ao emissário-primo Fred Magalhães (as imagens
correram o mundo).
Na
sessão, deixando de lado a preguiça visceral que os acomete e
escondendo-se atrás da prolixidade e embromação que os caracteriza
(na perspectiva de enganar os incautos), suas “Excelências” nos
ofereceram aquele pavoroso circo de horrores que, alfim, resultou no
“acoelhamento” definitivo do Poder Judiciário ante o Poder
Legislativo (agora, definitivamente, acabou a lengalenga de que os
poderes da república são harmônicos e independentes entre si).
Em
português claro e cristalino: daqui pra frente, as “decisões
finais” (sem direito a recursos) do STF que envolvam os mafiosos
membros das duas casas legislativas (Senado/Câmara) serão
submetidas “in totum” e para sempre (em caráter definitivo) à
sanção dos próprios Senadores e Deputados. Ou seja, o
corporativismo já pode ser exercido em toda a sua plenitude e
deleteriedade, sem óbices nem amarras, já que chancelado pelo
próprio STF (portanto, preparemo-nos: a putaria vai continuar).
Atendo-se
ao famigerado e desonesto senador mineiro Aécio Neves, há que se
constatar que, com a porteira aberta pelas verborrágicas
“Excelências” do STF, sua absolvição e inocência são favas
contadas e, assim, durante o dia estará livre para tramar e
delinquir à vontade e sem maiores preocupações; à noite,
retornará/retomará às suas homéricas e festivas farras no Leblon,
bairro nobre da zona sul do Rio de Janeiro, onde de tão costumaz
(tem apartamento lá, embora seja senador por Minas Gerais), ficou
conhecido pela apropriada alcunha de “playboy do Leblon” (e olhem
que no Leblon o que não falta é playboy).
Mas,
por qual razão sermos tão exigentes com o “coitadinho”: afinal,
sem maiores esforços ele tem mais dois milhões de reais no bolso
pra “torrar” na noite carioca (naturalmente que em companhia do
primo Fred), oportunidade em que estarão a gozar à sorrelfa da cara
dos abestados (todos nós).
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Post
Scriptum:
O
retrato emblemático do baixo nível e da mediocridade latente do
atual STF nos foi dado quando da fala/voto da sua presidente Cármen
Lúcia: claudicante, insegura, gaguejando aos borbotões, sem
conseguir conexar alho com bugalho e tropeçando nas próprias
palavras, Sua Excelência conseguiu a proeza de não se fazer
entender até pelos próprios prolixos pares, tal a enrolada que
propiciou (foi mais de uma hora pra tentar explicar o inexplicável).
Fato triste e revelador de que, para se “chegar lá” (fazer parte
do tal Supremo), não se faz necessário o famoso “douto saber”
mas, tão somente, um “invisível”, mas poderoso, QI.
O
resto que se dane.
sábado, 7 de outubro de 2017
“SINUCA
DE BICO” - José Nílton Mariano Saraiva
No
ordenamento jurídico brasileiro, códigos e normas deveriam guardar
consonância com o explicitado em nossa Carta Maior (Constituição
Federal), a fim de garantir que não houvesse solução de
continuidade quando de sua aplicação no dia a dia.
É
a lição que podemos extrair da barafunda em que se tornou a decisão
da primeira turma do STF (cinco integrantes) de afastar o tucano
Aécio Neves da função de Senador da República, além de
determinar o seu “recolhimento domiciliar” à noite, por conta da
propina recebida do ex-empresário Joesley Batista (registrada em
vídeo).
De
pronto, os integrantes do Congresso Nacional (Senado/Câmara) se
insurgiram contra a decisão do STF, alegando que a Constituição
Federal não prevê a “prisão” de parlamentares, salvo em
flagrante crime inafiançável e, ainda, se for aprovada pelo
plenário da casa. Para tanto, dispostos estão em “peitar” a
decisão daquela Corte (desobedecendo-a).
Em
resposta, os componentes do STF que optaram por afastar o Senador e
“retê-lo” em casa à noite, anunciaram que a decisão fora uma
“medida cautelar” baseada no Artigo 319 do Código de Processo
Penal e, portanto, nada tinha de irregular. Ou seja, o tucano não
está “preso”, apenas e tão somente “retido” (você, aí do
outro lado da telinha, sabe qual a diferença ???).
Com
a controvérsia estabelecida, o pleno do STF (seus 11 integrantes)
reunir-se-á extraordinariamente na próxima semana a fim de decidir
se mantém a decisão da Primeira Turma (que se baseou no Código de
Processo Penal para “reter” o Senador) ou se privilegiará a
Constituição Federal (que proíbe a “prisão” de
parlamentares), e, consequentemente, reconduz o mafioso Senador às
suas funções, liberando-o para as farras noturnas, no Leblon.
Como
se vê, uma “sinuca de bico” para as prolixas e preguiçosas
Excelências do STF, porquanto de forma inexorável alguém sairá
literalmente desmoralizado após o confronto.
Agora,
aqui pra nós, que “demônio” protetor forte esse do bandido
Aécio Neves, não ??? Afinal, o cara foi pego no flagra, as malas de
dinheiro foram filmadas e publicizadas e ninguém arranja um jeito de
prender o indivíduo (por muito menos, Delcídio do Amaral foi banido
da vida pública).
segunda-feira, 2 de outubro de 2017
Ana,
o milagre - Dr. Demóstenes Ribeiro (*)
Agora, que estás a adormecer, lembro de tudo. Quando eu te dei
a comunhão, o mundo mudou para sempre e aconteceu o milagre. Enfim,
me convenci da bondade divina e fiz uma prece. Até então, só havia
a verdade dos outros e minhas certezas eram da boca pra fora, mas um
clarão iluminou o meu caminho e, comecei a viver.
Sabes que eu vim de uma família pobre, onde o padre ainda traz
prestígio e ascensão social. Por isso, quase menino, escolheram a
minha vocação e me mandaram pro seminário. Sofri em silêncio
tantas noites insones e escondi na barba grisalha a angústia de
representar esse papel.
Em nome de Deus – acho que concordas – se faz a hipocrisia
das religiões. Mas, não quebrei os votos e cheguei às bodas de
prata sacerdotais. E depois, transferido para a capital, naquela
paróquia simples, eu te encontrei.
E aí, houve o milagre. À tua espera, o meu coração batia
mais forte quando cumprimentava as pessoas na calçada da igreja
antes da celebração dominical. Contigo, tornou-se diferente o
aperto de mão e era outro, o olhar. Não mais, um tempo de chuva e
fez-se mais que sagrado, o instante da comunhão.
Um dia, conversamos brevemente antes da missa. Tu me disseste
quem eras e eu te convidei para trabalhar conosco. Corpo e alma,
desde esse dia nunca mais nos separamos. Afinal, trouxeste-me a luz
quando a noite principiava; ressurreição, quando a morte já estava
em mim; de novo a mocidade, quando eu já me sentia um ancião.
Eu sei que não esqueceste: após abandonar a batina e tudo o
mais, nós saímos sem destino e andamos à beira-mar. Ao anoitecer,
avistamos a igrejinha dos pescadores, entramos sem pensar e
assistimos à missa. Éramos dois estranhos no meio daquela gente.
Quando o padre falou que saudássemos uns aos outros, eu te abracei e
te beijei demoradamente, como alguém profundamente apaixonado. Por
um momento, o espanto de todos e depois a salva de palmas.
Logo, mudamos de bairro. Eu passei a dar aulas, caminhamos com
os mais fracos, e mais humildes, tentando traduzir no dia-a-dia a
vontade do Pai. De certa forma, introjetamos Rute: “aonde fores, eu
irei; e onde dormires, dormirei. O teu povo será o meu povo e o teu
Deus, o meu Deus!”
O descanso na rede, Cabral, Bandeira, Drummond...
Cinema, literatura e, às vezes, me provocavas com uma estória
picante... Um dia, ganhamos um prêmio e conhecemos a Europa.
Parecíamos mochileiros adolescentes naqueles trens e albergues. A
nostalgia em Lisboa, a bailarina andaluza... A Mona Lisa
sorriu pra mim e ficaste enciumada. E eu me lembro que em Veneza, um
solo de violino tocou profundamente a tua alma.
Senhor, por que a deixaste adormecer? Acorda, Ana! Os fogos
explodem na praia, é Ano Novo. Um outro mundo é possível e a vida
é bela. O espírito de Deus move-se sobre as águas e eu não quero
voltar à escuridão!
(*) Médico-Cardiologista