domingo, 24 de março de 2019

O "FUNCIONÁRIO" DO BOLSONARO - José Nilton Mariano Saraiva



Imagina-se que antes de decidir renunciar à magistratura federal para ingressar na política (já na condição de Ministro de Estado), o então juiz Sérgio Moro (naturalmente que com o apoio da digníssima esposa, também atuante na área jurídica, mas paradoxalmente suspeita de se achar envolvida em “tenebrosas transações” com o dinheiro público) pesou os prós e os contra de tão radical mudança.

No entanto, como houvera sido picado pela mosca azul, em razão do repentino “cartaz” obtido quando chefiou a tal Operação Lava Jato (quando “peitou” deus e o mundo, sem maiores consequências), optou por fazê-lo ainda durante a campanha do “coiso” à Presidência da República, na perspectiva de que, em lá chegando, teria a oportunidade de estender seus tentáculos  em outras áreas governamentais.

Para tanto, dispunha de um handicap poderosíssimo: um “banco de dados” dos mais completos (e não tão republicano) sobre milhares e milhares de brasileiros (principalmente da classe política), obtidos através de um aparato tecnológico digno dos FBI, KGB e CIA da vida, conhecido por “Guardião” (o mesmo que serviu pra gravar as conversas de Lula, Dilma e familiares, usadas ilegalmente para alavancar o tal impeachment).

Além do mais, e visando a agilidade necessária na operacionalização do próprio, convenceu muitos dos seus subordinados da Lava Jato para ajudá-lo na tarefa de “dizimar” de vez com a classe política (se necessário), conforme já preconizara lá atrás em artigo sobre a Operação Mani Pulite, ocorrida na Itália na década de 90, e que lhe serviu de “catecismo” quando elaborou a Lava Jato, a saber:

“No Brasil, encontram-se presentes várias das condições institucionais necessárias para a realização de ação judicial semelhante. Assim como na Itália, a classe política não goza de grande prestígio junto à população, sendo grande a frustração pelas promessas não-cumpridas após a restauração democrática. Por outro lado, a magistratura e o Ministério Público brasileiros gozam de significativa independência formal frente ao poder político” (ipsis litteris).

Portanto, não se constitui surpresa nenhuma que, no primeiro “arranca-rabo” com a classe política, via discussão pública com o Presidente da Câmara Rodrigo Maia, em razão deste não priorizar e colocar em votação o seu projeto sobre a reforma do Código Penal, Sérgio Moro haja “lembrado” a todos que Maia fora citado numa das delações da Petrobras.

Aparentemente sem se intimidar com o “recado”, Rodrigo Maia partiu para o ataque e devolveu na mesma moeda, ao afirmar que Sérgio Moro não passava de um “funcionário de Bolsonaro” e que o projeto em questão seria discutido com Bolsonaro e não com ele, Sérgio Moro, já que sem competência para tal.

Fato é que o “fuá” tá armado, e em Brasília muitos lembram que quando aceitou ser Ministro da Justiça Sérgio Moro possivelmente já houvera combinado  com o “coiso” que seria uma espécie de “nuvem passageira” na Esplanada dos Ministérios, já que para ele e seis seguidores já estaria reservada uma vaga no Supremo Tribunal Federal ou - por que não - uma concorrência à própria Presidência da República, já em 2022.

A pergunta que se impõe, então, é: será que até que isso aconteça (Sérgio Moro no STF ou candidato à presidência) ele conseguirá convencer o “coiso” a reverter a decisão do Presidente da Câmara de só colocar em votação seu projeto sobre segurança após a votação da questão da Previdência ??? Ou ficará “engolindo sapo” até lá (o que não condiz com a sua personalidade autocrática e personalíssima) ???

Há que se considerar, ainda, que, além de não ser dado a “dar murro em ponta de faca”, Sérgio Moro está compromissado com os colegas da Lava Jato que “empregou” no Ministério da Justiça (também renunciaram aos cargos ???) daí nem pensar em “tirar o time” antes do tempo regulamentar.

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