AS CIDADES VIVIDAS – NOVO EXU
As
cidades são corpos com vida. Isso quer dizer que se deslocam, são seres de
tempo, possuem sentimentos, guardam relações de afetividade e estranhamentos,
além de possuir uma inteligência que compreende as suas coordenadas no universo
das relações das coisas em geral
Quando
o viajante se aproxima de Novo Exu pelos lados da Chapada do Araripe ou flui contracorrente
pelo riacho da Brígida, naquelas jornadas transcendentais pelos afluentes do
grande Rio dos Cariris, duas visões ele tem.
Quando
no alto da Serra divisa todo o infinito pernambucano até a vista se encabular
por tanto espaço, que se dobra na curvatura do planeta, o viajante é tomado
pelos espíritos dos Buxixés que dominavam a cordilheira do Araripe. Há uma
sensação de vida e morte, uma dualidade de espinho e flor, um que fura e outro
que perfuma.
Se
pelas trilhas dos rios e riachos, vindos desde as barrancas e ilhas do São Francisco,
tem o viajante o espírito desbravador dos desconhecidos, o abrasador sentimento
de a tudo sobrepor, em alma e corpo, em catecismos e nas grafotecnias que atormentam
a mensagem de futuro. Aquele futuro que pula o tempo, que esgarça a grande
narrativa dos povos e cai no buraco do fatiamento da terra em glebas, que
produzem para as ondas navegantes dos oceanos.
Novo
Exu tem o sentimento síntese de todas as lutas da divisão da terra, das propriedades
das boiadas e do salto qualitativo das relações destas coisas, com a transformação
disso tudo em poder político, disputa, morte e vingança. Foi necessário que um
cantor das flores dos sertões se aproximasse das miras das armas para dizer:
agora é outro tempo, nada mais a mover a morte, nada há para a próxima camisa
ensanguentada.
Como
todos os seres vivos ela fez escolhas para marcar sua identidade. O Crato é
como um burgo medieval, necessita-se dele, mas além de educar os filhos, colocar
os excedentes da produção e se abastecer, a mais nada serve como plural. Ainda
hoje, o viajante atento, poderá ouvir o ranger de madeira dos velhos “mistos”
que saiam da feira do Crato às 13 horas, desembarcava nas ruas de Nova Exu,
assim como em Bodocó e se acalmava, nas horas primeiras da noite, em frente a
uma pensão em Ouricuri.
Traduza
toda a inteligência de Nova Exu no filão da Asa Branca, no rosto de lua de seu Luiz,
no banco de conversa no mercado, com o olhar de adivinhação para o talude
belíssimo da Chapada do Araripe. Nova Exu surpreende por ser Exu quando é Inxu,
por não ser África, nem América, tampouco Europa.
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